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Colunista e comentador

"Como não falamos de despedimentos nos setores da metalurgia ou da panificação, ou Schmidt arranja soluções ou… prove lá que ama o Benfica"

5 mar, 18:58

Caro Roger Schmidt,

A paciência (dos adeptos do Benfica) tem limites.

Sou a favor da estabilidade e da ideia de que os responsáveis não podem ser emocionais como os adeptos, mas, repito, há limites para tudo, sobretudo quando se percebe a inabilidade e o descontrolo.

Estou muito à-vontade porque elogiei sempre a sua abordagem ao Benfica, a forma como na época passada colocou o Benfica a jogar, quer na Liga portuguesa, quer na Liga dos Campeões.

O Benfica foi campeão e podia ter ido até mais longe na Champions através de um futebol galvanizante, que a todos convenceu.

Por isso, até sugeri a renovação do seu contrato (exatamente porque estava a dar muito nas vistas na Liga dos Campeões) e o Benfica precisava de estabilizar um projeto ao qual se lhe podia identificar coerência, solidez, correção e liderança desportiva, liderança desportiva essa que pudesse ajudar a consolidar uma nova liderança diretiva.

Não retiro uma palavra ao que disse porque tudo tem um contexto e os méritos foram evidentes.

Em nome da honestidade intelectual, ninguém pode ou deve apagar o que de bom foi feito nessa primeira época.

Mas há limites e, refiro, a paciência esgota-se.

Com menos fez mais. Com muito mais, está a fazer muito menos.

Até ao momento, no seu consulado, o Benfica gastou mais de 200M€ em aquisições. O FC Porto menos de metade desse valor. E o Sporting cerca de metade desse valor.

Tenho a convicção de que você não é o único culpado (o Benfica tem um presidente que percebe de futebol, bolas!) e as questão da substituição do Grimaldo e do Gonçalo Ramos tornou-se na Luz um assunto para a NASA. A complexidade é assim tão grande?!…

A partir daqui, a partir de uma questão tão elementar numa equipa de futebol (planeamento e scouting a funcionarem simultaneamente), o plantel do Benfica tornou-se num quebra-cabeças para si.

Você passou a ser o Mister Quebra-Cabeças,  porque no seu jogo de tabuleiro (e também no relvado) há sempre uma peça que não encaixa. E o pior e que dá a sensação de que faz tudo para as não encaixar.

E, por amor de Deus, não me venha dizer que não tem responsabilidades nisso porque as tem.

Mesmo num tempo de polivalencias, um lateral é um lateral. Um central é um central. E jogadores adaptados ou inadaptados fazem uma equipa sentir-se e revelar-se INADAPTADA.

Esta coisa de andar a girar jogadores, para além de dar uma tremenda dor de cabeça e esgotar o stock de aspirinas  na farmácia, rouba-lhes a confiança. E isso não faz sentido e, futebolisticamente falando, não faz sentido nenhum.

Eles até podem mostrar sinais ou aumentar o rendimento (casos de Marcos Leonardo ou Arthur Cabral), mas você está sempre — como na música do Quim Barreiros - a tirar e a pôr o carro na garagem da vizinha.

É impressionante! Os desempenhos frente ao Sporting e FC Porto não são de uma equipa campeã. São de uma equipa sem líder.

Mister, não é a primeira vez nem será a última que, com mais investimento, um treinador não consegue fazer uma segunda época na senda da primeira.

No caso do Benfica, o pior são as consequências: investimento não correspondido, menores receitas e confiança abalada.

O futebol é das poucas actividades em que os despedimentos podem ser uma boa notícia para os treinadores. Por isso, se um despedimento para um funcionário no setor da panificação ou da metalurgia, ou noutro qualquer, deve perturbar qualquer um de nós, no futebol dos milhões e das indemnizações as penas são só as das galinhas.

Muitos já resolveram a vida com as benditas chicotadas e, portanto, sequemos as lágrimas.

À chegada, disse: “se amamos o futebol, amamos o Benfica”.

Neste momento, e com todo o respeito, e se não conseguir repor as energias coletivas já na quinta-feira, frente ao Rangers e se ama, de facto, o Benfica, faça-lhe um favor: facilite-lhe a vida.

Não ha um adágio popular que diz: “Amor com amor se paga?!”…

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