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Colunista e comentador

"O FC Porto precisa de ter futuro e, em Abril, é vital que se reencontre com a liberdade. Eleições verdadeiramente livres serão a sua principal vitória"

26 mar, 16:37

Faltam 32 dias para as eleições do FC Porto, as primeiras eleições em que Pinto da Costa — ao cabo de 42 anos de presidência — conta com uma verdadeira oposição, a de André Villas-Boas.

Ainda não são conhecidas as listas completas de ambas as candidaturas mas já se percebeu que Pinto da Costa teve de fazer algumas concessões, deixando cair Adelino Caldeira e Fernando Gomes, a face mais criticada da actual administração e fazendo entrar António Oliveira, Marta Massada e João Rafael Kohler, observado como linha direta de sucessão de Pinto da Costa, se este vencer as eleições e se, por qualquer razão, interrompa o próximo mandato, embora os estatutos prevejam a cooptação de um dos 6 vice-presidentes e não, de imediato, a marcação de novo acto eleitoral.

Num clube de futebol, os resultados mandam e, neste aspecto, Pinto da Costa não teve o vento a favor, porque está longe do objectivo principal (a 6 pontos do Benfica e a 7 do Sporting, que podem ser mais, uma vez que os ‘leões’ têm um jogo a menos), embora até ao dia das eleições ainda possa chegar à final da Taça de Portugal, para além de ter usufruído do impacto resultante da goleada sobre o Benfica, no começo deste mês.

Há um “Abrilão” para o FC Porto, com os jogos frente ao Vitória para a Taça de Portugal, mas até ao dia 27 de Abril, data das eleições, o FC Porto conta com 3 jogos no Dragão, dois dos quais com os vimaranenses, e, no dia a seguir ao acto eleitoral, a equipa de Sérgio Conceição recebe o Sporting, num jogo quiçá decisivo para as contas do campeonato.

Pinto da Costa tem a seu favor a transformação que conseguiu fazer no FC Porto no século passado, principalmente nas décadas de 80 e 90, que lhe permitiram entrar com fôlego e confiança neste milénio.

Todavia, o facto de ter insistido nos últimos anos nas mesmas lógicas de antanho (indiferença sobre o desequilíbrio financeiro, que só foi motivo de preocupação perante o acendimento das luzes vermelhas; apelo à união através da diabolização dos adversários e do resto do País e mobilização das claques, fazendo com que elas fossem, com os perigos inerentes, o escudo protetor das políticas e das estratégias da Administração e do presidente) desgastaram-no muito e deixam-no numa posição incómoda, quando quer fazer passar - com a ajuda de António Cunha Vaz - a ideia de mudança.

Acreditando na eternidade que não existe para ninguém, Pinto da Costa falhou o “timing” da sua sucessão e, habituado a que ninguém verdadeiramente de peso lhe saísse ao caminho, expô-se em demasia, exposição essa que afirma sem receios aos dias de hoje.

Mesmo que formalmente e neste passo das investigações a cúpula do FC Porto não tenha sido atingida, repito formalmente, é óbvio que a “Operação Pretoriano” e os acontecimentos na Assembleia Geral que a desencadearam constituíram um forte abanão num dos pilares estratégicos de Pinto da Costa — a mobilização das claques como garante da manutenção do status quo do seu FC Porto.

É, quer se queira quer não, um pedregulho no sapatão de Pinto da Costa.

Como não é fácil para Pinto da Costa fazer valer a ideia de pujança e de renovação, também não é fácil para André Villas-Boas fazer passar a ideia de que não ser louva-a-deus não é necessariamente, em democracia, uma blasfémia. Pode ser um acto de coragem (e não tenho dúvidas de que montar uma candidatura desta envergadura neste contexto é um acto de coragem) mas não é uma blasfémia.

Pinto da Costa tem todo o direito de se recandidatar, embora tivesse levado tempo a mais para organizar a recandidatura, como André Villas-Boas tem todo o direito de querer chegar à presidência com um programa alternativo.

E ao nível de tensão que se acha na actual campanha, é importante perceber quem vai liderar o FC Porto no próximo quadriénio, mas é pelo menos tão importante perceber que condições de governabilidade vai ter o próximo presidente, em função da natureza da campanha que está em curso com Pinto da Costa e André Villas-Boas envolvidos em picardias escusadas, cuja factura será sempre o FC Porto, no seu todo, a pagar.

Não nos esqueçamos que André Villas-Boas apoiou Pinto da Costa em 2020 para este mandato como Pinto da Costa, em 2011, considerou que André Villas Boas — e passo a citar — “é tão portista como eu”.

Estas eleições do FC Porto marcam a história do clube, mas podem marcar a história do futebol em Portugal, com repercussões na Liga e na FPF.

É muito importante que, num universo de 70 000 sócios que estarão habilitados a votar, os cerca de 20 000 que se estima, numa perspectiva optimista, poderem acorrer às urnas no próximo dia 27 de Abril, o façam de uma forma verdadeiramente livre.

Entre todas as vitórias que se possam alinhar, a mais importante será a da liberdade, dois dias depois da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril.

Sublinhando a importância que o FC Porto tem e deve continuar a ter no futebol em Portugal, é preciso ter bem presente que o FC Porto não terá futuro se não se reencontrar com a liberdade.

NOTA - Dão-me como certa a continuidade de Vitor Baía e Luís Gonçalves na estrutura nuclear do futebol portista, ao lado de Pinto da Costa. Quer dizer: o presidente do FC Porto acredita em João Rafael Kohler para fazer as mudanças necessárias no plano da gestão financeira e acredita que, se vencer as eleições, o eixo Luís Gonçalves-Sérgio Conceição-Vítor Baía constituirá a fórmula certa para recuperar o título que perdeu em 2022-23 para o Benfica.

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