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A mensagem para Rui Costa: "C. Boaventura? Não pode ficar a mínima dúvida de que este Benfica não está nem do lado dos bandidos nem do lado dos ladrões"

27 fev, 16:43
Rui Costa na Assembleia Geral (fotos: SLB)

Rui Santos escreve ao presidente do Benfica

À pergunta… “Acredita que César Boaventura tenha agido sem a cobertura do Benfica?”, a partir da qual quisemos apurar qual a convicção do público sobre as ações que condenaram César Boaventura por corrupção activa e ilibaram o Benfica de qualquer envolvimento criminal, a maioria — mais exactamente 58% — respondeu “NÃO” e 42% respondeu “SIM”.

Não custa a acreditar que esta seja a percepção geral.

Factual é que o tribunal condenou César Boaventura a 3 anos e 4 meses de prisão com pena suspensa por crimes de corrupção ativa no desporto.

Como escrevi neste site da CNN, em 29 de Março do ano passado, num artigo intitulado “Os ‘Boaventuras’ e o “Reino dos Parasitas”, “a saga parasitária em Portugal é enorme: (…) estas figuras só existem porque lhes dão palco e serviços”.

E este é o ponto: por que razão César Boaventura se insinuou utilizando o nome do Benfica? Não terá sido porque - no âmbito das suas intervenções públicas e privadas - Luís Filipe Vieira, então presidente dos encarnados, lhe deu, no mínimo, uma confiança abusiva e acima de qualquer racional de ética e integridade.

Mesmo que não haja nenhuma prova de que os serviços tenham sido encomendados ou por Vieira ou por qualquer figura da estrutura directiva do Benfica, quem é que deu asas a César Boaventura para voar e utilizar, quando quis, o nome do Benfica, sem um travão e até uma palavra de censura que indiciasse algum ou total distanciamento?

Tragicamente, para o futebol português, entre os clubes dominantes, não existe uma cultura de separação do trigo em relação ao joio.

E por isso aparecem os Boaventuras e os Catões, suportados por aqueles que deveriam ser os primeiros a cortar com avanços até de natureza comunicacional (muitas vezes em forma de ameaça), a ensaiarem este tipo de servicinhos que são um atentado à reputação de emblemas que ostentam o estatuto de utilidade pública e são confundidos com a imagem de Portugal.

Não sei se Luís Filipe Vieira tem algum peso suplementar na consciência (provavelmente, não, achando que o futebol “é isto mesmo!”) mas, mesmo não se tendo provado que alguém do Benfica tenha pedido a Boaventura para “comprar” jogadores, atapetando o caminho até ao titulo em 2015-16, há silêncios que, em situações destas, NUNCA (mas NUNCA) se deveriam produzir.

Por isso… não posso deixar de dirigir uma palavra ao actual presidente dos encarnados que, à data dos factos, era na Luz director desportivo e administrador da SAD.

Caro Rui Costa,

Eu sei que quando estamos na mesma instituição e convivemos com pessoas cujos acções, ideias ou decisões nem todas validamos, nem sempre é fácil estabelecer o equilíbrio entre o compromisso e a cumplicidade.

Já todos percebemos no tempo do vieirismo o elevado grau de omissões.

Talvez se possa dizer que “fazer de morto” teve a compensação de abrir as portas da presidência do Benfica.

Talvez seja um abuso ou um sonho analítico da minha parte mas acredito que o futebol em Portugal será melhor quando os clubes tiverem na sua liderança presidentes que não tenham dúvidas nenhumas em não dar proteção a gente muito pouco recomendável que querem fazer dinheiro de qualquer jeito.

Por isso, caro Rui Costa, passado o tempo suficiente de adaptação à nova função presidencial (quase 2 anos e meio), é o momento de se perceber que, para se ser um bom presidente do Benfica, não basta olhar para o lado desportivo.

É preciso não ter contemplações em relação aqueles que utilizam o clube ou o seu bom nome para promover práticas ilícitas.

Gostava de ter visto o presidente do Benfica, neste processo, a demarcar-se totalmente (repito, TOTALMENTE) dos activos corruptores desta vida.

Marcar uma posição INDISCUTÍVEL E INEGOCIÁVEL sobre o valor e a defesa da Verdade Desportiva.

Assim é pouco, Rui. Não pode haver NENHUMA dúvida de que o Benfica, este Benfica, não quer o caminho da bravata.

E o silêncio deixou essa dúvida.

Espero, Rui, que ainda haja tempo e espaço para uma palavra sobre um tema que é tão ou mais importante do que a renovação, ou não, do Rafa ou a desconstrução da maldição dos defesas esquerdos.

Às vezes é preciso dar um murro na mesa, sobretudo quando se percebe que a impunidade está a ser acossada.

O que faz com que o Benfica não lidere, indiscutivelmente,  este processo de aquisição de maior transparência?

Não podem ficar dúvidas nenhumas de que a resposta a esta pergunta sejam os rabos de palha.

Já basta o que basta e o Benfica não pode continuar a adiar o seu papel decisivo na verdadeira transformação do futebol português. É preciso ter a certeza absoluta de que o Benfica de Rui Costa não está nem do lado dos bandidos nem do lado dos ladrões.

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