Ler está a ser finalmente "uma coisa fixe". Por isso: torne-se fixe ou mantenha-se fixe (Rita da Nova tem conselhos)

CNN Portugal , ARC
11 jun 2023, 19:00
Rita da Nova

E a leitura está a "tornar-se comunitária". Porque agora há Instagram e TikTok a puxarem por ela. E parece que isso é fixe. E está a funcionar: há mesmo mais gente a ler, dizem os números

Livros organizados nas estantes da sala, livros empilhados no pequeno sofá do escritório, livros soltos em cima da secretária, livros por todo o lado. São mais de 700 organizados por ordem alfabética, de todas as cores, tamanhos e grossuras. Na secretária do pequeno escritório, algumas obras dividem o espaço com o computador ligado onde está aberto o documento com dez páginas escritas e preparado para ser retomado a partir da frase que ficou a meio. A água fresca obrigatória para o processo criativo está ao lado na garrafa cor-de-rosa e o mapa de história bem estruturado, onde consta o enredo da nova história de Rita da Nova, destaca-se colado na parede no meio de todo o branco. É neste cenário que escreve Rita da Nova, criadora de conteúdos digitais e recente jovem publicada. Tem 31 anos.

“Está a ser horrível escrever o segundo livro.” Agora há “pressão” que sente depois de a primeira obra de ficção que escrever ter arrastado centenas de pessoas para as livrarias e conquistado os tops de vendas de vários estabelecimentos. Tem um livro de não-ficção que coescreveu com o marido Guilherme Fonseca, baseado na lógica do podcast que produzem, mas Rita da Nova estreou-se a solo na carreira de escritora com “As Coisas Que Faltam”, a primeira obra de ficção que saiu do pequeno escritório apetrechado de livros.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Este novo livro é “completamente diferente” do primeiro mas é fiel ao tema predileto de Rita da Nova - a construção da identidade. Se em “As Coisas Que Faltam” criava uma história de “ausência parental”, no novo manuscrito, que ainda só é composto por dez páginas, quer descobrir “quando é que somos mais nós”, conta, sem desvendar mais pormenores.

Diz que descobriu muito cedo quem era ela própria - aconteceu quando percebeu que “gostava de escrever”. Mas o “salto” para fazer disso vida, como lhe chama, não foi imediato. “Escrever livros não é uma carreira que pareça tão atingível porque não há um curso que se possa tirar e que nos habilite a escrever.” Passou pelas áreas do jornalismo, do marketing e da publicidade, que ainda não deixou totalmente. O “salto” está dado, mas para ser “encarada como uma jovem escritora” precisa de “ter muitos mais livros e solidificar a carreira”. “Tenho muitas histórias para contar”.

Gosta de escrever, mas ler também tem um lugar no seu coração e na rotina diária - lê “quase todos os dias”. Desde que se lembra que os livros são “uma grande companhia”. “Ler sempre foi uma coisa que queria fazer quando não sabia.” Aprendeu a ler quando estava na escola primária há apenas dois meses, mas bem antes disso já fazia intenção de começar e fingia que o sabia fazer. “A minha avó contava-me histórias, eu decorava-as e depois ia contá-las às pessoas e, quem não soubesse, acharia que eu sabia ler. Até decorava quando virar a página.”

Desde então não parou de ler porque esse hábito proporciona a capacidade de “viver coisas que de outra forma não viveria”, aliada a uma participação nas histórias por meio da “imaginação”, o que, para Rita da Nova, é “a coisa mais mágica que pode haver”. Apesar de considerar que a leitura continua a ser “uma chatice” para muitos, a “magia” de que a escritora tanto fala tem levado os portugueses a não largarem os livros, com as vendas a subirem 13% até março face aos três primeiros meses do ano passado.

“Portugal está a ler mais, os jovens estão a ler mais e ler está a ser finalmente uma coisa fixe.” Diz que para isso contribuem os criadores de conteúdos, grupo em que se insere, porque que estão a “conseguir mostrar que ler pode ser muito divertido”. A explosão das partilhas de leitura no digital, essencialmente nas redes sociais TikTok e Instagram, é “positiva” e contribui para a “normalização” do tema: “Quanto mais falarmos de livros, mais as pessoas vão ler”.

Para Rita da Nova, o “boom” que tem incentivado à leitura está também a quebrar o que chama “endeusamento da leitura”, motivo pelo qual “ler não se tornou uma coisa tão apelativa” até ao momento. Este “endeusamento” reside na ideia de que “ler é uma coisa muito culta, muito séria”, que incentiva à leitura dos livros “clássicos” e “rejeita” todos os outros. A criadora de conteúdos, que lê um “bocado de tudo” - desde autores Nobel como José Saramago até escritoras best-seller como Emily Henry ou Taylor Jenkins Reid, que “conseguem puxar novos leitores” - acredita que existe “um livro certo para cada pessoa”.

São estes alguns dos objetivos que persegue nas plataformas digitais, onde fala continuamente sobre livros. Partilha desde 2017 num blogue as leituras que faz - o que inicialmente era um simples “registo de leituras” foi crescendo para a página de Instagram, onde já conta com mais de 23 mil seguidores. Mais recentemente, e de forma “mais consciente”, juntou-se à amiga Joana da Silva e criou o podcast “Livra-te”, onde semanalmente partilham experiências de leitura. O “bichinho” pelo formato áudio já lá estava desde a criação do podcast “Terapia de Casal”, com Guilherme Fonseca.

A leitura - que sempre foi solitária para Rita da Nova - tornou-se “comunitária”. A menina que, depois de brincar, se recolhia no quarto a ler tornou-se uma “falsa extrovertida”, como gosta de dizer, porque estar em casa rodeada dos mais de 700 livros espalhados por todo o lado e pelos felinos que dormitam na janela ou passeiam pelos quatro cantos é o cenário ideal para ler e escrever.

Conselhos de Rita da Nova para se tornar fixe (ou seja, para ler habitualmente)

Quantas vezes já colocou “ler mais” na lista de objetivos durante a passagem de ano e não cumpriu? Não adie mais. 2023 ainda pode ser o seu ano. Rita da Nova aconselha isto:

1. Tente vários tipos de livros até encontrar o tal

É certo e sabido que não gostamos todos das mesmas coisas. O tipo de livro certo para uma pessoa pode ser o maior pesadelo de outra e, se ainda não descobriu esse tipo de livro certo, não desespere. Já experimentou pensar “Que tipo de filmes gosto?” e a partir daí partir à descoberta de livros? Esta é uma das dicas de Rita da Nova. Mas atenção: não desmotive à primeira tentativa falhada. Se não está a gostar de um livro, feche e siga para o próximo. Folheie livros nas livrarias e continue a tentar encontrar o “tipo certo” para si.

2. Reserve um tempo do seu dia para a leitura

Sabe aquele momento do dia em que não tem interrupções? Aqueles dez minutos enquanto toma o pequeno-almoço? Reserve-o para ler. Não se preocupe se são dez minutos porque não precisa de mais, diz Rita da Nova. A leitura não deixa de ser um hábito e, como qualquer outro, “só se cria se tivermos consistência e formos todos os dias criando esse hábito”. Os dez minutos de hoje podem transformar-se nos trinta de amanhã.

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