Moda, preocupação ambiental ou preços mais simpáticos: compra e venda em segunda mão tornou-se um mundo e já “arrasta” livros usados para grandes superfícies

CNN Portugal , ARC
4 jun 2023, 16:00
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Os livros usados começam a chegar a grandes superfícies. Para seguir uma tendência, preservar o ambiente ou não causar estragos na carteira, as razões para comprar são muitas. Motivos para os vender também não faltam

Já se sabia que os negócios de roupa em segunda mão estão a ganhar cada vez mais terreno e que, com o galopar da inflação, o mesmo está a acontecer no mercado tecnológico. No que toca a livros usados sempre os pudemos encontrar nos tradicionais alfarrabistas, mas o contributo das grandes superfícies nesse mercado estava ainda por descobrir.

A marca FNAC abriu o caminho para explorar essa tendência ainda desconhecida em abril, com a inauguração do primeiro espaço alfarrabista na loja do Chiado, em Lisboa. Desde livros de história até banda desenhada, há um pouco de tudo, mas um tudo bastante raro, já que nas prateleiras se encontram “livros que já não estão no mercado e coleções que deixaram de ser editadas”, conta Francisco Chaveiro, diretor de produtos editoriais da marca à CNN Portugal.

“Dar uma segunda vida” às milhares de páginas que outrora foram muito folheadas, mas com o passar do tempo se ficaram pelas prateleiras e tornar o mercado mais sustentável são os objetivos da iniciativa, não esquecendo a oportunidade de “dar aos leitores acesso a mais leitura”, como refere Francisco Chaveiro. Mas o que “empurra” os consumidores para comprar livros usados?

Nos alfarrabistas a venda de livros usados já era tradicional. Em feiras populares também, como relembra José Manuel de Vasconcelos, vice-presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE). Os livros são mais baratos, o ambiente agradável e as vendas dão-se. E nas grandes superfícies?

O diretor de produtos editoriais da FNAC fala numa “oferta e  procura por algo que não está no mercado” como um fator crucial, que dá ao cliente um maior leque de escolhas. Ao mesmo tempo, para Diogo Martins, jurista da DECO, a crescente “consciência ambiental” do consumidor abre uma porta a este mercado, a par do preço nem sempre simpático dos livros por estrear. 

“Muitas vezes o cliente não tem capacidade para adquirir um produto novo e encontra um produto em condições muito próximas das dos novos”, acrescenta Francisco Chaveiro, indicando que, no primeiro espaço alfarrabista da marca, os livros variam entre os três e os 30 euros. Outras vezes, realça Diogo Martins, o “padrão” da compra e venda de produtos usados incentiva outras pessoas a experimentar e “começam a gostar”.

Moda, preocupação ambiental ou preços fora do orçamento, a verdade é uma: “Quem mais lê são as camadas mais jovens, muito pela ajuda do TikTok”, afirma o jurista da DECO, Diogo Martins. De acordo com Francisco Chaveiro, a chegada do negócio de compra e venda de livros em segunda mão na loja está relacionada com o crescimento do setor livreiro no país. 

Dados da GFK mostram que os portugueses compraram 2,8 milhões de livros até março, uma subida de 13% face aos primeiros três meses de 2022. O vice-presidente da APE, José Manuel de Vasconcelos, confirma que em Portugal se está a ler mais agora do que há 20 anos, mas, se recuarmos ao período que antecede a Revolução dos Cravos e até um pouco depois, os números ficam ainda atrás desse passado remoto. “Portugal nunca foi um país onde se lesse muito”, considera, mas não perde a “esperança”.

A marca FNAC embarcou no que acredita ser “o primeiro passo” de uma “grande viagem”, já com novas paragens marcadas para o mês de junho. Diogo Martins, o jurista da DECO, acredita que em breve outras grandes superfícies podem embarcar nesta aventura. Já o vice-presidente da APE, embora cético nesse campo, avalia uma expansão aos super e hipermercados como positiva, já que estes espaços são meios mais fáceis de chegar a “quem não tem contacto com a leitura”.

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