Esqueçam os influenciadores. Vêm aí os “desinfluenciadores”

CNN , Faith Karimi
17 jun 2023, 22:00
Esqueçam os influenciadores. Vêm aí os “desinfluenciadores”. Imagem: CNN

Este grupo emergente de utilizadores das redes sociais está a pedir às pessoas que avaliem se precisam mesmo, mesmo, de comprar um novo produto

Afastem-se, influenciadores.

Todos nós já vimos essas pessoas jovens e fotogénicas que promovem modas, alimentos ou serviços para os seus imensos seguidores no TikTok e no Instagram.

Mas agora chegou uma nova geração de "desinfluenciadores", que dizem que o materialismo e as tendências demasiado caras já não estão na moda. Enquanto os consumidores controlam os seus gastos durante estes tempos inflacionários, este grupo emergente de utilizadores das redes sociais está a pedir às pessoas que avaliem se precisam mesmo, mesmo, daquele cobertor pesado que custa 170 euros.

As suas mensagens são simples e diretas: estes artigos são exagerados, não precisa deles e aqui está o porquê. Por vezes, sugerem outras opções. Também falam sobre sustentabilidade e o custo do desperdício associado a sectores específicos, como a beleza e a moda.

Os “desinfluenciadores” estão a ganhar popularidade. No TikTok, por exemplo, 582 milhões dos 584 milhões de visualizações totais da hashtag #deinfluencing ocorreram nos últimos 12 meses, informou a plataforma em maio.

Para perceber melhor o que é – e o que não é – isto de “desinfluenciar”, falámos com as pessoas que melhor a entendem.

O que é “desinfluenciar”?

É uma tendência emergente das redes sociais que desencoraja os consumidores de comprarem determinados produtos que o “desinfluenciador” considerou indulgentes, ineficazes ou que não valem o custo, afirma Kris Ruby, analista das redes sociais e presidente do Ruby Media Group.

Kris Ruby: "Para sermos «desinfluenciados», temos primeiro de ser influenciados". Foto: cortesia de John O'Donnell

Isto acontece numa altura em que as redes sociais se tornaram cruciais para a comercialização de produtos e serviços, especialmente para os consumidores mais jovens. Um estudo recente mostrou que 87% das pessoas inquiridas seguiram uma marca, visitaram a sua página ou fizeram uma compra online depois de terem visto um produto anunciado nas redes sociais, o que torna as plataformas visuais como o Instagram e o TikTok lucrativas para promoções.

As marcas e as empresas pagam aos influenciadores para falarem de bens, experiências e serviços aos seus seguidores. Em suma, influenciar é tentar persuadir os utilizadores das redes sociais a comprar determinados produtos.

"Desinfluenciar” é o oposto disso – mas com algumas ressalvas.

Isso não é apenas influenciar com outro nome? 

Ruby considera que sim.

“Em vez de dizer «compre isto», estão a dizer «não compre isto». Ambas são formas de influência. Não é diferente de dizer: «vote neste candidato», em vez de «eis porque não deve votar neste candidato»”, diz Ruby.

No entanto, diz, a “desinfluência” e a retaliação contra o consumo excessivo refletem uma tendência crescente para o minimalismo. Em vez de comprar uma série de “coisas imprescindíveis” apregoadas por uma figura das redes sociais, esta tendência incita os consumidores a avaliarem se precisam de um artigo antes de gastarem dinheiro nele.

Mikayla Mains: "Eu adoro que estejamos a dar uma passo atrás para repensar a forma como consumimos". Foto: cortesia de Mikayla Farwig

Mikayla Mains, 28 anos, é uma criadora de conteúdos de St. Louis que diz estar ligada à cultura de “desinfluenciadores”. Diz que a tendência é refrescante numa altura em que o marketing nas redes sociais pode parecer uma forma de pressão, sugerindo que precisamos de luxos caros para nos sentirmos bem connosco próprios.

“Como alguém que sempre se debateu no domínio dos influenciadores com a moral da influência, adoro ver que estamos a virar numa direção diferente”, afirma.

“Embora não ache que influenciar seja mau de todo, gosto do facto de estarmos a dar um passo atrás para repensar a forma como consumimos não só produtos, mas também conteúdos.”

Michelle Skidelsky, uma “desinfluenciadora” canadiana, usou uma publicação recente para dizer aos seus 173 000 seguidores do TikTok que não precisam de um novo guarda-roupa no início de cada estação.

“Em primeiro lugar, as roupas novas que não são da «fast fashion» são muito caras hoje em dia”, diz. “Se se vai fazer uma viagem, ou a um concerto, provavelmente não é preciso de um guarda-roupa totalmente novo para nenhuma dessas coisas. Contentemo-nos com o que temos e vivamos dentro das nossas possibilidades.”

Skidelsky desencoraja as pessoas a exagerarem nos acessórios de verão, como óculos de sol, malas, cintos e bolsas.

“Definitivamente, não precisamos de vários pares de óculos de sol novos”, diz. “Ouçam, eu sei que é muito divertido ter os óculos de sol a condizer com a roupa e usá-los como acessórios e tudo o mais. Mas o que é que a sua conta bancária acha de estar constantemente a comprar novos óculos de sol? Provavelmente não muito bem.”

Michelle Skidelsky desincentiva os seus seguidores a comprarem várias produtos de que não precisam. Foto: Michelle Skidelsky

Até que ponto podemos confiar nos “desinfluenciadores”?

Nem toda a gente está convencida com os "desinfluenciadores”. Aria Connor, 36 anos, cria conteúdo sobre estilo de vida nas redes sociais e diz que alguns “desinfluenciadores” não estão nisso pelas razões certas.

"Muitas das pessoas que participam na tendência estão mais interessadas em fazer com que as pessoas se sintam mal por gastarem o seu dinheiro de uma forma que não está de acordo com os valores ou o orçamento do «desinfluenciador»", afirma.

Outros, diz ela, estão simplesmente a tentar persuadir as pessoas a comprar outro produto. Connor não acredita que nenhum dos dois seja útil para os consumidores.

Aria Connor: "Parem de falar em «desinfluenciar». Chamem-lhe uma opinião diferente". Foto: cortesia de Aria Connor

“Há tantos «desinfluenciadores» a dizer ao seu público: «Não comprem aquilo. Comprem isto». E, nesse caso, parem de chamar isso de «desinfluenciar»", diz. “Chamem-lhe apenas uma diferença de opinião sobre quais são os melhores produtos.”

Alguns “desinfluenciadores” sugerem aos seus seguidores que evitem produtos específicos, enquanto outros falam de uma forma mais geral sobre não desperdiçar dinheiro em artigos de que as pessoas não precisam realmente. Ruby diz que não é claro se alguns “desinfluenciadores” estão a ser pagos por marcas rivais para denegrir produtos.

Mas aqueles que dizem aos seguidores o que devem evitar podem ter mais credibilidade do que as pessoas que apenas partilham recomendações sobre o que devem comprar, afirma. Ruby diz que os “desinfluenciadores” podem incutir mais confiança nos seus seguidores porque os seus conselhos parecem honestos.

Mains, que tem 13 000 seguidores no TikTok, afirma que os “desinfluenciadores” podem trazer o tão necessário equilíbrio às plataformas sociais que incentivam o consumo excessivo e que têm sido responsabilizadas pelo aumento dos problemas de saúde mental entre os adolescentes.

Mas os conselhos das redes sociais sobre o que comprar ou o que não comprar não são assim tão relevantes, diz ela. Em vez disso, os “desinfluenciadores” devem levar as pessoas a “questionar a forma como estamos a consumir, o que estamos a consumir e porque estamos a consumir”, afirma.

“O problema de um novo movimento como este é que toda a gente acaba por inventar o seu próprio significado”, acrescenta.

Há quem diga que os “desinfluenciadores” ajudam a responsabilizar as marcas

Victoria Sola, uma influenciadora que cria conteúdo de beleza, diz que “desinfluenciar” promove conversas honestas sobre produtos e dá poder aos consumidores sub-representados.

Como exemplo, ela cita os “desinfluenciadores” que denunciam marcas que excluem produtos para pessoas de cor.

Esses “desinfluenciadores” ajudam a promover a transparência e a responsabilizar as marcas, diz Sola, que tem 17 mil seguidores no TikTok e questionou a eficácia de alguns protetores solares em pessoas de cor.

“Muitas pessoas perdem a confiança nos influenciadores que só querem ser pagos e esquecem-se de que, do outro lado, há uma pessoa que só quer que falemos com ela de forma honesta e real”, afirma.

Ruby, a analista de redes sociais, oferece outra perspetiva. A influência e a “desinfluência” nas plataformas sociais não são assim tão diferentes, diz.

“Para ser «desinfluenciado», é preciso ser influenciado para começar. Penso que a tendência para a «desinfluenciar» tem lugar num sistema de câmara de eco das redes sociais em que as pessoas estão (...) familiarizadas com os produtos que estão a ser desincentivados", afirma.

A chave para os consumidores, diz ela, é não confiar em tudo o que se vê no TikTok, YouTube ou Instagram. Dessa forma, não é preciso ser “desinfluenciado”.

Estilo de Vida

Mais Estilo de Vida

Na SELFIE

Patrocinados