Seja porque ainda não conseguiram dexar de fazer o que «sempre» fizeram, seja por razões financeiras, seja pela competição, há muitos que «teimam» em voltar ao desporto. Há resultados de todos os tipos
RaúlNão é que Raúl tivesse anunciado – oficialmente – o fim da carreira de futebolista. Mas, com esta idade, há coisas que vão sendo inadiáveis. Mais para uns do para outros – é um facto. Há aqueles que adiam o fim da carreira, há os outros que abandonam mais cedo do que muitos esperam. Há também os que abandonam e regressam.
Há muitos, no geral, que não conseguem deixar de estar naquela que foi a maior parte da sua vida, mesmo que já tenham abandonado uma vez, ou mais... E que voltam ou permanecem quando o fim
O jogador espanhol vai regressar aos jogos oficiais nos Estados Unidos – um país que está a contratar várias estrelas que na última década estiveram nos emblemas mais poderosos do futebol europeu: como Kaká ou Frank Lampard.
Raúl vai ser a estrela maior do segundo campeonato dos Estados Unidos. Depois de ter passado pelo Qatar. Depois de ter passado pelo Schalke 04. Depois de ter sido um dos símbolos do Real Madrid durante largos anos – a notícia da ida para o Cosmos aconteceu, curiosamente, um dia depois de serem assinalados 20 anos sobre a estreia do avançado pela equipa principal dos merengues
Confirmed! Welcome to New York, Raúl! http://t.co/lhJ7DlQiBQ #NYCosmos pic.twitter.com/HDifreXIM5
— New York Cosmos (@NYCosmos) 30 outubro 2014
O número 7 do Real deixou o Santiago Bernabéu quatro anos antes, em 2010. Foi para a Bundesliga quando o clube da capital espanhola entrou num processo de renovação que implicou a saída de vários históricos. Esteve duas épocas no Schalke, esteve outras duas no Al Sadd, até maio deste ano.
Sem clube, sem fim de carreira assumido, o anúncio oficial foi o de que Raúl volta a jogar em 2015; como vários outros futebolistas fizeram em 2014 – vários que já tinham mesmo terminado a carreira; exemplos que chegam da nova liga de futebol da Índia. A Indian Super League estreou-se há poucas semanas e nasceu com a mesma marca dos Estados Unidos (o país de patrocinadores fundamentais).
O campeonato indiano para onde foram muitos estrangeiros – onde se incluem vários portugueses – é marcado também pela decisão estratégica de ter (pelo menos) um [antigo] jogador com currículo europeu. Del Piero ou Trezeguet são talvez os exemplos maiores, mas estes são jogadores que nunca pararam, mesmo que tenham vindo a passar para ligas menores.
O ano do regresso foi 1982, depois de convencer os patrocinadores da McLaren. O piloto duas vezes campeão do mundo na década de 1970 (75 e 77) ganhou um lugar ao lado do britânico John Watson.
Em 1984, Lauda passou a dividir as atenções da McLaren com o talento de Alain Prost. Os dois travaram uma luta como nunca tinha sido visto na Fórmula 1 dominando a temporada e chegando à última corrida a disputar o título. No Autódromo do Estoril, Prost venceu, mas o segundo lugar em Portugal do austríaco deu-lhe o terceiro título de campeão mundial por meio ponto de vantagem.
Não houve um abandono oficial. Houve mais um novo afastamento; do boxe. Mas este durou 10 anos. Foreman dedicou-se à família e à religião numa conversão que manteve, mas que não o monopolizou para sempre. Em 1987, voltou. Tinha então 38 anos. E renasceu para o boxe com o desejo de defrontar Mike Tyson – o que nunca aconteceu.
Mas, aos 42 anos, George Foreman voltou a lutar por um título mundial: perdeu com Evander Holyfield. Aos 44, aconteceu o mesmo às mãos de Tommy Morrison. Em 1994, com 45 anos, George Foreman tornou-se o mais velho campeão mundial de pesos pesados deixando Michael Moorer (então com 27 anos) KO.
Em 1995, proferiu o histórico «I`m back!». Mixchael Jordan esteve meia época
Mas Jordan não se limitou a sair uma vez e a voltar outra. Repetiu ambas. O desagregar da mítica equipas dos Bulls da década de 1990 levou-o a deixar de novo o basquetebol em 1999. Por mais dois anos. Voltou em 2001.
O segundo regresso de Michael Jordan acabou por tomar a forma de tributo ao maior jogador de basquetebol de sempre – se não o melhor atleta... – porque os resultados já não foram o que eram... O primeiro ano nos Washington Wizards ficou marcado pelas lesões; o segundo passou a ser o do «obrigado» a Air Jordan e o da última oportunidade para vê-lo jogar como sempre. Parou aos 40 anos.
A tenista belga decidiu abdicar da carreira pela maternidade. Ficou tudo explicado. A surpresa que Clijsters decidiu fazer e que já ninguém esperava foi regressar. A antiga nº1 do mundo e uma vez vencedora do US Open (com mais dois WTA Finals) voltou à alta roda do ténis em 2009. Como nunca antes.
Clijsters voltou a ganhar o
Não abandonou. Dois dias depois, ainda em Atlanta, Steve Redgrave terá mudado de ideias. A oficialização da sua retirada não aconteceu contrariando o que se esperava nos tempos seguintes em que se ausentou. Redgrave não parou; simplesmente tirou férias durante quatro meses porque estava pronto para voltar. «Eu sabia que quando recomeçasse seria duro e eu queria fazer uma paragem», explicou depois.
O homem que anunciou o seu abandono e depois se arrependeu esteve de volta nos três anos que precederam os seguin Jogos Olímpicos em Sydney e ganhou aos 38 anos a quinta medalha de ouro olímpica – como nenhum outro fez. Em outubro de 2000 fez finalmente o comunicado oficial: «Não continuo. Mas não queria fazer o anúncio nas Olimpíadas.»
Como até já se viu com o segundo regresso de Michael Jordan, muitas vezes o regresso que se quer não tem muito a ver com o que acaba por acontecer. No caso dos futebolistas aqui referidos, o novo enquadramento de expectativas não pode se não corresponder a esta fase diferente das carreiras: não ter muitas.
Há casos, contudo, em que o regresso de abandonos
Ficou quatro anos parado até voltar à ribalta. Em 2008, o texano anunciou que regressava no ano seguinte para correr especificamente a Volta a França 2009.
A volta do regresso, com a Astana, ainda lhe deu um terceiro lugar no Tour. Em 2010, com a Team Shack não foi além do 23º lugar. Foi o ano em que surgiram as primeiras denúncias de doping. Foi quando o mito Armstrong começou a desmoronar.
A suíça regressou a partir de 2005, voltou a parar, voltou a regressar. No presente, Hingis continua a jogar aos 34 anos no circuito de pares. Neste ano, chegou à final do US Open fazendo dupla com Flavia Penetta.
E, agora, chegamos aos casos em que as expetativas saíram bem frustradas. E que aconteceram com alguns que estão no pódio dos maiores de sempre do seu desporto. São os casos, por exemplo, de
A Schumacher aconteceu mais ou menos o mesmo que aconteceu a Borg. O piloto que mais títulos de campeão do mundo tem entre outros recordes não conseguiu, em três temporadas, melhor do que uma única volta mais rápida e um único terceiro lugar.