"Há uma estratégia concertada para desestabilizar". Aumenta a tensão na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia

2 ago 2023, 21:34
Crise migratória na fronteira da Polónia com a Bielorrússia (ASSOCIATED PRESS)

Em causa está um exercício militar bielorrusso, na região de Bialowieza, onde dois helicópteros militares Mi-24 e Mi-8 terão voado a baixa altitude em espaço aéreo polaco

Continua a aumentar a tensão na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, após Varsóvia acusar Minsk de violar o espaço aéreo com dois helicópteros militares. O governo polaco não hesitou e já ordenou ao exército para aumentar a sua presença na fronteira, tornando a situação na fronteira europeia ainda mais volátil.

“Há uma estratégia concertada para desestabilizar o outro lado e isto é apenas a Rússia a colocar mais um desafio à Polónia. O objetivo é afetar o moral da população”, afirma o major-general Isidro de Morais Pereira.

Segundo o Ministério da Defesa polaco, em causa está um exercício militar bielorrusso, na região de Bialowieza, onde dois helicópteros Mi-24 e Mi-8 terão voado a baixa altitude em espaço aéreo polaco, tornando a sua deteção em radares bastante difícil. Minsk rejeita as acusações e garante que estas têm como único propósito a justificação do aumento do número de tropas na fronteira.

A Polónia pode mesmo colocar armas antiaéreas junto à fronteira, mesmo que existam “vários procedimentos antes de se abater uma aeronave de um país em que não se está em guerra e a Bielorrússia sabe disso”, explica o major-general.

Desde que o ditador bielorusso Alexander Lukashenko mediou um acordo entre o governo russo e os mercenários do Grupo Wagner após uma tentativa de golpe de Estado, oferecendo o seu território como um local neutro onde estes podem continuar a sua atividade, a situação nesta fronteira tem-se tornado cada vez mais tensa. Durante o fim de semana, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, garantiu que perto de uma centena de mercenários russos estão a ser destacados para a região do estreito corredor de Suwalki que liga a Polónia à Lituânia.

Esta região é particularmente sensível para a NATO, porque os 100 quilómetros deste corredor esmagado entre o enclave russo de Kaliningrado e a Bielorrússia representam a única ligação terrestre que a NATO tem aos países Bálticos, membros da Aliança.

Para o governo polaco, esta é “só” mais uma tentativa de desestabilizar o país através da criação de problemas na fronteira. Desde 2021, o governo de Lukashenko tem incentivado a imigração ilegal “empurrando para a Polónia” milhares de migrantes. Apenas este ano, a guarda fronteiriça registou 16 mil tentativas de entrada ilegal no país vindas da Bielorrússia.

“O objetivo é colocar agentes agitadores no outro lado. E nesta situação a Polónia nem é o caso mais vulnerável. Os países Bálticos são países que podem vir a ser potenciais vítimas, têm elevadas populações russas e podem sempre ser vítimas dos mesmos pressupostos que levaram à invasão da Ucrânia”, considera Isidro de Morais Pereira.

Na semana passada, Vladimir Putin acusou a Polónia de ter ambições territoriais na Bielorrússia e garantiu que qualquer ataque contra o território deste país será considerado uma declaração de guerra. No passado, a Rússia acusou Varsóvia de ter intenções semelhantes para com o território ocidental da Ucrânia.

“É uma espécie de histeria coletiva. Há uma tensão elevada e uma histeria exagerada com a presença do Grupo Wagner, mas não creio que haja o risco de rebentar uma guerra. Estas ações da Polónia, de reforçar a fronteira, são apenas para mostrar músculo”, refere o major-general Agostinho Costa.

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