Lizzo quer ensinar-nos sobre a neutralidade do corpo. Eis o que significa e como chegar lá

CNN , Madeline Holcombe
18 jun 2023, 16:00
Lizzo quer ensinar-nos sobre a neutralidade do corpo. Eis o que significa e como chegar lá. Foto: Kevin Winter/The Recording Academy/Getty Images

Quando se trata de falar sobre corpos, às vezes menos é mais

Lizzo, que é conhecida por mensagens de amor-próprio e de aceitação mais ampla, disse recentemente que está a encorajar uma postura de neutralidade corporal para si e para os outros. 

“Não preciso da vossa positividade ou da vossa negatividade. Não preciso dos vossos comentários. Que tal isso? Continuem a tentar”, disse Lizzo ao programa The Cut, da CNN Internacional, em Abril. 

Numa publicação recente do TikTok, Lizzo  falou também sobre como ela se exercita não com o objetivo de perder peso, mas pela sua saúde mental – salientando que aceita que o seu corpo vai mudar ao longo da sua vida. 

“Os corpos de toda a gente mudam”, disse. “É assim a vida, é assim a existência humana.” 

Seria maravilhoso se todos pudessem sentir-se bem com o seu corpo incondicionalmente, mas com tantas mudanças físicas que acontecem ao longo da vida – e uma sociedade que muitas vezes apregoa uma forma que considera aceitável – isso nem sempre é realista, diz Bri Campos, uma treinadora de imagem corporal de Paramus, em Nova Jersey. 

“Vamos estar numa relação com o nosso corpo enquanto tivermos um corpo”, diz. Isso significa que às vezes pode ser fácil sentir-se bem na sua pele, e outras vezes pode ser mais difícil. 

O que significa ser neutro na abordagem ao corpo? E como é que se pode travar as críticas para lá chegar? 

O que é a neutralidade corporal?

Se a positividade corporal é celebrar o seu corpo, a neutralidade corporal é nem sequer pensar muito nele. 

“Sabemos que há muito mais numa pessoa e no seu valor e dignidade do que os corpos", diz Lauren Smolar, vice-presidente de programas na National Eating Disorders Association. “A neutralidade corporal tira mesmo esse foco completamente... e defende focar realmente em outras coisas.” 

Embora isso possa parecer um pouco dececionante em comparação com o conceito de positividade, a neutralidade corporal é benéfica porque o objetivo não é vincular a autoestima à aparência de um corpo ou mesmo ao que ele pode fazer. 

“A neutralidade corporal é realmente deixar de lado a ideia de que temos que amar a aparência do nosso corpo para viver uma vida alegre e relevante”, diz Jennifer Rollin, fundadora do The Eating Disorder Center em Rockville, Maryland. 

Neutralidade do corpo: Não se trata apenas de tamanho 

Os corpos das pessoas mudam frequentemente ao longo da vida, e uma abordagem neutra pode ajudar a resistir a essas variações, diz Campos. 

Celebrar o que o seu corpo pode fazer pode ser útil, mas as capacidades nem sempre permanecem as mesmas. E para as pessoas com dores crónicas ou incapacidades, pode ser importante encontrar uma postura que aceite e abrace o corpo, mesmo quando este não consegue funcionar da mesma forma que funcionava no passado – ou da forma como os outros funcionam, diz Rollin. 

Whitney Trotter, uma nutricionista e enfermeira registada em Memphis, Tennessee, diz que trabalhou na neutralidade corporal em 2021, quando teve de interromper a gravidez por razões médicas. 

“Este conceito de neutralidade do corpo foi muito importante para mim”, afirma. “Quando sentimos que o nosso corpo nos falha, como é que ainda o abraçamos e o defendemos?” 

A positividade do corpo, ou amar e aceitar o seu corpo – como ele é, onde quer que esteja – pode ser maravilhoso para todos os tipos de corpo, diz Rollin. Mas pode não ser um lugar onde se possa chegar a qualquer hora. 

“Eu nunca diria a alguém que esse não é um bom objetivo”, diz. “No final de contas, é ótimo olhar para o espelho e dizer: «Estou ótimo».” 

“Mas quando ligamos a autoestima à nossa aparência externa e a esta ideia de amar o nosso corpo, o que acontece se ficarmos doentes e tivermos de fazer uma cirurgia, ou se engravidarmos e dermos à luz e depois estivermos no pós-parto ou simplesmente no processo de envelhecimento?”, diz Rollin. 

Como adotar a neutralidade corporal

O primeiro passo para uma relação mais neutra e menos crítica com o seu corpo pode ser a observação. 

“Para mim e para muitos dos meus clientes, não podemos chegar à neutralidade enquanto não reconhecermos a narrativa de ódio que existe atualmente”, diz Campos. 

Isso significa identificar quais as ações ou partes do seu corpo que lhe causam stress e questionar-se mais sobre a sua origem, diz. 

Como é que lidamos com essas vozes negativas na nossa cabeça? Tente respostas de não-envolvimento, que implicam "perceber os pensamentos... e depois continuar a agir de acordo com os seus valores", diz Rollin. 

Talvez tenha planeado um dia de praia com amigos e família este verão, mas depois começa a preocupar-se sobre o momento de vestir o fato de banho. Em vez de se fixar nessas preocupações, Rollins encoraja a notar que é um pensamento que vai passar e a concentrar-se em divertir-se com aqueles de quem gosta. 

Repare também quando os juízos de valor sobre o corpo vêm das pessoas que o rodeiam – nesse caso, poderá ter de mudar de assunto ou estabelecer alguns limites com essas pessoas, diz Rollin. 

Seria ótimo se houvesse uma resposta clara sobre como desenvolver uma postura mais neutra em relação ao seu corpo, mas os passos a dar serão diferentes para cada pessoa, diz Campos. 

Rollin recomenda o uso de roupas que sejam confortáveis como um primeiro passo. 

“Se eu usasse calças demasiado pequenas durante um dia inteiro, estaria a pensar muito mais no meu corpo porque me sentiria desconfortável”, diz. “E isso só serve para intensificar a imagem corporal negativa.” 

Tentar práticas que o façam sentir-se mais ligado ao seu corpo, como a acupunctura, o ioga ou a respiração profunda, também pode ser útil, diz Trotter. 

Não desanime se demorar algum tempo a encontrar uma abordagem mais neutra do seu corpo, acrescenta Rollin. 

“Muitos de nós temos estado mergulhados na cultura da dieta e anti gordura durante toda a nossa vida”, diz ela. “Esta é uma prática que leva tempo, mas as pessoas podem chegar a este lugar onde estão muito mais pacíficas com os seus corpos.” 

Se estiver realmente com dificuldades, considere a possibilidade de obter ajuda de um profissional especializado em distúrbios alimentares ou na aceitação do corpo, “e descubra como tirar o foco do seu corpo e concentrar-se noutras coisas que trazem valor para si e para o seu mundo”, diz Smolar. 

Obstáculos e estratégias de neutralidade corporal 

Campos gosta de pensar na relação contínua que as pessoas têm com os seus corpos como uma escavação arqueológica. É necessário atravessar as camadas da perceção que temos de nós próprios e descobrir o que tem estado sempre na base. 

Mas, por vezes, não temos as ferramentas necessárias para lidar com tudo o que encontramos, diz ela. E, nesses casos, podemos deixar alguma pedra por partir. 

Para ela, uma pedra a deixar intacta pode ser a balança. 

Por muito trabalho que tenha feito a nível profissional e pessoal, subir para cima de uma balança ainda pode desencadear esses pensamentos de vergonha, diz Campos. Apesar de poder passar o tempo a analisar o que é tão difícil na atribuição desse número ao seu corpo, pode não valer a pena o stress que o processo lhe causa, diz. 

Em vez disso, ela simplesmente evita a balança. 

“Podia tentar descobrir como me tornar neutra com um número, mas há tantas outras coisas que gostaria de explorar que não me parece uma pedra que seja necessário partir”, diz Campos.

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