Há 40 portugueses retidos no Peru (que está sob enorme agitação política e social)

15 dez 2022, 12:03
Polícia e manifestantes em violentos confrontos no Peru (Getty Images)

Ministério dos Negócios Estrangeiros informa que estes portugueses estão em segurança e que estão a ser realizadas diligências para que possam sair do país

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) informa que há 40 cidadãos portugueses retidos no Peru devido à instabilidade política e social. Nos últimos dias, o país tem sido palco de conflitos associados à destituição do presidente peruano e os protestos intensificaram-se, com o bloqueio de estradas e a ocupação do segundo maior aeroporto do país, em Arequipa, que fica a cerca de 1.200 quilómetros da capital, Lima.

Numa nota enviada às redações, o MNE diz que estes 40 portugueses "encontram-se nas regiões de Cusco, Arequipa e Águas Calientes (Machu Pichu)". "Todos os cidadãos assinalados encontram-se em segurança e a Embaixada de Portugal em Lima tem mantido contato constante com os próprios e respetivas famílias", acrescenta o comunicado.

A tutela assegura que tem "mantido contactos com os portugueses e as respetivas famílias" e refere que a Embaixada de Portugal em Lima tem realizado "todas as diligências possíveis junto das autoridades peruanas" para que os portugueses possam sair em segurança do país. "Uma vez que existem outros cidadãos da União Europeia (UE) no Peru, em idêntica situação, está em curso a articulação com os representantes diplomáticos dos demais países da UE no Peru, bem como com o Chefe da Delegação da União Europeia em Lima", salienta a nota.

Sete estudantes de Medicina retidos em Arequipa

Sabia-se, desde ontem, que havia pelo menos um grupo de sete jovens portugueses retido em Arequipa. Os jovens são colegas do curso de Medicina da Universidade de Coimbra, tinham terminado os seis anos de curso e decidido fazer uma viagem de duas semanas - uma semana no Rio de Janeiro e outra no Peru. A mãe de um deles contou à Lusa que o grupo está num hotel, depois de ter passado 50 horas num autocarro quando seguia para Cuzco. Quando perceberam que o autocarro teria dificuldades em sair de uma estrada cortada devido aos protestos, os jovens portugueses, juntamente com dois dinamarqueses, dois peruanos e a guia, decidiram seguir a pé até à vila mais próxima, relatou Paula Rodrigues.

“Chegaram a uma vila no meio do deserto onde conseguiram arranjar uma carrinha que lhes permitiu chegar a uma outra vila”, contou a mãe de um dos jovens, de 24 anos, com quem continua a manter um contacto telefónico regular.

Os estudantes tinham viagem de regresso marcada para esta quarta-feira às 16:30 (hora de Lisboa), mas a essa hora ainda permaneciam num hotel em Arequipa, a cerca de 1.200 quilómetros da capital.

Os portugueses no Peru foram apanhados de surpresa pelos tumultos provocados pela destituição do presidente, Pedro Castillo, detido sob a acusação de promover um “golpe de Estado”. Castillo foi preso depois de ter dissolvido o Congresso na tentativa de promover mudanças constitucionais para evitar um julgamento, o que foi considerado um "golpe de Estado" por membros do governo, incluindo pela atual presidente Dina Boluarte.

Em Arequipa, cerca de dois mil manifestantes invadiram a pista do aeroporto na segunda-feira, suspendendo o tráfego aéreo. Além do bloqueio do aeroporto, as manifestações intensificaram-se com cortes de estradas por todo o país num amplo movimento popular e indígena que contesta a elite política de Lima. Os protestos já fizeram pelo menos oito mortos, mais de meia centena de polícias feridos e um número que não foi especificados de manifestantes detidos.

Na quarta-feira, o governo da chefe de Estado, Dina Boluarte, decretou o estado de emergência em todo o país, por um período de 30 dias, "para controlar atos de vandalismo e violência cometidos nas manifestações de protesto". Durante o estado de emergência ficam suspensas os direitos constitucionais relativos à inviolabilidade domiciliária, liberdade de circulação e liberdade de reunião. 

Governo desaconselha viagens não essenciais

O governo apela a que os cidadãos portugueses no Peru evitem deslocações terrestres e desaconselha as viagens não essenciais no e para o Peru. Em caso de dificuldades os cidadãos portugueses devem sinalizar o seu caso através dos contactos de email gec@mne.pt; lima@mne.pt ou pelos telefones + 351 217 929 714 | + 351 961 706472.

Na quarta-feira, a Embaixada de Portugal no Peru divulgou um aviso desaconselhando as deslocações no interior do país e alertando sobre as dificuldades de intervenção nas zonas mais remotas. "O poder das autoridades centrais nas zonas mais remotas é frágil, pelo que a capacidade de intervenção é limitada", indica a Embaixada, através do portal diplomático.

A mesma nota, referindo-se à "presente instabilidade política", "desencoraja" a realização de viagens não essenciais, em particular por via rodoviária porque os bloqueios de estrada são frequentes.   

"Caso se veja forçado a viajar, deve fazer-se acompanhar dos seus documentos e prever água e comida para eventuais distúrbios (como cortes de estrada ou manifestações, que podem bloquear a circulação por muitas horas)", indica o aviso.

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