Estradas e um aeroporto bloqueados e confrontos que já resultaram em mortes após troca de presidente no Peru

António Guimarães , com Lusa
12 dez 2022, 22:06

Pedro Castillo não aceita saída da presidência e escreveu uma carta após ser detido. Nas ruas continuam milhares de peruanos que fazem escalar os confrontos com as autoridades

As manifestações no Peru intensificaram-se esta segunda-feira com o bloqueio do aeroporto da segunda maior cidade e cortes de estradas por todo o país num amplo movimento popular e indígena que contesta a elite política de Lima, a capital.

Os protestos, que já provocaram três mortos (entre eles uma criança), prosseguem apesar do anúncio da nova presidente de convocar eleições gerais para abril de 2024, ao contrário de 2026 como indicou inicialmente.

Dina Boluarte, que ocupava a vice-presidência até à sua investidura na passada quarta-feira após a destituição do presidente Pedro Castillo, indicou ter “compreendido a vontade dos cidadãos” e disse ter “decidido tomar a iniciativa de um acordo (…) para avançar com eleições gerais em abril de 2024”, e na sequência da tentativa do chefe Estado de dissolver o parlamento, que implicou a sua detenção.

No entanto, os manifestantes continuam a exigir a dissolução do Congresso (o parlamento unicameral), eleições imediatas e uma nova Constituição.

Novas barreiras bloqueavam as estradas na região de La Libertad (norte), e em torno das cidades de Trujillo (noroeste) e Cusco (sudeste), onde se encontra o célebre Machu Picchu. Do Peru chegam imagens de verdadeiro caos, as quais estão na galeria associada ao artigo.

Em Arequipa, cidade da região do mesmo nome e a segunda maior do país, cerca de dois mil manifestantes invadiram a pista do aeroporto, suspendendo o tráfego.

A pista do aeroporto foi bloqueada com pedras, pneus e troncos de madeira, com o sistema de iluminação da pista danificado e enquanto a polícia tentava dispersar os manifestantes com gás lacrimogéneo, algo que conseguiu fazer com a ajuda das Forças Armadas.

O Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos manifestou “preocupação pelo facto de a situação se poder agravar” e apelou “a todas as pessoas envolvidas para demonstrarem contenção”.

O organismo da ONU revelou ainda que “jornalistas que cobriam as manifestações foram alvo dos manifestantes e da polícia”, com “diversos a ficarem feridos” e “casos em que a polícia parece ter recorrido a um uso inútil e desproporcionado da força”.

No sábado, Dina Boluarte formou um governo “independente e técnico” com Pedro Angulo, um antigo procurador, como primeiro-ministro e declarou o estado de emergência nas zonas onde os protestos e manifestações são mais intensos.

Os tumultos alastraram durante o fim de semana, em particular no norte do país e nas regiões ao longo da Cordilheira dos Andes para exigir novas eleições, a demissão da nova chefe de Estado e a libertação de Pedro Castillo, detido desde quarta-feira numa prisão de Lima por suspeitas de sedição e abuso de poder.

Já esta segunda-feira, e dizendo-se “humilhado, silenciado, maltratado e sequestrado”, o ex-presidente publicou, através do Twitter, uma carta escrita à mão na qual garante que não vai renunciar àquilo a que diz ter direito, a presidência do Peru.

A elite política e a oligarquia de Lima sempre desdenharam Castillo, um professor rural de origem indígena e dirigente sindical sem ligações às elites, sobretudo apoiado pelas regiões andinas desde as eleições presidenciais que venceu por curta margem na segunda volta contra a candidata de extrema-direita Keiko Fujimori, a filha do anterior presidente Alberto Fujimori, condenado em 2009 a 25 anos de prisão, que não cumpriu na totalidade.

Os sindicatos rurais e organizações sociais camponesas e indígenas apelaram no domingo a uma “greve ilimitada” a partir de terça-feira. Em comunicado, a Frente Agrária exigiu a “libertação imediata” de Castillo.

O ex-presidente foi detido quarta-feira passada por guarda-costas quando se dirigia à embaixada do México para solicitar asilo político. É acusado de “rebelião” e na quinta-feira o Supremo tribunal ordenou, a pedido do procurador-geral, que permanecesse em detenção provisória por sete dias

O pedido de novas eleições, pretendidas por Castillo, está associado a uma rejeição massiva do parlamento pela população, cerca de 86% segundo uma sondagem divulgada em novembro.

Mundo

Mais Mundo

Patrocinados