Selecção: o que já mudou e o que tem de mudar

14 out 2014, 11:39
Fernando Santos

As conclusões que o jogo com a França permitiu tirar

1-
Em altura de paragem da Liga, só se fala de selecção - apesar de uma ou outra declaração sem sentido sobre o clássico que se joga no sábado. Mas enfim...

É para a selecção, e uma nova era que já começou, e para um play-off de qualificação para o Europeu de sub-21 que as atenções estão viradas. Começo pelos sub-21, que na passada quinta-feira foram a Alkmaar vencer brilhantemente a Holanda.

Estive lá e pude presenciar o espírito colectivo demonstrado, a concentração e a qualidade individual. Mas, principalmente, a capacidade com que formaram uma verdadeira equipa. Junta, consistente, com a estratégia bem montada por Rui Jorge e interpretada pelos nossos jogadores quase na perfeição.

Não é de estranhar, porque esta qualificação tem sido feita só com vitórias. O trabalho de Rui Jorge tem sido extraordinário e a equipa tem correspondido. Nesta terça jogamos em Paços de Ferreira o segundo jogo – que, espero e acredito, nos vai dar passagem para a fase final do Europeu, que nos foge desde 2007.

Nada está ganho, é certo. E por isso sei que serão 90 minutos de muita concentração. Mais uma vez a trabalhar como equipa, sem tempo para outros pensamentos: distracções nem pensar porque o objectivo está muito próximo. Rui Jorge não o vai permitir e os jogadores sabem disso. Vamos lá, Portugal!

2-
No passado sábado, em Paris, com Fernando Santos no banco, Portugal iniciou uma nova era. Um jogo particular que se dispensava (mas tal não era possível...) e que deu para ver uma nova forma de jogar, com outros intervenientes. Melhor ou pior se verá: serão os resultados a responder por este novo modelo.

Já se percebeu que algumas coisas terão que melhorar - e isso foi dito pelo seleccionador e pelos jogadores. É normal que assim seja quando novas situações são colocadas. Mas há coisas que se percebem que têm de mudar, sob pena de hipotecarmos objectivos.

Não sei se será assim contra a Dinamarca, mas nesta nova fase, o trio da frente também tem, no papel, responsabilidades a defender. Em França não o fez - e isso foi, a meu ver, responsável por parte do desequilíbrio defensivo verificado, principalmente naquela primeira parte.

Já li e ouvi demasiadas críticas em cima de Eliseu e Cedric, como sendo os principais culpados pelo que aconteceu. Mas não foram os únicos a falhar. Não estiveram bem, é certo: estiveram por vezes mal posicionados e não souberam defender-se pela forma como a equipa se colocou em campo. Fechar por dentro é obrigatório para um lateral, mas ser ajudado pelo seu médio interior ou de corredor também, ainda mais quando se tem dois ou três jogadores pela frente. Isso não aconteceu e os laterais tornaram-se a face mais visível dos momentos negativos.

Mas limitar a análise a estes dois nomes é muito curto. Por isso, temos de perceber os desequilíbrios causados por uma nova forma de estar da equipa. Ronaldo não defendia, nem é talhado para tarefas defensivas. Se lhe juntarmos Nani, que tem capacidade e agressividade para ser o vértice ou um dos médios interiores do losango, mas também andou pela frente, e ainda Danny, que teria de ser o equilibrio entre os homens da frente e do seu meio campo e pouco fez defensivamente, está encontrada uma das respostas para os desequilíbrios verificados. O resto resulta da forma como os elementos do meio-campo tentaram ajudar: saindo das suas posições, abriram outras.

Queria Fernando Santos esta situação ? Claro que não. Queria liberdade ofensiva, mas com organização e entreajuda e isso não aconteceu. A verdade é que a sua presença no banco, e as constantes indicações durante a primeira parte e ao intervalo foram importantes para uma melhoria e um equilíbrio que acabaram por se verificar.

Já o tinha referido, e continuo a dizer, que a sua ausência do banco e do balneário é um problema. Felizmente, estará resolvido para o jogo de Copenhaga: o TAS suspendeu o castigo da FIFA, permitindo ao nosso seleccionador estar no banco contra a Dinamarca. Como vimos em Paris, a presença e proximidade do líder tem muita importância no desempenho.

Vamos acreditar que a situação vai melhorar e que a resposta a um novo desenho táctico vai entrar nos eixos. Porque temos capacidade para isso, e não porque sim.

Só como equipa somos capazes de responder a novos cenários e precaver situações mal resolvidas. Este tem de ser o único pensamento. Que adianta termos liberdade ofensiva e pensarmos que somos grandes quando não somos equilibrados e vivemos em sobressalto defensivamente?

Tenho a certeza que a ideia de Fernando Santos passa por dar uma maior liberdade individual e uma chegada mais rapida à area adversária, com a colocação de três homens na zona de ataque. Mas o seleccionador também sabe que, sem equilíbrio, organização e entreajuda a tendência é para as coisas correrem mal, principalmente quando enfrentamos equipas organizadas e com qualidade.

A solução pode dar para alguns jogos, mas não dará para todos. E o que se pretende é que sejamos uma equipa e não duas partes em que uma toca a defender como pode e outra espera que a bola lhe chegue. Hoje é altura de ser equipa, de não deixar o meu lateral sozinho, de estar ao lado do meu colega de sector, de estar junto, de ter capacidade de pressionar e ser agressivo. Nós temos essa capacidade, basta querermos. Força Portugal!

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