Este tom tem estado presente nas passerelles da primavera-verão 2024, sobretudo em Milão, com casas italianas como a Gucci, a Jil Sander e a Sportmax a liderarem a tendência
Se pudéssemos visualizar o ano que se avizinha, qual seria a sua cor? O pensamento abstrato é uma consideração anual para os especialistas do Pantone Color Institute, que percorrem as passerelles da alta costura, as tendências de design de interiores, os momentos da cultura pop e a psicologia humana para fazer a sua escolha.
De acordo com a sua pesquisa, a tonalidade que virá a definir 2024 é "Peach Fuzz" - um tom leve e frutado que evoca paz e serenidade. "Estamos a passar por muita turbulência nas nossas vidas e precisamos de uma cor que seja estimulante", disse à CNN Leatrice Eisman, especialista em cores da Pantone. "É um tom quente e acolhedor. E é muito tátil. Sentimos que, num momento como este, a tatilidade é realmente importante - para tocar outras pessoas e reuni-las em nossas casas."
Os tons de pêssego têm estado presentes nas passerelles da primavera-verão 2024, sobretudo em Milão, com casas italianas como a Gucci, a Jil Sander e a Sportmax a liderarem a tendência. Na Afterparty dos Óscares da Vanity Fair, em março do ano passsado, Hilary Duff usou um vestido Dolce & Gabbana em tons de pêssego, inspirado na lingerie. Pouco depois, Uma Thurman participou nos prémios Women Making History Awards com um vestido de gabardina Prada outono-inverno 2023 da mesma cor.
Mas o processo de pesquisa para a seleção de cores é cumulativo, e não basta olhar para as últimas iterações do pêssego, considerou Eisman. Para a primavera-verão de 2016, Giorgio Armani, o rei do cinzento, lançou uma coleção memorável em que a maioria das peças se inclinava para o salmão em detrimento do cinzento característico dos fatos da marca. A última vez que vimos Beyoncé na Met Gala, também em 2016, vimo-la em pêssego. Embora o vestido Givenchy de mangas bufantes e látex adornado tenha sido criticado pelo público na altura, foi um momento chave para Eisman e para a equipa Pantone. Mas o que é que um momento de passadeira vermelha em 2016 tem a ver com o zeitgeist [mundividência] de 2024? "Sentimos que (o visual de Beyoncé) era algo que ainda tinha vida hoje", observou. "Se o virmos em 2016, e sentirmos que é uma ideia valiosa que vai crescer, também nos baseamos nessa ideia. Não nos esquecemos do que vimos antes."
Os momentos de cultura pop do pêssego também cresceram. Desde então, a cor tem sido usada na passadeira vermelha por uma série de atores importantes. Florence Pugh usou um vestido Chloé primavera-verão 2020 na tonalidade para a estreia francesa de "Little Women", enquanto o vestido coluna Oscar de la Renta pêssego de Zoë Kravitz usado no SAG Awards 2020 fez manchetes pelo seu encanto clássico e vintage.
"Pensamos no pêssego como sendo uma cor significativamente nostálgica", afirmou Eisman. "Mais frequentemente uma cor de mulher. E, no entanto, foi adaptada e incorporada no guarda-roupa e no ambiente dos homens. Penso que isso demonstra a modernidade da tonalidade."
Para provas visuais da crescente apreciação masculina do pêssego, basta olhar para o conjunto de Dwayne "The Rock" Johnson para os Óscares de 2023. O seu casaco de smoking da Dolce & Gabbana era o tom perfeito de "Peach Fuzz", e num tecido de cetim intrinsecamente tático. E para se inspirar em como atualizar ainda mais o tom para os gostos modernos, inspire-se em Rihanna e no mini vestido de couro pêssego que ela usou enquanto estava grávida em 2022 no desfile da Off-White em Paris.
Este ano também marca o 25.º aniversário da iniciativa Cor do Ano da Pantone. A psicologia da cor por detrás das três últimas seleções de Eisman e da sua equipa tem estado enraizada na resistência, no otimismo, na coragem e na força, fazendo referência aos nossos tempos continuamente turbulentos. Mas captar o estado de espírito coletivo mesmo numa atmosfera de confusão e ansiedade é um território familiar para a Pantone.
Afinal, a primeira Cor do Ano foi o Azul Céu em 1999. "Foi maravilhoso, esperançoso, todas essas coisas maravilhosas que sentimos quando pensamos no futuro. Mas também havia o medo de que todos os relógios parassem", lembrou. "Por isso, esse era o nosso desafio. Mas para nós era simples: a cor do céu, a cor dos céus, o que está à nossa frente."
Se em 1999 se tratava de abraçar o desconhecido e de pensar no céu azul, a Pantone prescreve um retiro tranquilo para 2024. "Em 2023, celebrámos a saída do mal-estar do ano anterior", defendeu Eisman. "Sentimos que no novo ano, com tanta agitação na atmosfera à nossa volta, haverá necessidade de alguma calma, alguma paz, algum descanso, e é isso que o 'Peach Fuzz' será para nós."