Pedro Mendes conversou com a MFTOTAL sobre o que tem vivido em Parma. Jogadores não recebem desde o verão e clube atravessa cenário de pré-falência
Até à viragem do séculoO Parma respirava saúde. Por lá passaram jogadores que se tornaram mundialmente conhecidos: de Gianfranco Zola, passando por Fabio Cannavaro, Faustino Asprilla, Hernán Crespo, até Gianluigi Buffon. E Sérgio Conceição e Fernando Couto, que representou o clube em dois períodos diferentes e levantou a Taça UEFA em 1995.
Jogadores através do quais o clube faturou milhões. As transferências de Lilian Thuram (€41,5 milhões) e de Gianluigi Buffon (€53 milhões), ambas para a Juventus em 2001, estabeleceram recordes que ainda hoje estão por bater: nunca mais um defesa direito e um guarda-redes foram transacionados por valores tão elevados.
Mas deste Parma vigoroso já só resta o nome. Depois de em 2004 ter sido declarado insolvente
Este fim de semana, a partida com a Udinese para a 24.ª jornada da Serie A foi adiada. Motivo: falta de dinheiro para garantir a segurança do Estádio Ennio Tardini, casa do Parma. Foi a gota de água numa situação que já arrastava há dois anos.
A viver por dentro a situação deste histórico clube italiano estão dois portugueses: Pedro Mendes e Silvestre Varela, que rumou a Parma, por empréstimo do FC Porto, na janela de transferência do mercado de inverno.
«Cheguei aqui em 2013 e nessa altura não se ouvia nada que estivesse relacionado com problemas financeiros. Depois, saí em janeiro [n.d.r.: de 2014, por empréstimo para o Sassuolo] com tudo em dia», recorda o defesa central, em conversa com a MFTOTAL
Pedro Mendes regressou a Parma no verão passado, onde encontrou um clube diferente. A aparente estabilidade financeira deu lugar ao caos. Primeiro, «zunzuns»; depois, entre promessas e pedidos para renegociar contratos e baixar salários, o clube entrou em incumprimento.
«Quando cheguei, a direção tranquilizou a equipa, dizendo que a 15 de novembro seriam liquidados três meses. Nesse dia foi-nos garantido que o dinheiro chegaria. Mas só chegou o mês de julho», conta o jogador, que passou pela formação do Sporting e pelo Real Madrid.
O abismo
No início deste mês, o Parma foi vendido pelo montante simbólico de 1 euro.
Herdeira de um clube histórico
Este domingo, os adeptos do Parma manifestaram-se à porta do Ennio Tardini em protesto contra quem entendem ser os principais responsáveis pela situação calamitosa a que chegou o clube e que dizem ser a consequência de um «assalto à mão armada»
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— Pedro Mendes (@Pedro23Mendes) February 20, 2015
Sem receber desde julho, Pedro Mendes explica que subsiste graças a uma «almofada de alguns meses». Mas alerta que há jogadores em pior situação do que ele. «Há jogadores que têm famílias, filhos, que são jovens e que no ano passado estavam na Serie D (4.ª divisão). Ganhavam pouco e achavam que, com o dinheiro do Parma, podiam ter um certo conforto financeiro. A paciência tem limites.»
Também Pedro Mendes teve a oportunidade de se transferir para outro clube da Serie A nos último dia do mercado de inverno. «Estava na sede para assinar por empréstimo, mas a minha saída foi bloqueada. Se eu saísse, precisavam de outro central. Nem sei tinham o direito de me barrar a saída, tendo em conta os meses que tenho em atraso», diz à
Por causa do incumprimento salarial, o conjunto «crociati» viu ser-lhe
Este fim de semana, o Parma tem novo encontro, frente ao Génova, para a 25.ª ronda da Serie A. Alessandro Lucarelli, capitão da equipa, garantiu que a equipa vai a jogo. Nem que para isso os jogadores tenham de pagar do próprio bolso: «Se o clube não pagar autocarro, vamos viajar em cinco ou seis carros. Estamos disponíveis para pagar o combustível da viagem», afirmou o defesa de 37 anos.
Se pouco ou nada mudar nas próximas semanas, a procuradoria-geral de Parma pronuncia-se a 19 de março sobre o futuro do centenário clube transalpino. Se for declarada falência, e se não houver auxílio por parte da liga e federação italiana, os contratos dos jogadores cadudam e o clube é despromovido até à Serie D, à semelhança do que aconteceu com a
«Estamos à espera de um milagre», conclui Pedro Mendes.