Quem não lê o mundo, ficará sozinho

25 ago 2023, 11:02

O nosso ano de 2023 está a ser marcado pela incerteza, pela ameaça de uma recessão económica e pelas consequências (ainda) decorrentes de um período pandémico que impactou vários aspetos da vida das empresas em dimensões que ainda são difíceis de entender ou sequer qualificar.

O cenário para aqueles que trabalham a comunicação corporativa é muito desafiante.

Por um lado, os clientes enfrentam os perigos conhecidos como a retenção de talento, assim como a procura de gestores capazes de compartilhar os valores da sua empresa, cuidar e liderar equipas com um número crescente de colaboradores que, privilegiando o equilíbrio entre a profissão e a vida pessoal, consideram a construção de uma cultura empresarial apoiada na presença física um “mal necessário” em vez de uma oportunidade de crescimento. Por outro, a ausência de uma cultura empresarial forte levou a falhas evidentes na qualidade e capacidade de resposta ao mercado e para as quais concorre um muito maior escrutínio público da atividade e alinhamento com valores morais e éticos.

Esse escrutínio não tem precedentes e abarca tanto a empresa e a sua atividade, como as intervenções públicas dos seus porta-vozes e líderes. Um erro, uma frase mal elaborada acarreta consequências potencialmente graves e para as quais a comunicação corporativa tem de ter planos de contingência previamente desenhados e regras claras de como, quando e quem deve reagir e resolver possíveis crises.

As empresas precisam de uma comunicação interna mais musculada e alinhada com a liderança da empresa e com a direção de recursos humanos, a mesma que está a braços com desafios decorrentes de um ambiente comunicacional interno e externo fragmentado, onde as redes sociais, plataformas de avaliação de desempenho, reuniões online e as mais diversas aplicações digitais concorrem para uma cacofonia comunicacional que desafia as melhores intenções.

Existem empresas a braços com diferentes camadas e até hierarquias conflituantes, de departamentos e responsáveis por diferentes aspetos de comunicação que muitas vezes atuam com quase total desconhecimento das estratégias e táticas de cada um.

Esta é uma receita para o desastre. A grande maioria das crises de reputação e posicionamento das organizações têm na sua origem a inexistência de uma coordenação eficiente entre a multiplicidade de departamentos e direções que tratam da comunicação interna, externa, de liderança, relações-públicas, marketing, comunicação digital, redes sociais, entre outras.

Claro que tudo isto tem uma solução, mas existe um último problema a resolver: não é possível ter uma comunicação transparente e autêntica sem a liderança da organização. Não se compreende que lideranças empresariais se ausentem da estratégia de comunicação em 2023.

O presidente, CEO ou diretor-geral de uma organização, pública ou privada, tem de ser o pivot da estratégia de comunicação. Quem pensa que é possível liderar, ignorando um dos aspetos mais cruciais do mundo interconectado em que vivemos, está fatalmente enganado e pagará o preço dessa ignorância voluntária em público e muitas vezes sozinho.

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