Nem de propósito: o que o primeiro clássico nos mostrou

23 set 2015, 10:01
FC Porto-Benfica (foto: Catarina Morais)

O Benfica perdeu, mas Rui Vitória somou pontos: soube montar a equipa, faltou evitar acomodoção precoce ao 0-0. André André mereceu aquele golo decisivo para o primeiro triunfo de Lopetegui sobre a águia

 
Cinco ideias do que ficou do primeiro clássico da Liga 15/16:

 

1. André André, herói improvável de coração enorme

 
Neste FC Porto ano II de Lopetegui
, as opções de qualidade são tantas que estaria longe de ser um dado adquirido que André André fosse, nesta altura, uma unidade crucial.
 
Mas a verdade é que é. O médio ex-V. Guimarães, filho de um dos melhores médios das últimas décadas do FC Porto, mostrou no clássico com o Benfica
como é importante juntar à qualidade valores como a determinação, a vontade e o amor à camisola
.
 
Impossível pensar assim no futebol de hoje? Nem sempre. O grande jogo de André André
, coroado com o golo pleno de oportunidade e crença, explica-se com os condimentos acima referidos.
 
Antes do clássico, poucos arriscariam lançar André André como o homem que iria resolver o jogo. Vendo o decorrer da partida, transformou-se num herói improvável de coração enorme.

 



 
2. O Benfica teria que ser nos 90 o que foi na primeira parte

 
O Benfica fez uma bela primeira parte
. Chegar ao Dragão e entrar dominante
não é para qualquer equipa.
 
Mitroglou podia ter inaugurado o marcador, teve duas oportunidades para isso em golpes de cabeça que exigiram boas intervenções de Casillas.
 
A aposta de Rui Vitória em manter a estabilidade tática (4x4x2) revelou-se acertada, ainda que tenha tido duas ‘nuances’: André Almeida
foi unidade importante para um meio-campo de cuidados redobrados, ao lado de Samaris; Jonas, muitas vezes, atuou atrás de Mitroglou.
 
O que faltou ao Benfica no Dragão? Prolongar nos 90 o que de bom tinha feito nos primeiros 45.

Para uma equipa que é bicampeã, a exigência é mesmo essa.
 
 

3. Acreditar até ao fim pode contar mesmo muito

 
Foi um pouco esse o mérito do FC Porto.
 
Depois de uma primeira parte com algumas falhas no plano tático, a equipa de Lopetegui soube reagir, mostrou enorme coração, nunca desistiu.
 
O FC Porto aumentou o ritmo no segundo tempo, encostou o Benfica às cordas, mostrou que o fator casa e o apoio do público continuam a ser dados relevantes no futebol, sobretudo em jogos com esta intensidade emocional e quase 50 mil nas bancadas.
 
Na globalidade, o FC Porto não foi muito melhor que o Benfica em jogo jogado.
Mas revelou muito maior vontade de vencer o clássico e isso, no final, foi determinante.
 
Por não se ter contentado com o empate, saiu premiado com o triunfo.
 
 

4. Seis portugueses começaram o clássico (e outros três juntaram-se a ele)

 
É uma tendência que nos últimos anos rareava e que merece, por isso, ser destacada: este FC Porto-Benfica, primeiro clássico de um campeonato que está a começar com dados muito positivos
, começou com seis portugueses entre os 22 titulares.
 
Quatro do lado encarnado (Nélson Semedo, Eliseu, Gonçalo Guedes e André Almeida), outros dois no campo portista (Rúben Neves e André André).
 
E ainda entraram mais três: Danilo Pereira e Varela, no FC Porto, e Pizzi, no Benfica.
 
Mais: não foram protagonistas menores deste duelo maior do futebol português.
 
André Almeida teve influência positiva no «estancar» do jogo portista, sobretudo na primeira parte; Nélson Semedo voltou a mostrar que é uma das revelações desta época; Rúben Neves
assinou belísima exibição no meio-campo portista e André André, claro, foi o homem do jogo, aquele que resolveu a partida no momento decisivo.
 
Varela, entrado em fase de tudo ou nada, teve intervenção fundamental no lance do golo de André André.
 
Nove portugueses no clássico: um sinal que deve ser lido com atenção.
 
Tudo indica que, nos próximos anos, será ainda mais assim.  
 
 



5. A aposta de Rui Vitória na integração competitiva dos jovens valores é para levar a sério

 
Rui Vitória perdeu o seu primeiro clássico, sim.
 
Mas terá ganho outras coisas, apesar da derrota no marcador.
 
Montou bem a equipa, desenvolveu estratégia adequada à dificuldade de enfrentar um jogo no Dragão. Não abdicou dos princípios de jogo e da tática que claramente assumiu para a sua equipa.
 
E mais: manteve Gonçalo Guedes
(e Nélson Semedo também) no onze, confirmando que é mesmo para levar a sério a sua aposta de integração competitiva dos jovens valores portugueses que o Benfica tem nos seus quadros.
 
Para um treinador do Benfica, isso não chega: é preciso, ao mesmo tempo, ganhar. Mas se fizer esse caminho com o «extra» de lançar para a alta competição os futuros talentos da Luz, marca ainda mais pontos. É mesmo por aí.
 

«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem? 

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