Covid-19: semelhanças e diferenças entre a Ómicron, a Delta, a Alfa, a Beta e a Gama

CNN , Maggie Fox
2 dez 2021, 22:00
Covid-19

Estas variantes são todas classificadas pela Organização Mundial de Saúde como variantes de preocupação porque representam mutações graves do vírus SARS-CoV-2

Ómicron, a mais recente variante do coronavírus, é também a mais rápida a ser considerada "Variante Preocupante" pela Organização Mundial da Saúde devido à sua aparente rápida disseminação na África do Sul e às suas muitas mutações alarmantes.

O seu surgimento já suscitou restrições em viagens, reuniões de governos ao mais alto nível e promessas por parte dos fabricantes de vacinas de começarem a trabalhar em vacinas específicas das estripes por precaução.

Mas há um longo caminho a percorrer a partir da Delta, a variante que domina em todo o mundo. E a longa lista de variantes que inicialmente assustou o mundo até desaparecerem do mapa pode ser um lembrete de como os vírus são imprevisíveis.

Eis uma ronda pelas variantes conhecidas do coronavírus.

Variantes Preocupantes

A OMS classifica as variantes do coronavírus como variantes preocupantes, significando que parecem perigosas o suficiente para serem examinadas de perto e continuamente, ou como Variantes de Interesse, ou como Variantes sob Monitorização. Atualmente, apenas cinco englobam a definição de Variantes Preocupantes: a Alfa, a Beta, a Gama, a Delta e a Ómicron.

Ómicron

A primeira amostra da estirpe Ómicron ou B.1.1.529 foi colhida a 9 de novembro, segundo a OMS. Foi notada devido a um surto de casos na África do Sul.

"Esta nova variante, a B.1.1.529, parece espalhar-se muito rapidamente!", declarou no Twitter Tulio de Oliveira, diretor do Centro de Resposta Epidémica e Inovação da África do Sul, e investigador na área da genética na Universidade de Stellenbosch.

A sequenciação genética revelou também que inclui um número preocupante de mutações na proteína da espícula, a estrutura semelhante a uma maçaneta na superfície do vírus que este usa para se agarrar às células que infeta.

Algumas dessas mutações já tinham sido reconhecidas noutras variantes e eram conhecidas por tornarem essas variantes mais perigosas, incluindo uma denominada E484A, uma versão ligeiramente alterada de uma mutação de nome E484K que pode tornar o vírus menos reconhecível para alguns anticorpos, proteínas do sistema imunitário que estão na linha da frente da defesa contra a infeção e que são a base dos tratamentos com anticorpos monoclonais.

Também contém uma mutação chamada N501Y, que conferiu às variantes Alfa e Gama a sua transmissibilidade acrescida. Ainda na semana passada, Scott Weaver da Faculdade de Medicina da Universidade do Texas e alguns colegas relataram na revista Nature que esta mutação específica melhorava a capacidade de replicação do vírus nas vias aéreas superiores, no nariz e na garganta, e sendo provavelmente ainda mais transmissível quando as pessoas respiram, espirram e tossem.

Tal como a Delta, a Ómicron também inclui uma mutação denominada D614G, que parece ajudar o vírus a agarrar-se melhor às células que infeta.

"O número de mutações per se não significa que a nova variante vá causar problemas; apesar de poder ser mais provável que pareça diferente perante o sistema imunitário," declarou Peter English, antigo diretor da Comissão de Medicina de Saúde Pública britânica.

O que preocupa os cientistas é o número de mutações que afetam a proteína da espícula. Isso porque a maioria das principais vacinas tem como alvo a proteína da espícula. As vacinas fabricadas pela Pfizer/BioNTech, pela Moderna, pela Johnson & Johnson, pela AstraZeneca e por outras farmacêuticas usam apenas pequenas porções ou sequências genéticas do vírus e não o vírus todo, e todas elas usam porções da proteína da espícula para induzir a imunidade. Assim, uma alteração na proteína da espícula que a torne menos reconhecível pelas proteínas e células do sistema imunitário estimuladas por uma vacina seria um problema.

Até à data, não há provas de que isso tenha acontecido, mas não há forma de saber estudando apenas as mutações. Os investigadores terão de esperar para ver se mais novas infeções são causadas pela Ómicron do que por outras variantes.

O outro receio é que as mutações podem tornar o vírus menos suscetível a tratamentos com anticorpos monoclonais. No entanto, a OMS diz que é improvável que estas mutações afetem outros tratamentos para a covid-19, incluindo fármacos antivirais em desenvolvimento e o esteroide dexametasona.

É necessário efetuar mais testes, além dos testes padrão, para detetar a infeção no sentido de distinguir que variante do coronavírus infetou alguém. A sequenciação genética tem de ser levada a cabo, e isso demora mais do que um teste rápido antigénio ou do que um teste PCR.

Ainda é muito cedo para saber se a Ómicron provoca doença mais grave, apesar de uma médica que tratou alguns doentes na África do Sul ter declarado à Reuters que os doentes tinham apenas sintomas ligeiros. "A queixa clínica predominante era um cansaço extremo durante um ou dois dias, e depois dores de cabeça e no corpo todo," declarou a Dra. Angelique Coetzee, médica particular e presidente da Ordem dos Médicos Sul-africana.

Mas os médicos concordam que a vacinação deve proporcionar grande proteção contra a Ómicron e apelam às pessoas para que se vacinem, se ainda não o fizeram. De notar que, na África do Sul, menos de 24% da população adulta está vacinada. Apenas 35% dos sul-africanos adultos estão completamente vacinados, declarou no domingo o presidente do país, Cyril Ramaphosa. E a África do Sul tem muitas pessoas infetadas com VIH, que compromete o sistema imunitário, que não podem ser tratadas atualmente, e que podem estar mais suscetíveis a contrair a infeção.

Esses fatores podem influenciar o aumento da variante na África do Sul, ao contrário de países em que há mais pessoas vacinadas e menos situações de imunodepressão.

As barreiras físicas vão funcionar também contra quaisquer vírus mutantes. Incluem máscaras, lavagem das mãos, distanciamento e boa ventilação. "Sabemos o que funciona contra a covid-19: aumentar a ventilação em espaços fechados, máscaras de qualidade, evitar multidões em espaços fechados, distanciamento, testagem, isolamento, quarentena, vacina + reforço agora para a Delta," declarou no Twitter no domingo Jeffrey Duchin, médico do Hospital Seattle & King County.

Apesar de os peritos dizerem que estão muito atentos, vários declararam que não ainda estão especialmente preocupados com a Ómicron.

"Acho que não devemos entrar em pânico," Disse à CNN Robert Garry, professor de microbiologia e imunologia da Faculdade de medicina da Universidade de Tulane.

"O céu não está a abater-se sobre nós," disse à CNN Peter Hotez, reitor da Faculdade de Medicina Tropical da Baylor. "Não temos provas de que a Ómicron provoca doença mais grave do que as outras variantes."

Delta

A variante Delta do coronavírus é, atualmente, a estirpe dominante nos EUA e na maior parte do mundo. A variante Delta é responsável por 99,9% dos casos nos EUA, segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA.

Também conhecida por B.1.617.2, é claramente mais transmissível do que outras variantes, mas continua por esclarecer se provoca doença mais grave.

Rapidamente se sobrepôs à variante B.1.1.7 ou Alfa na maioria dos países.

A Delta também inclui um conjunto de mutações na proteína da espícula. Pode também iludir o sistema imunitário, o que pode significar que as pessoas que foram infetadas uma vez por uma variante mais antiga podem ser mais propensas a nova infeção. Também ilude os efeitos de um tratamento com anticorpos monoclonais chamado bamlanivimab, fabricado pela Eli Lilly and Company, mas é vulnerável à proteção oferecida noutros tratamentos com anticorpos monoclonais.

Alfa

Identificada primeiro como variante preocupante em dezembro do ano passado, a variante B.1.1.7 ou Alfa do coronavírus preocupava as autoridades de saúde na primavera passada. Propagou-se rapidamente por Inglaterra e depois para o mundo inteiro, tornando-se rapidamente a estirpe dominante nos Estados Unidos. Foi despromovida a Variante sob Monitorização pelo CDC devido ao seu reduzido impacto nos EUA.

Ficou demonstrado que era pelo menos 50% mais transmissível do que as estripes anteriores. Inclui 23 mutações, incluindo uma denominada N501Y, que aumenta a transmissibilidade.

É completamente suscetível a tratamento com anticorpos monoclonais e às vacinas.

Beta

Detetada primeiro na África do Sul, a variante B.1.351 ou Beta inclui uma mutação E484K, que consegue iludir o sistema imunitário, e a mutação N501Y, suspeita de ajudar a criar muitas outras variantes ainda mais contagiosas. Revelou ser 50% mais transmissível do que as variantes anteriores e escapa ao tratamento combinado com anticorpos monoclonais da Lilly's, mas não a outros.

As análises sanguíneas e a utilização real de ambos sugere que pode infetar pessoas que recuperaram da covid e também pessoas que foram vacinadas contra a covid-19.

Os fabricantes de vacinas que tentam adiantar-se às novas variantes desenvolvendo reforços tinham-se concentrado na B.1.351, já que é a variante que os cientistas mais temem que possa iludir a proteção das vacinas. Porém, uma fuga parcial não implica uma fuga total, e continua a esperar-se que as vacinas protejam em alguma medida.

Foi ultrapassada pela Delta na África do Sul e nunca mais teve grande presença nos EUA, apesar da preocupação que causou. É agora classificada como Variante sob Monitorização pelo CDC.

Gama

A variante P.1 ou Gama que assolou o Brasil também nunca conseguiu implantar-se noutros locais e é também uma Variante sob Monitorização para o CDC.

A Gama inclui as mutações E484K e N501Y, além de outras 30. Ficou demonstrado que ilude os efeitos do tratamento com anticorpos monoclonais da Lilly's, mas não o do Regeneron. As análises sanguíneas mostram que pode iludir parcialmente tanto as repostas imunitárias da vacina quanto as naturais.

Variantes de Interesse da OMS

Lambda: A Lambda ou C.37 foi designada Variante de Interesse pela OMS em junho. O CDC não a menciona.

Mu: A Mu ou B.1.621 provocou uma onda de medo quando foi declarada Variante de Interesse pela OMS em agosto, mas rapidamente se desvaneceu. É agora classificada como Variante sob Monitorização pelo CDC.

Variantes Sob Monitorização pelo CDC

Todas as variantes seguintes estão na lista de Variantes sob Monitorização do CDC.

Épsilon: As variantes B.1.427 e B.1.429 estão normalmente agrupadas e são conhecidas por Épsilon. Primeiro detetada na Califórnia, esta tem a mesma mutação L452R da Delta, mas não contém algumas das outras mutações da Delta e não se disseminou como a Delta.

Iota: Primeiro detetada em Nova Iorque em novembro do ano passado, a variante B.1.526 ou Iota espalhou-se inicialmente, sendo responsável por 9% das amostras de abril, mas agora está praticamente extinta. Inclui aquilo que se designa por uma mutação 484, que deveria ajudar o vírus a agarrar-se mais facilmente às células que infeta e a torna-lo menos reconhecível ao sistema imunitário.

Eta: Primeiro detetada no Reino Unido e na Nigéria, a Eta, também conhecida por B.1.525, inclui uma mutação E484K. Também desapareceu praticamente.

Zeta: A circular no Brasil desde o ano passado, esta variante, também conhecida por P.2, também inclui a mutação E484K e não foi detetada a sua disseminação a nível mundial. Quase desapareceu nos EUA, Segundo o CDC.

Não há variantes designadas por Nu ou Xi. A OMS decidiu que "Nu" soava demasiado à palavra inglesa "new", e Xi é um apelido comum.

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