Investir em tempos de guerra e inflação alta. As áreas de negócio mais atrativas (e dicas para não perder dinheiro)

9 out 2022, 18:00
Dinheiro (Getty Images)

É costume dizer-se que em cada crise há também uma oportunidade. E esta que vivemos – com a guerra na Ucrânia, inflação a subir, limitações na energia e no fornecimento de alimentos – não é exceção. Se tem dinheiro para investir, há agora áreas que estão mais atrativas. E outros investimentos que, apesar de parecerem os indicados, têm de ser analisados por outro prisma

Antes de se dedicar à leitura das pistas deste artigo, fixe este lema: o processo de investimento é sempre personalizado e é essencial que se aconselhe com especialistas e reúna o máximo de informação possível antes de largar o dinheiro. O conselho chega dos especialistas com quem a CNN Portugal falou. Um investimento que faz sentido para si, pode não fazer para o seu vizinho.

Os combustíveis sobem. Devo comprar ações de petrolíferas?

O preço dos combustíveis tem vindo a subir. Mas será acertado, por isso, investir numa petrolífera? João Sousa, especialista em assuntos financeiros da Deco Proteste, recorda que os mercados acionistas têm assistido a fortes flutuações. Mas,“não está tudo a cair”, diz. A nível mundial, as ações das petrolíferas tiveram um ganho de 36%. Já os títulos das empresas do setor da defesa, acrescenta, subiram quase 32%. No mercado farmacêutico, 4%. Setores como estes poderão dar maior estabilidade a quem investe. Mas fica a ressalva: o investimento deve ser feito com uma perspetiva de longo prazo, de cinco a 10 anos, dando tempo ao mercado para a sua recuperação. “E é preciso aceitar que a viagem, nos próximos tempos, poderá ser muito atribulada”, ressalva o economista. A Deco Proteste, por exemplo, tem um comparador onde identifica as ações das empresas onde a compra é recomendada.

Preços a subir e muita procura. É boa altura para investir em imobiliário?

Se os juros do crédito à habitação estão a subir, é certo que os preços das casas continuam na mesma tendência. Nos grandes centros urbanos há mais procura do que oferta. Daí que investir o dinheiro em imobiliário, nesta fase, pode parecer interessante para quem tenha dinheiro de parte – inclusive para evitar que o contexto fique ainda pior. Mas, se muitas vezes o imobiliário é visto como um investimento seguro, é tempo de desconstruir essa ideia. “A questão de o imobiliário parecer um investimento seguro é um mito. Os preços variam bastante”, insiste João Sousa. O investimento em imobiliário, sublinham os especialistas, deve ser feito caso a caso. Precisa de ter ciente que, com as perspetivas de recessão e o abrandamento previsto no mercado, o contexto poderá ter impacto no valor da casa que comprar. A casa corre, efetivamente, risco de valer menos no momento em que precisar de se livrar dela. Por isso, fica aqui um conselho de Filipe Garcia, presidente da IMF - Informação de Mercados Financeiros, que vale para os investimentos nas mais variadas compras: “Há demasiado foco no momento da compra, mas fala-se pouco do momento da venda”. Para tomar decisões acertadas, tem de pensar nele.

Os certificados de aforro estão mais atrativos. Mas porquê?

São um dos investimentos mais unânimes nesta fase. Primeiro, porque estão indexados à Euribor, o que permite antecipar que o retorno do seu investimento vai continuar a aumentar nos próximos tempos. Depois, porque tendo garantias estatais, não corre riscos. E têm uma rentabilidade que pode chegar aos 3,5% no próximo ano, um valor muito superior aos depósitos nos bancos, onde o retorno é praticamente nulo.

O luxo é intemporal. Mas faz sentido investir?

Em tempos de crise, há quem olhe para malas, relógios ou arte como um bom investimento. Mas permitirá ele um retorno interessante, em caso de necessidade? “Estes bens têm várias dificuldades acrescidas. O primeiro é que, regra geral, não há um mercado organizado para os transacionar”, aponta Filipe Garcia. Ou seja, o bem vai valer aquilo que o comprador estiver disposto a pagar. Estará, em última instância, dependente da sua perceção de preço. Depois, é preciso ter em conta que, para vender a um preço superior àquele que comprou, poderá ter de esperar longos anos. O luxo também se faz do tempo – e da raridade crescente que ele vai criando. “É um mercado que exige conhecimentos muito específicos. É mais dedicado para especialistas”, resume João Sousa.

O ouro é um ativo de refúgio. É uma boa opção?

O ouro é considerado um ativo de refúgio e, em contextos de instabilidade nos mercados, tende a ser muito procurado. E, logo, os preços a valorizar. É por isso que um dos maiores investidores do mundo, Warren Buffett, já veio desaconselhar investimentos neste metal precioso. Então, em que ficamos? É sempre uma questão de perspetiva. “O ouro em dólares está a cair 7,5% este ano, em euros está a ganhar 8%”, contextualiza Filipe Garcia. Mas se este ativo pode ter rentabilidade, fique a saber que ele não rende qualquer junto. A Deco Proteste aconselha a que não tenha aplicados mais de 5% dos seus investimentos em ouro. E, se o quiser fazer, não o faça em formato físico, por exemplo, indo a ourivesarias comprar ouro, porque “há uma diferença entre os preços de venda e de compra. O melhor veículo para investir em outro, diz João Sousa, é através de um ETF, ou seja, de um fundo que se dedique a esta área.

Está aí uma crise energética. É altura de ganhar com a energia verde?

É no campo do empreendedorismo que se começam a ver, mesmo num contexto instável, quais os melhores negócios para investir. Nesta fase, conta Diogo Teixeira, cofundador da Beta-i, uma das áreas com maior potencial é a das energias renováveis. Até porque, com os problemas que se têm registado no fornecimento de gás e combustíveis, à custa da guerra na Ucrânia, os desígnios da transição energética e da descarbonização são cada vez mais urgentes. “Serão negócios mais resilientes, serão uma boa oportunidade para os investidores”, resume. Por isso, se quiser abrir um negócio ou apenas investir, este pode ser um caminho. Desenvolvimento de baterias, de formas rápidas de carregamento, desenvolvimento de matérias primas (como têxteis) com menor pegada carbónica são alguns dos exemplos.

A comida está mais cara. Investir na agricultura é um caminho?

O fornecimento de alimentos tem sido perturbado com a guerra na Ucrânia e os preços têm subido em força com a inflação, deixando muitas famílias em aperto para conseguir cumprir o orçamento. Então, faria sentido apostar em projetos agrícolas próprios? Diogo Teixeira acredita que sim, pelo impacto da descarbonização por um consumo mais local e pela maior perspetiva de controlo dos preços. “É seguramente uma área de investimento estratégico, de médio prazo”, adverte o porta-voz da consultora de inovação colaborativa. Mas, uma vez mais, é preciso estar atento ao contexto: no próximo ano, as famílias poderão ter de poupar ainda mais na alimentação. Por isso, se a perspetiva do investimento for de curto prazo, o melhor será pensar noutra alternativa, diz.

Não há tanto dinheiro para gerir. E se avariar alguma coisa, pode haver negócio?

Os orçamentos estão cada vez mais apertados. E, se avaria algum eletrodoméstico em casa, substituir por um novo pode não ser uma decisão tão fácil de tomar. Em contextos de crise, um dos negócios que pode prosperar é precisamente mesmo: o da reparação de bens, assim como serviços o de canalizador ou eletricista, que permitam soluções mais económicas do que a substituição ou uma obra mais profunda. “Há uma enorme escassez no mercado deste tipo de profissionais”, reconhece Diogo Teixeira, lembrando que “não é por acaso que algumas das principais empresas do país lançaram plataformas de ‘marketplace’ [com anúncios] deste tipo de serviços”. Para quem esteja à procura de um futuro profissional, esta pode ser uma alternativa. Até porque a tecnologia acaba por aliviar algumas das chatices de outrora, como ter de andar a bater porta a porta para angariar clientes. Já da parte de quem não tem as competências para os arranjos mas sim para investir, as plataformas digitais podem ser um mercado a explorar. “Os portugueses, cada vez mais, deviam procurar negócios que sejam digitais ou escaláveis, mais do que apenas aqueles negócios que estão sujeitos às crises e à lei da oferta da procura. Como trabalham para todo o mundo, têm maior resiliência”, resume o cofundador da Beta-i.

Economia

Mais Economia

Patrocinados