A uma semana da data em que se assinala um ano de guerra na Ucrânia, o secretário-geral da NATO fez uma revelação inédita numa entrevista à AFP
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse ter ido dormir na véspera do dia 24 de fevereiro do ano passado sabendo que dentro de algumas horas a Rússia poderia estar a invadir a Ucrânia.
"Fui dormir. Mas foi uma noite muito curta, porque sabia que, dentro de algumas horas, alguém iria acordar-me - e foi precisamente isso que aconteceu", começou por contar, em entrevista à AFP, a propósito da data em que se assinala um ano de guerra na Ucrânia.
"Por volta das 04:00 horas, fui contactado pelo meu chefe de gabinete, que me disse, de forma muito breve, que eles tinham começado, o que significava que a invasão tinha começado. Não foi uma surpresa, porque nós sabíamos", confessou.
Nos meses que antecederam o conflito, várias foram as advertências por parte da Ucrânia e de organizações internacionais quanto a uma possível ofensiva russa no país vizinho. Enquanto muitos se agarraram à esperança de que Moscovo não arriscaria um ataque em grande escala, o secretário-geral da NATO nunca teve dúvidas de que Putin estava pronto a agir.
"É possível ficar em choque com a brutalidade da guerra. Mas não é possível ficar surpreendido porque era algo que já estava previsto meses antes da invasão", afirmou.
"Impasse" nas relações com a Rússia "pode durar muitos anos"
Agora, praticamente um ano depois de uma guerra que custou já milhares de vidas e abalou a segurança da Europa, Stoltenberg defendeu que a Aliança deve estar pronta para um novo impasse na história da sua relação com a Rússia que, disse, "pode durar muitos, muitos, muitos anos".
"O presidente Putin quer uma Europa diferente, quer uma Europa onde possa controlar os vizinhos, onde seja ele a decidir o que os países podem ou não fazer", argumentou.
"Precisamos de estar preparados para [um impasse] de longo prazo. Isto pode durar muitos, muitos, muitos anos", admitiu.
A invasão russa da Ucrânia mergulhou a Europa naquela que é considerada a sua primeira crise geopolítica desde a Segunda Guerra Mundial, que obrigou os Estados-membros da NATO a reverem a sua política de defesa.
"Nós vimos a queda do Muro de Berlim, vimos o 11 de Setembro", assinalou, para lembrar que "a NATO está sempre à procura de oportunidades para voltar a construir uma relação melhor [com a Rússia]".
"Mas, face ao atual comportamento do regime russo, não há hipótese", declarou.
Apesar de a guerra já se arrastar há um ano, Stoltenberg garantiu que a Aliança continua comprometida em apoiar a Ucrânia "com armas, com munições e com todo o apoio que precisam".
"Se o presidente russo vencer na Ucrânia, será uma tragédia para os ucranianos. Mas também será perigoso para todos, porque depois a imagem que será passada para ele e para outros líderes autoritários é que quando usam a força militar conseguem atingir os seus objetivos", advertiu.