Faz sentido fazer versões saudáveis dos doces de Natal?

9 dez 2023, 17:00
Bolo-rei (Freepik)

O Natal é uma das épocas mais gulosas do ano, com mesas recheadas de doçaria típica da época, toda ela rica em açúcares e gorduras. Há quem procure versões mais saudáveis dos doces tradicionais, mas faz sentido fazê-lo? Duas nutricionistas respondem (e dão dicas bastante úteis para a quadra festiva)

Um bolo-rei cheio de frutas cristalizadas, um pão-de-ló bem fofo, duas boas travessas de aletria e arroz-doce e uns quantos pratos cheios de azevias, filhoses, coscorões e rabanadas acabados de sair do óleo bem quente e já envolvidos em açúcar e canela. A doçaria de Natal é das mais apreciadas, mas também das mais calóricas. Há, por isso, quem opte por recriar versões saudáveis destas iguarias tradicionais, no entanto, essa nem sempre é a solução.

“Versões saudáveis, não podem ser confundidas com versões livres por serem saudáveis”, começa por dizer a nutricionista Isanete Alonso, do Hospital Cruz Vermelha, que reconhece que o problema da doçaria de Natal está, sobretudo, no seu consumo exagerado e prolongado dos doces, sejam eles as versões tradicionais ou as adaptadas para reduzir o teor calórico.

Se o consumo fosse pontual, efetivamente não haveria nenhum problema de fazer os doces da forma tradicional, cumprindo as tradições do Natal. O problema resulta no facto de as famílias fazerem uma mesa extremamente farta com uma quantidade exagerada dos famosos doces, que ficam em cima das mesas à disposição praticamente desde o Natal até ao Ano Novo. Desta forma não há controlo nas quantidades de consumo”, adverte Isanete Alonso.

Beatriz Vieira, nutricionista Hospital Lusíadas Amadora, é apologista de uma consoada prazerosa, mas adverte que, nesta altura do ano, e até mais do que procurar e fazer receitas adaptadas, “o mais importante é encarar o Natal como uma época que compreende apenas dois dias”. No entanto, admite que o mês de dezembro é propício a vários jantares e, segundo a nutricionista, “Isto não quer dizer que se tenha de privar destes momentos de convívio, mas que, por outro lado, deve ter em consideração os excessos e considerar adotar algumas estratégias”. 

A redução da quantidade de gordura e/ou açúcar nas confecções dos pratos e sobremesas, tais como rabanadas, sonhos e bolo-rei, é sempre uma boa opção, mas o melhor mesmo é aproveitar a época natalícia sem preocupações e sentimentos de culpa com a alimentação”, aconselha Beatriz Vieira.

Há formas de tornar os doces de Natal menos bombásticos. Mas isso não significa livre-trânsito de consumo

Fazer versões menos calóricas e gordurosas pode ser uma opção, sobretudo para quem está num regime de perda de peso. Aqui, Isanete Alonso sugere “fazer receitas melhoradas e mais saudáveis, trocando os doces fritos por assados e retirando o açúcar polvilhado e usar somente a canela, por exemplo”. 

Tocar o açúcar refinado por xilitol é uma das estratégias sugeridas por Isanete Alonso, embora aconselhe um uso comedido, “pois tem um alto poder adoçante”. Nas rabanadas, “podemos colocar na mistura de ovos e leite a baunilha, que dará um sabor adocicado sem ter de agregar açúcar e ao invés de fritá-las podemos usar a Air Fryer”, continua a nutricionista do Hospital Cruz Vermelha. 

Para Isanete Alonso é também possível confeccionar sonhos com o “mínimo de açúcar”, devendo, para isso, usar “somente para levedar a massa e usar canela e açúcar de coco para polvilhar”.  

Uma vez que a aletria e o arroz-doce são doces que são cozinhados, optar por uma pequena quantidade de açúcar baunilhado é a sugestão de Isanete Alonso. “Dá muito sabor”, garante. Mas, mais uma vez, pede atenção à quantidade, pois estes doces, mais ou menos saudáveis, são sempre uma caloria extra nesta altura do ano.

Confeccionar menos quantidades e variedades é uma forma de controlar a doçaria das festividades, mas mesmo quando a mesa de Natal tem maioritariamente versões menos calóricas, açucaradas e gorduras, o consumo deve ser cingido à quadra e para evitar que os doces passem a ser a companhia diária das refeições principais de uma semana inteira ou que haja desperdício alimentar, a Beatriz Vieira sugere “distribuir o que sobrar pelos familiares e/ou amigos, evitando manter o frigorífico cheio por mais alguns dias”. “É a melhor estratégia!”, assegura.

Quando menos é mais

Quando em cima da mesa estão vários doces apetecíveis, e sendo o Natal uma época festiva, o segredo para um maior equilíbrio está em provar ao invés de devorar - e aqui a dica é para os doces tradicionais da época, como para as versões ‘saudáveis’ recriadas em casa. A nutricionista Isanete Alonso diz mesmo que se trata de uma ferramenta “de empoderamento que dá autocontrolo”. O segredo está, diz, em “priorizar, em sermos seletivos, mesmo seletivos, escolher aquilo que seja realmente bom”.

“O fato de somente provar torna-nos donos da nossa decisão mental e de forma consciente passamos a ter autonomia e segurança na nossa decisão”, diz, lembrando a importância de melhorar a relação que as pessoas têm com a comida, consumindo de forma mais consciente e prazerosa, sem excessos e sentimentos de culpa.

Também Beatriz Vieira defende a seleção de alguns doces, em pequenas quantidades cada. Para a nutricionista, assim que chega a hora de comer as sobremesas, nada como “fazer um ‘pijama’ com uma pequena quantidade das sobremesas que mais gosta”. 

“Deve utilizar um prato de sobremesa para se servir e optar por usar talheres mais pequenos para comer porque irá ter a sensação de maior quantidade de alimentos no prato e irá demorar mais tempo a realizar a refeição, o que faz com que se sinta mais saciado com uma menor quantidade de alimentos”, sugere a nutricionista Beatriz Vieira.

A nutricionista Isanete Alonso deixa, por isso,uma sugestão: “A palavra chave é ser comedido e renunciar ao excesso na oferta”.

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