Os 10 e os deuses (nº 20): Pelé

2 mar 2017, 10:44
Pelé

O dez de alta cilindrada. O «Rei».

O 10 sempre foi mais do que um número, um dorsal, mais até do que uma posição em campo. O 10 era o craque, o líder incontornável do ataque. Criador e, muitas vezes, também finalizador. No passado, muitas vezes o 10 era o 10, outras camuflava-se noutros números. «Os 10 e os deuses» recupera semanalmente a história destes grandes jogadores do futebol mundial. Porque não queremos que desapareçam de vez. 

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Edson era antes do nascimento. Depois, Pelé! A piada fácil, trocadilho feito com o nome completo daquele que muitos consideram o melhor de todos os tempos – apesar da rivalidade com Diego Maradona e, mais recentemente, com Lionel Messi –, faz-nos apenas sorrir. Felizmente, a molecada mais velha era dura de ouvidos e não percebeu o que o negrinho realmente gritava para o guarda-redes da equipa do pai, ou hoje Edson Arantes do Nascimento seria Bilé e não Pelé.

Defende, Bilé!

Falar do 10 e não recordar Pelé seria imperdoável. Se há jogador que nem precisa de uma camisola estampada com o número é o «Rei», tal a forma como o transporta gravado na pele. Foi um 10 a bold, um avançado de alta cilindrada, capaz de desatar defesas apertadas com uma ginga de corpo e explodir depois num remate indefensável para as redes.

O miúdo que engraxou sapatos à porta do cinema para comprar equipamentos usados, de tamanho XL, para a sua equipa XS, deu tanto nas vistas que chegou ao Bauru e a seguir, aos 16, ao Santos, pela mão do futebolista Waldemar de Brito com a promessa de que seria o melhor de sempre.

Estreou-se aos 17 anos no Mundial na Suécia em 58, com golos de futebol de rua, e entregou o primeiro Jules Rimet a um país ainda a cambalear ferido com o Maracanazzo de oito anos antes. Em 62, lesionou-se e brilhou seu Mané Garrincha, quatro anos depois lesionaram-no, com o português Morais como réu, mandatado por Coluna na marcação ao brasileiro, já magoado desde o primeiro encontro em Inglaterra, e poupado no segundo.

A terceira taça do mundo teria de esperar até ao México, com o Escrete a formar uma das melhores seleções da história, cheio de outros dézes, como Rivelino, Gerson e Tostão. E lá a Rimet foi em definitivo para a Pátria em Chuteiras.

Pelé na final do Mundial de 1958 com a Suécia.

Pelo meio, a Interclubes, depois Intercontinental, hoje Mundial de Clubes (noutro formato), de 1962, com Pelé a marcar cinco golos nos dois jogos com o Benfica (dois no 3-2, no Maracanã, com Coutinho a assinar o outro do Peixe, e Santana os dois do Benfica; e mais três no 2-5 da Luz, com Coutinho e Pepe de um lado e Eusébio e Santana do outro também a faturarem) e a consolidar os paulistas como melhor equipa do planeta.

A primeira mão, no Brasil:

O segundo jogo, em Lisboa:

Na Intercontinental do ano seguinte, frente aos italianos do Milan, só participou no primeiro jogo, perdendo por 4-2 em San Siro. O Peixe iria igualar no segundo, com o mesmo resultado, e no encontro de repetição, novamente do Maracanã, um golo de penálti de Dalmo valeria nova conquista.

A seguir a 18 anos no Santos, saiu para os Estados Unidos e para o Cosmos, onde ficou mais dois. Foram mais de mil jogos e golos, uma boa parte não oficiais, e uma carreira ímpar. A FIFA nomeou-o, não sem polémica, Jogador do Século no virar do mesmo.

O futebol nunca mais esqueceu algumas das suas jogadas de marca, como o remate para a baliza do meio-campo, o drible sem bola perante o guarda-redes, a paradinha no penálti ou a tabela nas pernas do adversário. Muitos da minha idade vibraram com o pontapé de bicicleta reproduzido com uma ou duas costelas partidas em Fuga para a Vitória, o tal do Stallone-guarda-redes, que nos saciava a falta de registos dos golos que marcou dessa forma.  

Uma outra cena do filme de 1981:

Fosse em campo ou no grande erã, Pelé era sempre igual a si próprio. Ímpar.

A famosa bicicleta de Pelé.

Alguns momentos que ficaram para a história:

O documentário «The King of Football»:

Vinte grandes golos:

Edson Arantes do Nascimento (Pelé)
23 de outubro de 1940

1956-1974, Santos, 1116 jogos, 1091 golos
1975-1977, NY Cosmos, 106 jogos, 64 golos
Brasil, 92 jogos, 77 golos

Alguns dos títulos coletivos coletivos conquistados:

3 Campeonatos do Mundo (1958, 1962 e 1970)
2 Taças Intercontinentais: 1962 e 1963
6 campeonatos brasileiros (1961, 1962, 1963, 1964, 1965 e 1968)
1 campeonato norte-americano (1977)
10 campeonatos paulistas (1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968, 1969 e 1973)
4 Torneios Rio-São Paulo (1959, 1963, 1964 e 1966)
2 Taças Libertadores da América (1962 e 1963)
1 Supertaça Sul-americana (1968)

Alguns prémios individuais:

Atleta do Século, eleito por jornalistas de todo o mundo, numa iniciativa do L'Équipe (1981)
Atleta do Século, eleito pelo Comitê Olímpico Internacional (1999)
Atleta do Século, eleito pelos jornalistas da Agência de Notícias Reuters (1999)
Melhor jogador do Século XX para a IFFHS (1999)
Melhor Jogador do Século para a FIFA (2000)
Prémio carreira nos Laureus World Sports Awards, entregue pelo Presidente Sul-Africano Nelson Mandela (2000)
Prêmio FIFA Ballon d'Or Honorária da FIFA (2014)

Eusébio e Pelé em 1962.

 

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