Mourinho explica o que é ser treinador e «destreinador»

23 jun 2015, 10:17

Português deu palestra sobre o que é ser um técnico de futebol

Os treinadores portugueses estão na elite do futebol mundial fruto dos feitos alcançados em diversos pontos do globo. Só nesta temporada foram seis os técnicos que se superiorizaram à concorrência e terminaram os respetivos campeonatos do topo da tabela classificativa: Jorge Jesus (Benfica), José Mourinho (Chelsea), Paulo Sousa (Basileia), André Villas-Boas (Zenit São Petersburgo), Vítor Pereira (Olympiacos) e Pedro Caixinha (Santos Laguna).

Esta verdadeira galeria de notáveis pode, ainda, ganhar um novo ilustre representante, caso Jesualdo Ferreira conduza o Zamalek à conquista da Liga Egípcia.

Ainda assim, nem só do título de campeão vive o repositório de treinadores portugueses com sucesso além-fronteiras: Leonardo Jardim levou o Mónaco aos quartos de final da Liga dos Campeões e Nuno Espírito Santo reconduziu o Valência à Liga dos Campeões após um ano de ausência.

Aproveitando este enquadramento, a Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa apresentou, nesta segunda-feira, uma pós-graduação em treino de futebol de alto rendimento, que conta que a colaboração de José Mourinho na elaboração do plano de estudos e no corpo docente.



O nome do atual líder do futebol do Chelsea está, de resto, intimamente ligado à emigração massiva de treinadores portugueses: atualmente, são mais de 250 a trabalhar no estrangeiro aproveitando as portas abertas por Mourinho em 2004 quando aterrou em Londres para conquistar o futebol inglês.

José Mourinho aproveitou o regresso à Faculdade de Motricidade Humana, onde se licenciou em 1987, para esclarecer a plateia sobre o que é ser treinador: um conceito em constante mutação que não deve ser regido por mitos urbanos que transfiguram a profissão.

«Há 10 ou 15 anos andávamos a tentar definir o treinador de futebol como um gestor de recursos humanos. Isso durou durante muitos anos. Já concordei, mas, agora, discordo. Passaram-se mais de 1000 jogos sentado no banco de suplentes, vários milhares de sessões de treinos e, por isso, acredito que, antes de ser um gestor de recursos humanos, um treinador é um gestor do próprio conhecimento», sustentou.

E Mourinho explica a mudança de paradigma: «Que tipos de treinadores é que há? Há quem diga que há os bons, os muito bons, os especiais, os menos bons…Eu começo por dizer que há os treinadores e os destreinadores
. Os treinadores são os que melhoram os seus jogadores e as suas equipas, os destreinadores
são os que pioram os seus jogadores e as suas equipas. Mas será que os destreinadores
não têm conhecimento? Eu acho que têm e às vezes até têm demais. Não sabem é gerir o seu próprio conhecimento».



De resto, José Mourinho já por diversas vezes criticou a preguiça mental promovida pela multiplicidade de recursos que atualmente estão disponíveis à distância de um clique. O que marca a diferença é perceber todo o processo e ser capaz de operacionalizar os conceitos pretendidos.

Esta é uma posição já tomada por José Mourinho quando deu a entrevista conjunta ao Maisfutebol
e à «TVI» a respeito da profissão
, publicada na edição especial da MF Total
de 19 de setembro.

«A inteligência é fundamental e o conhecimento experimental também. Parece-me fundamental não só o conhecimento, mas ajudar a pensar, pesquisar e debater. Fundamentalmente, é necessária uma reflexão diária permanente. O nosso processo é um processo imprevisível. Por mais que tentemos reduzir essa imprevisibilidade ao máximo é sempre impossível. É um processo em permanente mutação», reforçou.

Finalmente, José Mourinho deixa uma homenagem a todos aqueles que estão envolvidos no processo de formação: é por eles que aceitou o desafio de regressar a faculdade, desta vez no papel de professor.

«Eu é que quero homenagear-vos. O pouco tempo que tenho ser-vos-á dado. Tenho uma qualidade que o futebol não conseguiu tirar e o futebol também tira qualidades a muitas pessoas. Não me deixei endeusar
e esquecer aqueles que não merecem ser esquecidos. Os formadores são, para mim, merecedores de um respeito especial», rematou.

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