Mourinho, «the unhappy one»: nunca foi tão mau na Liga

2 nov 2015, 10:23
Mourinho (Reuters)

Já igualou o pior número de derrotas de sempre num campeonato e ainda está na 11ª jornada. O dobro dos desaires da época passada e tantos como em dois anos e meio de FC Porto ou nas duas primeiras temporadas no Real Madrid

Uma derrota mais e José Mourinho atinge o máximo (ou mínimos…) histórico. Com o desaire caseiro de sábado, frente ao Liverpool de Jurgen Klopp
, o Chelsea atingiu os seis desaires em 11 jogos da Premier League
. O número só tem paralelo num ano da carreira do técnico luso (2013/14, também nos Blues) e ameaça ser ultrapassado nos…27 jogos que faltam da Liga.

É essa a missão que Mourinho tem pela frente naquele que está a ser o mais duro ano da carreira: evitar atingir o recorde de derrotas na Liga, o que equivale a dizer que não pode sofrer mais nenhuma até maio.

A reviravolta promovida por Coutinho e companhia só não fez soar a sirene de alerta
em Stamford Bridge porque há muito que este Chelsea se mostra uma sombra do passado. E nem é preciso ir muito longe, basta recordar a última época onde, em 38 jogos, Mourinho perdeu três. Metade
do que acontece este ano.

Mas pode ir-se mesmo mais ao fundo e os registos confirmam que este é um ano especial, pelos piores motivos. Apenas uma, em paralelo, no já referido ano do regresso a Londres, em que José Mourinho sofreu as mesmas seis derrotas que agora tem. Terminou essa temporada no terceiro lugar, a quatro pontos do campeão Manchester City. Agora ocupa o 15º posto, a 14 do líder, que volta a ser a equipa dos Citizens.

Em suma, temporada anormal no perfil de um campeão precoce e especialista em campeonatos. É bom lembrar que Mourinho foi campeão em quatro países (Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha), ficando na retina a forma como transformava em fortalezas os seus estádios. Um registo estilhaçado também este ano: dos seis desaires, metade foram em casa.

A primeira derrota…ao primeiro jogo


Parece que foi noutra vida, atendendo ao retumbante sucesso que atingiu desde então, mas a verdade é que a carreira de José Mourinho como treinador principal começou precisamente com uma derrota.

Foi a 23 de setembro de 2000. Mourinho estreava-se como técnico principal à frente do Benfica, num jogo que prometia dificuldades ou não estivesse pela frente um Boavista que caminhava para o feito inédito de vencer a Liga portuguesa. Longe de imaginar nessa altura, claro está.

O Benfica perdeu 1-0 no Bessa, com um golo de Duda, logo aos dois minutos. No seu livro «José Mourinho», editado em 2003, não teve problemas em assumir que «talvez seja, na história do futebol, o treinador que mais cedo sofreu um golo na carreira».


«Acabou por ser um encontro em que o Benfica não esteve nem perto de empatar, porque não conseguiu criar situações de perigo, nem perto de perder por mais»
, lê-se no mesmo livro.



U. Leiria: metade das derrotas deste ano em 19 jogos!


No Benfica, apenas perderia mais um jogo, com o Marítimo, na Madeira e logo por 3-0. Na temporada que se seguiu, Mourinho começou na U. Leiria onde sofreu três derrotas para o campeonato (Boavista, Varzim e FC Porto, sempre fora), antes da mudança para o FC Porto.

Aliás, esse é um exemplo importante. Na equipa mais modesta que treinou na carreira, com objetivo assumido de não descer de Divisão, José Mourinho perdeu, em 19 encontros, metade das vezes deste ano.

Nos dragões, em duas épocas e meia sofreu as mesmas seis derrotas que tem agora. Duas por ano, com um dado importante: duas delas (Paços de Ferreira, 2003 e Rio Ave, 2004) aconteceram em fase de descompressão, já com o título ganho.

Nove anos sem perder em casa


Foi, de resto, no FC Porto que José Mourinho iniciou um dos mais mediáticos recordes da carreira: esteve entre fevereiro de 2002 e abril de 2011 sem perder qualquer jogo em casa nos jogos do campeonato.


O Beira-Mar, treinado por António Sousa, foi a primeira equipa a vencer Mourinho no seu reduto, já este estava no FC Porto (derrotas com Benfica e U. Leira sempre fora de portas), ainda no Estádio das Antas, por 2-3. Comentando esse jogo, Fary, que marcou dois golos nesse jogo, falou sobre o mesmo ao Maisfutebol, em 2010
, lembrando que Mourinho «perdeu porque quis vencer com nove», face às expulsões de Jorge Andrade e Deco.

Nunca mais perdeu em casa no FC Porto. Nem no Chelsea, onde esteve três temporadas e meia; nem nos dois anos do Inter. A derrota caseira surgiu já ao serviço do Real Madrid, frente ao improvável Sp. Gijón, onde alinhava o português Castro, por 1-0. Acabou um registo de 150 jogos sem perder em casa.




No Real Madrid, tal como tinha acontecido na primeira passagem pelo Chelsea ou no Inter, Mourinho só sofreu a sexta derrota na Liga na segunda temporada.

No último ano na capital espanhola (2012/13), Mourinho já tinha igualado o pior registo de sempre, à data, com cinco desaires na Liga, os mesmos que sofrera em 2005/06, pelo Chelsea.

Nos Blues, há dois anos, chegou ao máximo: seis derrotas. Registo agora igualado em apenas 11 jogos. Nunca um campeonato correu tão mal ao português e este ainda está longe de chegar a meio.

Quando se apresentou em Stamford Bridge pela segunda vez na carreira, Mourinho descreveu-se como o «Happy One». O feliz. Um estado de espírito que fica mais distante a cada resultado atípico de uma época anormalmente negra.

As derrotas de Mourinho no campeonato época a época:


2000/01: Benfica, 2 derrotas*
2001/02: U. Leiria, 2 derrotas e FC Porto, 2 derrotas
2002/03: FC Porto, 2 derrotas
2003/04: FC Porto, 2 derrotas
2004/05: Chelsea, 1 derrota
2005/06: Chelsea: 5 derrotas
2006/07: Chelsea, 3 derrotas
2007/08: Chelsea, 1 derrota*
2008/09: Inter, 4 derrotas
2009/10: Inter, 4 derrotas
2010/11: Real Madrid, 4 derrotas
2011/12: Real Madrid, 2 derrotas
2012/13: Real Madrid, 5 derrotas
2013/14: Chelsea, 6 derrotas
2014/15: Chelsea, 3 derrotas
2015/16: Chelsea, 6 derrotas*

*Não fez a temporada completa

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