Luís Neves acredita que os portugueses vão ver resultados a "médio prazo" e garante que a força que chefia está a "trabalhar afincadamente" para localizar e capturar João Rendeiro
O Presidente da República promulgou a Estratégia Nacional Anticorrupção e António Costa prometeu reforço de meios tecnológicos. Luís Neves, diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ), esteve, esta quinta-feira, na CNN Portugal, onde falou acerca do futuro do combate à corrupção, da importância do reforço de meios e da fuga de João Rendeiro.
O líder da PJ começou a entrevista a elogiar a legislação que vigorou até à data, apontando as falhas no combate à corrupção ao fosso “de meios humanos e tecnológicos” existente. “Estamos a tratar de crimes bastante complexos, de análise de muita documentação, de documentação bancária, de utilização de informação que está no estrangeiro e às vezes demora. Normalmente estamos a falar de pactos de silêncio”, explicou.
O facto de não existir uma “vítima direta” que possa reportar e explicar às autoridades de que forma é que foi atacada, dificulta o trabalho das Polícia Judiciária. “Os atacados somos todos nós”, rematou.
Mais inspetores
Luís Neves destacou o elevado número de inspetores que se candidataram e que deverão reforçar os quadros da polícia que lidera ao longo do ano de 2022. O número de inspetores vai aumentar quase 40%.
“Estamos convictos de que, o próximo ano, será um ano de grande ingresso, com mais de 200 inspetores. Uns terminarão o curso em fevereiro, outros terminarão o curso lá para setembro. E, a partir daí, podemos organizar-nos e ter uma estratégia de reforço”, revelou.
Este aumento do número de meios humanos vai permitir à PJ fazer “o maior reforço na área da corrupção e do cibercrime alguma vez feita”, colocando a Polícia Judiciária naquilo que Luís Neves classificou como “um novo caminho”, mais “virtuoso”.
Mais tecnologia
“Para além dos inspetores, vamos contratar – já temos um concurso fechado e outro em curso - 35 de especialistas de polícia científica, sobretudo para tratar das perícias informáticas e digitais e das perícias contabilísticas e financeiras”, explicou.
Estes profissionais, com o apoio “do software adequado” adquirido com ajuda de fundos europeus, vão ajudar a Polícia Judiciária a trabalhar o material informático apreendido, sejam dispositivos de armazenamento USB, sejam computadores ou discos rígidos, de forma a “apresentar resultados com outra rapidez”.
A chaga da corrupção
Sobre o quão grave é o nível de corrupção económica e financeira em Portugal, Luís Neves admite que “é grave”, ainda que existam “vários patamares e vários níveis”. Muitas destas pessoas são “bem preparadas” com “grandes conselheiros” e bons advogados, algo que dificulta o trabalho das autoridades.
“A diferença não será feita em dois ou quatro meses. A médio prazo, veremos resultados bastante melhores. Todos consideramos que o nível de corrupção é grave. É um problema identificado e todos temos de nos unir (…) para podermos mitigar esta chaga, que é relevante e põe em causa a nossa contabilidade e as nossas finanças”, sublinha.
Busca por Rendeiro
Sobre como se explica que a justiça portuguesa tenha deixado fugir João Rendeiro, Luís Neves refere que é difícil aplicar medidas de coação num processo “que levou mais de dez anos até chegarmos às decisões finais”, mas admite que, mesmo que fossem aplicadas, o desfecho poderia ter sido idêntico.
“A não ser que tivesse detido ou com obrigação de permanência na habitação. Passaporte retido? Nada o impediria de fugir por outros meios”, garante.
Questionado acerca do paradeiro do banqueiro fugido à justiça portuguesa, o diretor da PJ garante que as autoridades estão a “trabalhar afincadamente” para descobrir o seu paradeiro e sublinha que “a Polícia Judiciária tem tempo e uma grande paciência” para determinar o paradeiro do antigo banqueiro, que se acredita estar foragido na África do Sul.