Montenegro já tem os seus, agora quer os outros. "Se três migrarem para a AD, isso pode definir a vitória"

1 mar, 19:12

Com as sondagens a colocarem a Aliança Democrática com uma ligeira vantagem face ao Partido Socialista, o líder social-democrata tem repetido quatro argumentos em vários discursos com o intuito de aproximar para si o eleitorado disponível para votar no partido de André Ventura. No dia em que anunciou Durão Barroso como reforço para a campanha, Montenegro pediu também "condições para executar um programa de Governo"

Dois mil quinhentos e sessenta e seis quilómetros depois, Luís Montenegro já tem a certeza que é no eleitorado indeciso e naquele que está disponível para votar no Chega que reside a solução para vencer as eleições. Para os convencer, o líder da AD tem repetido nos seus discursos, em comícios, arruadas, almoços e jantares, quatro ideias fundamentais sobre educação, imigração, subsídios e saúde que, dizem sociais-democratas ouvidos pela CNN Portugal, são a chave para impedir a dispersão de votos à direita.

Um dos momentos mais evidentes surgiu durante uma arruada no centro da Guarda, distrito onde Montenegro espera recuperar o deputado que o seu partido perdeu durante a liderança de Rui Rio. No meio da habitual confusão gerada pelo enxame de câmaras, jotas e militantes da região, Luís Montenegro acabou por deter-se perante uma jovem que lhe contou como teve um acidente de carro e foi obrigada a ir para a Covilhã para ser assistida. “Ainda tenho lá as taxas moderadoras para pagar”, disse-lhe Ana, indecisa de 34 anos - “nós neste momento precisamos de um hospital, se queremos que os jovens fiquem na Guarda é isso que precisamos, porque sem saúde não temos nada”.

Luís Montenegro ouviu-a até ao fim e, no final da arruada, que desembocou num almoço-comício perto da Câmara Municipal, recuperou a história. “Essa foi a principal reclamação ouvida, nós precisamos de garantir o acesso aos cuidados continuados, às urgências e aos médicos de família”, observou, afunilando o tema numa nova tentativa de convencer os indecisos e, principalmente, o eleitorado do Chega, partido que tem crescido, disse, à boleia do Partido Socialista. “Os movimentos mais extremos e populistas devem-se também à incapacidade de se cumprir aquilo que se diz nas campanhas eleitorais.”

“Há muitas razões para protestar, estar insatisfeito e evidenciar cansaço com tantas metas que ficaram por cumprir, mas para se mudar não podemos dispersar o voto”, afirmou, pedindo também a quem o ouvia para não desistir dele com base em tecnicalidades. “Aqueles que querem a mudança, mas estão em dúvida sobre um assunto ou têm uma posição diferente sobre alguma matéria, pensem não nesse assunto em concreto, mas em todo o desenho da proposta política.” “Nós também não estamos de acordo com tudo, mas é preciso concentrar os votos na AD para garantir a estabilidade e governabilidade do país.”

Luís Montenegro em campanha na Guarda/ Lusa

Quatro argumentos repetidos até à exaustão

E para convencer esse eleitorado, Montenegro tem repetido quatro argumentos, muitos dos quais experimentou pela primeira vez há quase uma semana durante um almoço-comício surpresa na Maia. Primeiro sobre o SNS: “Não há Governo mais amigo do privado do que o PS. Entre 2011 e 2015, os tempos em que tivemos de salvar Portugal da bancarrota, inaugurámos sete hospitais; desde que o PS foi para o Governo sabem quantos foram inaugurados? Zero, mas surgiram mais de 30 hospitais privados.”

Depois, sobre a falta de professores, tema em que já vincou uma mão cheia de vezes o mesmo número: os mais de 35 mil professores que estão próximos da idade de aposentação, antes de responsabilizar o Governo por “colocar em causa o futuro do país”. 

Sobre a imigração, questão explorada por Passos Coelho que colocou todos os holofotes na campanha da AD, tem repetido também que quer uma política de “portas abertas, mas não escancaradas”. E que "é preciso integração mais efetiva, para não criar zonas de insegurança". Finalmente, Montenegro tem também insistido no bordão de que recusa “viver num país onde quem trabalha chega ao fim do mês com menos dinheiro do que quem não trabalha” - fê-lo tanto no comício onde Passos esteve presente, como também no desta quinta-feira que teve como protagonista Assunção Cristas.

Entre sociais-democratas há a noção estratégica de que repetir estes quatro temas até à exaustão pode ajudar a trazer o eleitorado do Chega para a AD e também a canalizar o voto dos indecisos, que corresponde já a 22% - segundo a última sondagem - e está muito acima das últimas legislativas. “Parece-me relativamente evidente que há uma tentativa compreensiva da AD de ir buscar eleitorado do Chega, se há 17% de pessoas que votam nesse partido e se três migrarem para a AD, isso pode definir a vitória”, apontou o deputado do PSD André Coelho Lima.

Luís Montenegro brinda com vinho do Porto durante a manhã num café na Guarda

Por outro lado, o objetivo também é fugir o máximo possível a tricas e bocas viradas a outras campanhas até ao dia 9 de março. “A estratégia está a ser essa e é acertadíssima, para conquistarmos os indecisos precisamos de concentrar todos os momentos a falar de nós e não a falar dos outros”, defendeu Álvaro Amaro à CNN Portugal pouco depois de ouvir o discurso desta tarde de Luís Montenegro. 

O antigo governante dos tempos das maiorias absolutas de Cavaco Silva destacou também a tática de Montenegro de trazer a si as mesmas bandeiras do Chega, mas de uma forma mais moderada, sob a justificação de que um voto no partido de André Ventura será um voto que apenas vai beneficiar o Partido Socialista. “É preciso termos humildade de dizer aos eleitores que estão zangados, que querem protestar e reclamar, que se dispersarmos mais votos, estamos a ajudar o PS.”

Luís Montenegro, referiu por sua vez André Coelho Lima, “tem sido muito cauteloso” nessa matéria, “no sentido de manter uma posição de moderação e nunca largar o centro”. “Tem feito o possível para não perder o centro porque, com certeza, sabe que pode ganhar dois ou três pontos à direita e perder seis ao centro, que são aqueles que no fundo decidem as eleições.”

Esse balanço, disse o deputado, nota-se em dois momentos esta semana. Por um lado, “nas declarações de Passos Coelho que Montenegro vem de alguma forma contradizê-las no dia a seguir”, por outro, “nas declarações de Paulo Núncio sobre o aborto que também vem refutá-las no dia a seguir”. “Veio demarcar-se daquelas posições mais próximas ao eleitorado do Chega.” 

No mesmo dia em que Luís Montenegro anunciou Durão Barroso como o novo reforço da sua campanha e o descreveu como “uma mais valia para o próximo governo”, o presidente da AD foi também ensaiando o seu apelo à maioria - isto já depois de, no dia anterior, ter dado uma nega ao repto da Iniciativa Liberal que pedia uma maioria clara entre os dois partidos. Ganhar, declarou Montenegro, é importante, mas é preciso “criar condições de estabilidade e governabilidade”. “Tenho uma grande confiança de que vamos ter condições para executar um programa de Governo (...) estou convencido que os portugueses vão dizer que querem uma mudança segura que se traduza em novas políticas”, reiterou.

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