Homem que liderou buscas pelas crianças que desapareceram 40 dias na Colômbia é suspeito de violência doméstica e de tentativa de abuso da enteada de 13 anos

13 jun 2023, 19:27
Manuel Ranoque (AP Photo/Ivan Valencia)

Instituto Colombiano do Bem Estar Familiar está a investigar o caso para decidir a quem entregar a guarda das crianças - que continuam internadas no Hospital Militar de Bogotá

O pai de duas das crianças que estiveram 40 dias desaparecidas na selva amazónica na Colômbia é suspeito de violência doméstica sobre os filhos, as duas enteadas e a mulher, Magdalena Mucuty, que morreu no acidente. A denúncia foi feita pelo avô materno, Narciso Mucutuy, que em declarações à revista colombiana "CasaMondo" revelou que Manuel Miller Ranoque, que sabe-se agora é pai apenas de Tien e Cristian (os dois mais novos, de cinco anos e 12 meses), chegou mesmo a tentar abusar de Lesly, a mais velha dos irmãos.

Na mesma reportagem, publicada no domingo, pode ler-se que "Lesly estava habituada a esconder-se no mato com os irmãos em Puerto Sábalo, na comunidade Predio Putumayo, o maior reservatório da Colômbia, um território de quase seis milhões de hectares de floresta amazónica". "Fazia-o para fugir das agressões que Manuel Miller Ranoque, padrasto e marido da mãe, infligia a ambas quando estava zangado."

"Um dia, bateu no pescoço da minha filha com uma catana", revelou Narciso Mucutuy que luta agora para que o Instituto Colombiano do Bem Estar Familiar (ICBF) lhe conceda a guarda das quatro crianças.

Narciso, que falou com a revista colombiana no Hospital Militar de Bogotá - onde as crianças estão internadas -, revelou ainda que uma vez Lesly se escondeu do "animal" durante três dias no monte para evitar ser espancada, uma vez que Manuel Ranoque apareceu em casa alcoolizado.

Pai nega acusações

Em declarações ao jornal El Tiempo, o pai e padrasto dos menores nega todas as acusações. O homem que se tornou no rosto das buscas por Lesly, Soleini, Tien e Cristin disse que as denúncias têm como único objetivo tirar-lhe a guarda das crianças. 

Ranoque afirmou ainda que, ao longo dos 40 dias de buscas, aqueles que o denunciaram não estiveram à procura das crianças.

"Mostrei o que é ser pai, preparei comida para aqueles que estavam à procura dos meus filhos, ajoelhei-me e tive de suportar muita coisa. Nunca me viram chorar, nunca me viram perder a fé, sempre lhes disse que íamos conseguir", lembrou.

No entanto, perante as suspeitas, o caso está a ser investigado pelo ICBF e pela procuradoria, que vai intervir no processo de atribuição dos direitos das crianças. E, segundo o jornal La Tercera, Manuel Ranoque tem sido impedido de visitar as enteadas Lesly e Soleini, de 13 e nove anos.

"Foi designado um procurador judicial para intervir administrativamente nos procedimentos a realizar no âmbito do processo de restituição de direitos que está a ser levado a cabo pela Provedoria da Família", declarou o ICBF.

Astrid Cáceres, diretora do ICBF, afirmou em declarações ao jornal colombiano, que os avós já foram ouvidos e que as denúncias "estão no processo de restabelecimento de direitos", ressalvando que "é a autoridade administrativa que toma as decisões". 

"O mais importante neste momento são as crianças, a sua saúde, que não é apenas física, mas também emocional, a forma como as acompanhamos emocionalmente", acrescentou.

Crianças respondem bem aos tratamentos

Em comunicado, divulgado esta terça-feira, o Hospital Militar de Bogotá revelou que os quatro irmãos estão estáveis e a responder bem aos tratamentos e que a unidade hospitalar "colocou à disposição todos os recursos necessários para tratar as alterações nutricionais e carências hidroeletrolíticas das crianças e minimizar os riscos associados ao seu estado clínico atual".

"As crianças, desde 10 de junho, estão sob cuidados profissionais interdisciplinares, recebendo cuidados abrangentes e gestão articulada pelas diferentes especialidades clínicas, de acordo com as necessidades particulares de cada uma das crianças", refere o hospital.

A bebé Cristin, de um ano, está nos cuidados intensivos, "não por uma questão de gravidade, mas para a vigiar porque é a mais pequena e o Hospital Militar tem tudo preparado para a acompanhar".

As crianças receberam esta terça-feira a visita do ministro da Saúde, Guillermo Alfonso Jaramillo, que quis tranquilizar os colombianos pela "boa saúde das crianças" e reconhecer os profissionais à frente do caso.

Lesly, de 13 anos, Soleini, de nove, Tien, de cinco e Cristin, de um, estiveram 40 dias desaparecidos na selva amazónica na Colômbia depois de a avioneta em que seguiam com a mãe, Magdalena Mucuty, ter caído. As causas do acidente estão a ser investigadas. 

Durante as buscas, um dos cães pisteiros - Wilson - que ajudou a encontrar os menores, desapareceu. As buscas pelo animal continuam no terreno. 

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