Do ponto de vista físico, os quatro meninos estão a recuperar muito bem. Mas têm de receber apoio psicológico. A mais velha só quer ver televisão, conta o ministro da Defesa colombiano. O avô das crianças revela que sobreviveram a comer farinha, que tiraram do avião acidentado e sementes
As quatro crianças que foram resgatadas da selva amazónica, na Colômbia, 40 dias depois do acidente com o avião em que seguiam que lhes matou a mãe, estão em estado de choque. Quem o diz é o ministro da Defesa colombiano, Iván Velásquez, que acrescentou que os meninos terão de receber apoio psicológico.
“Encontram-se num estado de assombro, o que é muito compreensível. (…) A menina mais velha está muito interessada em ver televisão, em ver programas infantis. Contam-nos as enfermeiras que, desde ontem, quando chegou, por volta da meia-noite, a primeira coisa que pediu foi que lhe trouxessem um televisor e ainda não parou de ver televisão”, revela Iván Velásquez.
O ministro sublinha que as crianças “estão muito chocadas e têm de ser submetidas a um acompanhamento psicológico”. “Foi uma experiência muito dura. Não dizem uma frase completa, acredito que precisamente por causa desse estado de comoção e de temor em que devem estar”, reforça.
Comeram farinha e sementes
De acordo com o avô das crianças, Fidencio Valencia Mucutui, os quatro meninos sobreviveram 40 dias na selva a comer farinha de mandioca, que retiraram do avião após o acidente, e sementes que foram recolhendo.
Citado pela Caracol Radio, Fidencio confessa que não esperava encontrar os netos “tão bem de saúde”. “Fugiram [do local onde o avião caiu], levaram farinha e com isso sobreviveram. Depois de acabar a farinha, começaram a comer sementes”, conta.
Fontes das esquipas de resgate acrescentam que os kits alimentícios que foram lançados para a selva pelos helicópteros das forças armadas colombianas foram fundamentais para a sobrevivência das crianças.
“Jamais se abandona um companheiro”
Enquanto as quatro crianças recuperam no hospital, seguem as buscas por Wilson, o pastor alemão de seis anos que participou nas buscas e que terá sido preponderante para os militares conseguirem localizar as crianças.
Através das redes sociais, o Exército colombiano faz saber que as Forças Especiais, através das Células Combinadas de Busca, continuam a procurar Wilson, no agreste terreno da selva amazónica colombiana.
Wilson, juntamente com Ulises, faziam parte da equipa de buscas. Wilson desapareceu a meio das buscas. Havia esperanças que estivesse com as crianças, já que haviam sido encontradas pegadas de cão juntamente com pegadas de criança. Contudo, quando foram encontrados os meninos, o cão não estava com eles. As Forças Armadas colombianas mantêm a esperança de que esteja perdido, desorientado por causa da “humidade e das adversas condições climatéricas”, mas que se mantenha vivo.
O comandante das Forças Militares, Major General Helder Giraldo, respondeu aos apelos lançados nas redes sociais para que não se desistisse de Wilson, garantindo que tal não vai acontecer.
“A nossa premissa nos comandos é que jamais se abandona um companheiro caído em combate. Avança a #OperaçãoEsperança na busca do nosso canino Wilson”, escreveu no Twitter.
#GeneralGiraldo: "Nuestra premisa como comandos: Jamás se abandona a un compañero caído en el campo de combate. Avanza la #OperaciónEsperanza en la búsqueda de nuestro canino Wilson, que haciendo rastreo y en su afán de encontrar a los niños se aleja de las tropas y se pierde" pic.twitter.com/YwevvJuyIk
— Fuerzas Militares de Colombia (@FuerzasMilCol) June 10, 2023
Os quatro irmãos passaram 40 dias na selva, depois de, no dia 1 de maio, o avião ter caído. A mãe, Magdalena Mucutuy, o piloto, Hernando Murcia Morales, e o líder indígena Herman Mendoza morreram na sequência do acidente.
Lesly, de 13 anos, Soleiny, de nove, Tien, de quatro, e Cristin, que completou o primeiro ano de vida perdida na selva com os irmãos, sobreviveram durante mais de um mês, até serem encontrados, esta sexta-feira.
Os conhecimentos que têm da selva e que lhes foram transmitidos pelos seus antepassados da comunidade indígena Witoto terão sido preponderantes para que fossem capazes de reconhecer os perigos e aproveitar o que a floresta lhes podia dar para sobreviverem.