Entrevista exclusiva à CNN Portugal: "Não me podendo apanhar a mim, a justiça apanhou a Maria"
Na primeira vez que dá a cara desde que fugiu à justiça a 28 de setembro deste ano, João Rendeiro assumiu, numa entrevista exclusiva à CNN Portugal, toda a responsabilidade sobre a alegada venda e falsificação de parte das obras de arte arrestadas pelo Estado há 11 anos, assim ilibando a mulher.
Sou eu o responsável total sobre qualquer matéria relacionada com o alegado descaminho."
O ex-banqueiro assegura que "os ataques" que têm sido feitos a Maria de Jesus Rendeiro não o vão fazer mudar de ideias e regressar a Portugal.
"Se a ideia, ao atacar a Maria, é fazer-me regressar a Portugal, não terá qualquer êxito”
O antigo presidente do Banco Privado Português (BPP) afirma ainda que a mulher só foi detida porque as autoridades não o conseguiram “apanhar” a ele: "Parece-me claro que a justiça, não me podendo apanhar a mim, apanhou a Maria".
Maria de Jesus e João Rendeiro estão juntos desde os 17 anos e são casados há 49, mas a mulher não o acompanhou na fuga à justiça portuguesa. Segundo o ex-banqueiro, Maria de Jesus Rendeiro tem outros “três grandes amores” que não conseguiu deixar para trás: "É uma pessoa que gosta do seu cantinho e da sua conchinha, sobretudo dos seus três grandes amores, com os quais eu não consigo competir, que são as três cadelinhas que nós temos.”
Recorde-se que a mulher de Rendeiro está em prisão domiciliária com pulseira eletrónica e com vigilância policial, na Quinta Patino, em Alcabideche, Cascais, tendo sido detida no âmbito da operação D’Arte Asas, dirigida pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e executada pela Polícia Judiciária (PJ).
Foi também condenada a pagar mil euros por "atuação excecionalmente grave" e incumprimento dos deveres de fiel depositária dos quadros arrestados ao ex-banqueiro, considerando o tribunal que esta sabia das falsificações e do desvio das obras.
"Em face de todo o exposto, condeno Maria de Jesus da Silva de Matos Rendeiro, fiel depositária dos objetos apreendidos a 11.11.2010, pela sua atuação excecionalmente grave e desconforme aos deveres a que ficou adstrita, no pagamento de multa processual em montante equivalente ao máximo legal de 10 (dez) unidades de conta”, lê-se na decisão da juíza Tânia Loureiro Gomes, datada de 2 de novembro.
O antigo presidente do BPP, condenado no final de setembro a três anos e seis meses de prisão efetiva num processo por burla qualificada, está em parte incerta após ter fugido à justiça.
O colapso do BPP, banco vocacionado para a gestão de fortunas, aconteceu em 2010, já depois do caso BPN e antecedendo outros escândalos na banca portuguesa.
O BPP originou vários processos judiciais, envolvendo burla qualificada, falsificação de documentos e falsidade informática, bem como processos relacionados com multas aplicadas pelas autoridades de supervisão bancária.