Democratas, Democracia, Republicanos e Trumpismo

15 nov 2022, 15:09

Os resultados das eleições intercalares e o futuro da América

E, no final, os Democratas respiraram. A onda vermelha não chegou, nem afundou Joe Biden a meio do mandato. Ficou-se por uma (ainda por fechar) mais tímida maioria na Câmara dos Representantes e voltou a perder o Senado, cedendo até um mandato que empurrou ligeiramente a balança para o partido no poder. O Congresso, agora perfeitamente dividido, será o reflexo um pouco mais fiel da América que saiu das eleições presidenciais, da América atual e, porventura, da América que ainda está para vir.

Quando as projeções apontavam para uma enchente Republicana, Biden, com as suas cinco décadas de serviço público, mediu o pulso ao país e sentiu o que as análises - que condenavam os Democratas à priori pela incapacidade em acertar a mensagem eleitoral - manifestamente não sentiam: uma mobilização subestimada às urnas em resposta aos seus repetidos apelos para defender a democracia. E parte dessa América parece ter respondido, galvanizada pela proteção do direito ao aborto, traumatizada pela experiência do 6 de Janeiro, receosa da ameaça dos aliados negacionistas e conspiracionistas de Donald Trump que encheram em peso as listas dos Republicanos. A democracia, convocada por Biden, resistiu por isso à narrativa incendiária da rejeição alimentada por Trump e pelos seus candidatos. Se as eleições intercalares, histórica e tradicionalmente, representam um referendo ao Presidente, desta vez, o guião já escrito não foi seguido. Biden conseguiu uma semi-vitória que, em certa medida, reforçou as lições de 2020 e que dá pistas para o futuro. 

Ainda assim, mesmo que a onda não se tenha levantado, existe de facto uma outra América que continua a encarar Biden como um líder ilegítimo e que agora se vê representada no Congresso – em menores números do que as projeções sinalizavam, é certo. Mas nessa menor representação dos candidatos de Trump, ao contrário do que se esperava, há ainda um outro lado que pode desvendar a metamorfose futura dos Republicanos: uma vontade de trumpismo, talvez sem Trump.

Talvez com Ron DeSantis, depois da vitória esmagadora na Flórida que chegou até a redutos Democratas? Foi o resultado da noite eleitoral que ombreou o ex-Presidente e a relançou dúvidas sobre a sua real influência. Na expectativa de uma onda demolidora, Trump procurou apanhar boleia do momento para se lançar numa muito provável nova corrida à Casa Branca. Os resultados, entretanto, esvaziaram esse ímpeto. 

E se é certo que, na América Republicana, há bases trumpistas mais radicais que continuam a valer para as contas e que se infiltraram em cargos estaduais com responsabilidade na certificação de resultados, como um sintoma grave que corrói a saúde instituições pela rejeição do mais básico princípio democrático – reconhecer a vitória do adversário escolhido por aqueles que os negacionistas juraram representar, o povo -, também é certo que o Partido deverá procurar reflexões sobre o alcance desse radicalismo para vencer de forma contundente umas eleições.

Será este o advento do neo-Trumpismo?

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