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Agroforestry, Ecosystem Services e ESG | LAND FUND

A importância dos modelos de gestão florestal na recuperação paisagística e na economia nacional

28 jul 2023, 15:00

Muito há a dizer sobre estas matérias, que suscitariam uma panóplia diversificada de debates, já que não existe uma decisão única, correta e concertada! Na natureza não é possível encontrar apenas uma solução válida, por existir uma imensa diversidade de fatores, tornando fundamental a ponderação técnica e o equilíbrio entre aspetos sociais, ambientais e económicos, conduzindo a mais do que uma opção correta em função dos objetivos subjacentes e da tomada de decisão.

Dito isto, o nosso país, desde sempre, encerra alguns constrangimentos pela fragmentação da propriedade, característica de algumas regiões, por grande parte da titularidade ser detida, de forma dispersa, por privados, por existir um mercado de produtos florestais restritos a meia dúzia de fileiras principais, que condicionam as espécies para instalação/manutenção e os modelos de gestão florestal praticados. Conduzindo, assim, a um ordenamento do território focado no escoamento dos produtos para as principais indústrias, não atendendo muitas vezes às especificidades de cada região, e ainda menos aos ecossistemas e habitats que ocorreriam se a natureza seguisse o seu percurso de sucessão ecológica (climax natural).

Acredito que a perspetiva está a mudar, não por uma mudança no setor e cultura florestal, mas por uma alteração de paradigma associado à pressão mundial dos efeitos das alterações climáticas, das finanças sustentáveis (SFDR-Sustainable Finance Disclosure Regulation), da COP26 e subsequente e da COP15 com o acordo da biodiversidade. Estes pontos encerram uma oportunidade única, no sentido da gestão florestal não se restringir a uma mera rentabilidade associada aos produtos florestais diretos, que naturalmente condiciona tanto as opções de planeamento, como a paisagem nacional. Podendo, finalmente, existir um justo valor e rentabilidade associada aos serviços dos ecossistemas (ex. carbono, biodiversidade, água, solo, turismo da natureza), que o espaço rural fornece à sociedade e que atualmente é prestado sem qualquer retribuição financeira para o produtor.

A recuperação do nosso território, juntamente com uma gestão de paisagem adaptada a cada estação reduzirá os custos na implantação de novos e diversos modelos de gestão, assumindo povoamentos com espécies autóctones mais resilientes e minimizando situações de monocultura que levam a maiores perdas económicas caso exista uma catástrofe. Isto permitirá não só uma maior sobrevivência das espécies - por terem uma maior capacidade de adaptação -, como também uma obtenção de produtos diferenciados e em diferentes fases de vida do povoamento, e ainda uma maior resistência a pragas e doenças, mas também a secas e fogos mais frequentes em contexto de alterações climáticas. Desta forma, será possível gerar um maior retorno para o proprietário, quer seja através de receitas (através dos serviços de ecossistemas), quer seja através da valorização do território na sua globalidade, levando ao fomento da sociedade e do país.

Os mais céticos poderão continuar a afirmar que existe sempre um risco associado a soluções de base natural, na medida em que não conseguimos controlar a natureza!

Mas não será, cada vez mais preocupante e gritante, agirmos em prol da natureza e da sua preservação, conciliando com o aproveitamento dos seus recursos?

A título de exemplo, podemos continuar a explorar a pinha, a resina, a cortiça, e as árvores continuarão em atividade vegetativa, a sequestrar carbono e a fomentar a biodiversidade no nosso país! Com esta gestão ativa poderemos reduzir ou minimizar os riscos de fogos rurais e os custos associados ao seu combate.

Haverá quem diga, que só será possível termos sequestro de carbono se não fizermos a exploração de madeira, mas será que não é possível assegurar a permanência de uma grande parte do povoamento assumindo técnicas antigas de desbastes pé a pé ou desbastes pelo alto ou pelo baixo? Garantindo que os povoamentos têm coberto arbóreo em permanência e sementões? Será que para conseguirmos uma rentabilidade contínua e uma permanência da floresta associada aos serviços de ecossistema, apenas bastará a aplicação de novos modelos de gestão e técnicas inovadoras que impossibilitem opções radicais e unilaterais, e que garantam a conciliação da imensa panóplia de serviços e produtos que a floresta nos oferece, e que bem escassos são? Acho que posso arriscar e dizer: Sim!

Joana Reis de Oliveira | Agroforestry, Ecosystem Services e ESG | LAND FUND

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