Jugoslávia: O declínio de uma potência O futebol parou no tempo, passado para segundo plano num país em guerra e em crise. O Maisfutebol esteve em Belgrado e fez o diagnóstico de um país que há uma década estava no auge.
Ivan Dudic tem contrato com o Benfica até 2005, mas depois de dois anos em Portugal, o último apenas a treinar com a equipa B, sem jogar, voltou à Jugoslávia. O lateral-direito recebeu o Maisfutebol e explicou o ponto de vista de um jogador, que coloca inevitavelmente a sua situação pessoal à frente dos superiores interesses do futebol no país.
«O dinheiro é o primeiro problema aqui. Como não há dinheiro não se podem pagar bons treinadores, bons campos, e a qualidade não sobe. Não há dinheiro, os clubes não podem comprar jogadores ou pagar salários altos, e por isso não há qualidade. Os bons jogadores jugoslavos jogam nos dois grandes e ao fim de algum tempo vão embora do país.»
O próprio Dudic reconhece que foram as circunstâncias a levarem-no para o RAD Belgrado, mas que o futuro que pensa para si não passa pelo seu país. Estrela Vermelha e Partizan, os dois grandes clubes da Jugoslávia, não venderam nenhum jogador este ano, mas o defesa do Benfica não encara isso como um sinal de progresso. «Seria bom se os jogadores tivessem ficado por dinheiro, mas foi um pouco sinal da crise que há no futebol europeu. Nenhum jogador joga por gelados. A carreira de um jogador não é de 30 anos, é de 10, e todos querem ir para o estrangeiro fazer o máximo de dinheiro possível. Não estamos a ganhar dinheiro para um ano, mas sim para a vida. Quando acabarmos a carreira não queremos ir trabalhar para um café.»
Uma das quatro melhores ligas europeias
A própria progressão dos jogadores no campeonato local, defende, é travada pela falta de competitividade. Dudic usa como exemplo o Partizan, acabado de eliminar o Sporting, e onde despontam alguns valores. «O Partizan tem alguns jovens promissores, como Lazovic, mas o capitão Sasa Ilic era tão bom como ele naquela idade. Só que passa um ano e mais outro e os jogadores não têm possibilidade de ir para o estrangeiro, há apenas interesse mas nada se concretiza, e não evoluem», explica, contrariando a tese de outros mais optimistas.
«Só há duas equipas na actual Jugoslávia capazes de jogarem bom futebol e fazer carreira nas competições europeias: o Estrela Vermelha e o Partizan. As outras são todas um pouco frágeis. Não há gente nas bancadas. O estádio do Estrela Vermelha, que leva mais de 50 mil pessoas, na maior parte dos jogos do campeonato não tem mais de 500. Depois, no jogo com o Partizan, enche. Há só dois jogos numa época inteira que valem a pena.»
Tudo muito longe do que acontecia há dez anos e sem grandes perspectivas para melhorar, segundo o lateral-direito. «A liga da antiga Jugoslávia chegou a estar, para mim, nas quatro melhores da Europa. Havia grandes clubes na Croácia, na Eslovénia, na Macedónia, países que agora enfrentam o mesmo tipo de problemas da Jugoslávia.»
Os problemas estendem-se até às selecções, embora Dudic considere que a Jugoslávia não está pior que os países vizinhos. «Não estivemos no Mundial, o que foi muito mau para todos, porque a federação perdeu dinheiro e os jogadores perderam contacto internacional e a possibilidade de darem nas vistas, mas tínhamos estado antes no Europeu. A Croácia fez um óptimo Mundial em 98, mas não conseguiu ir ao Europeu de 2000 e agora mostrou uma selecção muito envelhecida; Suker e Boksic já não correm como quando tinham 25 anos. A Eslovénia tem apenas dois jogadores a jogarem com regularidade em grandes clubes, o Zahovic (Benfica) e o Acimovic (Tottenham).»
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