Brincadeira de revista no escândalo do Mundial-2006

7 jul 2000, 16:12

«Titanic» afundou credibilidade da votação Afinal, foi uma revista alemã que mandou cartas a membros do comité executivo da FIFA prometendo presentes em troca do voto na Alemanha para o Mundial-2006. Mas persistem algumas dúvidas, nomeadamente em torno do representante da Oceânia, cuja abstenção foi decisiva

Uma revista satírica alemã reclamou a autoria da carta enviada a alguns membros do comité executivo da FIFA, oferecendo presentes em troca do voto na candidatura da Alemanha para organizar o Mundial-2006. A existência dessa carta, bem como outras suspeitas de corrupção, levaram já a FIFA a abrir um inquérito interno.  

«Fomos nós que tomámos esta iniciativa», afirmou Martin Sonneborn, editor-chefe da revista Titanic, contando que funcionários da revista enviaram por faxe a oito dos 24 membros do comité executivo mensagens prometendo presentes a troco do voto na Alemanha. Alguns prometiam «um cesto de especialidades da Floresta Negra», como salsichas, presunto e um relógio de cuco. 

O secretário-geral da Federação alemã, Horst Schmidt, disse que a conifissão dos responsáveis do Titanic confirmava que tudo não tinha passado de um embuste. 

Mas subsistem algumas dúvidas no processo que deu a vitória à Alemanha, em detrimento da África do Sul. O representante da Oceânia, Charles Dempsey, cuja abstenção foi decisiva na votação, alegou ter recebido, além do tal faxe, telefonemas ameaçadores. 

Dúvidas em torno do representante da Oceânia 

Os responsáveis da Federação e do Governo neo-zelandês afirmaram já que Dempsey tinha ordens expressas para votar na África do Sul e querem saber porque é que isso não aconteceu.  

De acordo com outro membro do comité executivo, Ismail Bhamjee (Botswana), no dia da eleição Dempsey fez a certa altura uma declaração, dizendo que não iria prosseguir com a sua votação: «Disse que tinha sido acusado de suborno e corrupção e que não iria votar mais depois de a Inglaterra ter sido eliminada.» 

Dempsey, de 78 anos, está ainda em viagem de regresso a casa e revelou mais esclarecimentos para segunda-feira. Mas o seu discurso é amargo. «Os últimos dois dias foram horríveis. O futebol já não é um desporto, é um cenário político», afirmou à Reuters, terminando com uma resposta radical, quando lhe perguntaram o que é que lhe podia acontecer quando chegasse a casa: «Posso levar um tiro, não sei.» 

Além da África do Sul e de Marrocos, concorriam à organização do Mundial-2006 Marrocos e a Inglaterra. A eleição faz-se em eliminações sucessivas. Primeiro foi Marrocos a sair, depois a Inglaterra e no final a Alemanha venceu por 12-11. Se Dempsey tivesse votado, haveria empate e a votação seria decidida pelo voto de qualidade de Sepp Blatter, o presidente da FIFA, apoiante confesso de um Mundial em África. 

A África do Sul diz ainda que vai conduzir a sua própria investigação para apurar o que se passou.

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