Leandro e o F.C. Porto: «Se for preciso, peço desculpa!»

12 nov 2000, 18:20

Maisfutebol entrevistou-o em Florença A época corre-lhe bem, leva cinco golos marcados no mesmo número de jogos, quer ser o melhor marcador do campeonato italiano, rasga elogios a Rui Costa e Nuno Gomes, reconhece a perspicácia do Benfica ao contratar Marques. Só não esquece um final de tarde de que não se orgulha, com uma fuga para Florença depois de um compromisso que não chegou a assinar com o F.C. Porto. Leandro confessou-se ao Maisfutebol à porta do Artemio Franchi.

Encolhido no blusão, que parecia querer abraçar por dentro, Leandro dava a sensação de ter mingado. Tremia à porta do Artemio Franchi, vencido pelo seu pior adversário europeu. «Este frio ainda me mata», comentava, com um sorriso tímido, apesar de empenhado. Mas só o brinco, quase minúsculo, brilhava na orelha esquerda. Sabia que pagaria caro pelo gracejo. «Isto é só o começo», tinham-lhe dito. Estremecia de novo num calafrio. As golas felpudas, em que esfregava a cara, já não serviam de grande ajuda.  
 
Leandro só aqueceu com a conversa. Ao ouvir pronunciar o nome do F.C. Porto, o clube com que dizia sonhar, o mesmo que deixou de contrato na mão por assinar, enquanto escapava para Florença, interrompeu os pulinhos e deixou-se estar boquiaberto por dois segundos. Amaral, que passara por perto numa pausa da fisioterapia, bem que o avisara. «Português é problema». Brincara apenas, mas Leandro estava capaz de o levar a sério.  
 
Era assunto em que preferia nem tocar. Mas assim, apanhado de surpresa... Não podia fugir de novo. Ponderou, escolheu as palavras uma a uma e disse ter o F.C. Porto na mesma consideração que um dia o fizera deixar o Brasil. «Respeito muito o Porto». A voz, ao contrário do corpo, que retomara os exercícios de aquecimento depois de refeito da surpresa, não vacilava. Cria, apesar de tudo, não ter fechado a porta das Antas. «Quem sabe se um dia não volto para ficar?», interrogou-se. «Nunca se sabe o dia de amanhã».  
 
Naquele final de tarde, a imagem que deixara em Portugal no Verão passado voltava a incomodá-lo. «É claro que essas questões me preocupam», admitia. As distâncias não faziam diferença. «Não me agrada que digam mal de mim. Sobretudo, se aquilo que se diz não corresponder à verdade». E era o caso, estava seguro. Não aprofundaria a questão, lembrando apenas ter ficado à margem do desentendimento que envolveu o seu representante e o F.C. Porto, mais as percentagens do seu vencimento que o empresário reclamava. Houve, contudo, um pormenor que o fez pensar duas vezes: os portugueses propunham-se comprar metade do passe no acto da transferência e a parte restante no ano seguinte. «A Fiorentina dispunha-se a pagar tudo. Pareceu-me mais seguro».  
 
Leandro confessava-se, mas o sentimento de culpa, ainda que ténue, persistia. Pensava numa penitência. «Não sei se há alguma forma de poder retractar-me». Aceitava sugestões. «Se eu pudesse fazer alguma coisa, faria». Cinco segundos de interrogações não lhe trariam resposta nem ajuda. «Se tiver que pedir desculpa, também peço». Outra solução não lhe ocorria. Em alternativa, podia deixar a conversa por ali, dando o assunto, de que não se orgulha, por morto e enterrado.  
 
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