Rejeitado no Arsenal, estudou para professor e é o novo herói australiano

13 jun 2022, 23:56
A festa australiana pelo apuramento para o Mundial 2022

Andrew Redmayne foi lançado aos 120 minutos diante do Peru e defendeu o penálti decisivo que levou a Austrália ao Mundial2022. O experiente guardião viu Szczesny roubar-lhe um lugar nos «gunners» quando tinha 16 anos, mas colheu esta segunda-feira os frutos da perseverança

Andrew Redmayne viveu, nesta segunda-feira, o maior momento da carreira. Na terceira internacionalização pela Austrália, o guarda-redes entrou aos 120 minutos na partida diante do Peru e foi a «carta secreta» do selecionador Graham Arnold para as grandes penalidades.

Durante o momento de tensão, pareceu relaxado e até brincou com a situação, tendo protagonizado uma dança viral sobre a linha de golo. Travou apenas um remate, mas foi o decisivo e ajudou a Austrália a carimbar o quinto apuramento consecutivo para o Mundial.

Mas, afinal, quem é este guarda-redes que nunca jogou fora do seu país?

Redmayne tem 33 anos e é jogador do Sydney desde 2016/17. Apesar de nunca ter representado nenhum clube que não fosse australiano, o guardião já pisou outros relvados, nomeadamente na Europa. Quando tinha apenas 16 anos, foi convidado a fazer testes no Arsenal, mas os gunners preferiram Wojciech Szczesny.

O guardião australiano surpreendeu com uma exibição num torneio perante os juvenis dos londrinos e, depois de algum tempo, já convivia com nomes como Thierry Henry e Cesc Fabregas. Parecia que tudo se encaminhava para assinar por um dos maiores clubes ingleses.

«Fomos ao escritório do [diretor da academia do Arsenal] Liam Brady e ele disse que estava preparado para oferecer algo para mim e para a minha mãe, o que fez o meu coração apertar. Dissemos que pensaríamos sobre a escola e como tudo funcionaria», contou.

Mais tarde, antes de se juntar ao clube, enviou um e-mail a explicar quais os planos para a viagem, mas a resposta que recebeu não era, de todo, a desejada. «Eles responderam: 'Acabámos de contratar um jovem guarda-redes, então não podemos ter nove guarda-redes para três equipas, os seus serviços não são mais necessários'.»

Ainda assim, não guardou rancor do Arsenal e até se tornou um adepto.

«Eles estavam no auge, foi na última temporada em Highbury. Foi uma experiência surreal e algo que eu ainda olho para trás e valorizo até hoje. Foi uma aprendizagem fantástica na altura e que realmente me inspirou a esforçar-me mais no futebol», recordou à FNR.

Mais tarde, em 2017, Redmayne teve oportunidade de defrontar o Arsenal num amigável de pré-época e, apesar da derrota (2-0), esteve em plano de destaque, o que levou Arsène Wenger a admitir que tinha cometido um erro. «No final das contas, eu diria que o guarda-redes deles foi o homem do jogo esta noite. [Lembra-se de Redmayne ter treinado no clube?] Não, não me lembro, mas se ele esteve connosco, então cometemos um erro», vincou.

A partir de então, o australiano vestiu as cores do AIS, Central Coast, Brisbane Roar, Melbourne City, WS Wanderes, antes de chegar ao Sydney, onde não era primeira opção para a baliza.

A mudança para Sydney ocorre numa altura em que Redmayne ponderava pendurar as luvas. «Eu estava um pouco cansado», disse à News Limited, em 2019. «Ainda adorava trabalhar e gostava de treinar e do balneário. Mas acho que se tratou de autoconfiança, simplesmente não achava que era bom o suficiente», acrescentou.

Tapado por Danny Vukovic – que esta segunda-feira até estava no banco da Austrália – só começou a ser opção regular seis meses depois, quando o companheiro foi vendido. Aí, deu-se o clique.

«Eu costumava ser atormentado pela dúvida. Agora, quando estou em campo, tenho confiança em mim mesmo e posso contribuir para a equipa. Fisicamente e mentalmente, sou uma pessoa e tenho um caráter completamente diferente do primeiro dia aqui», contou mais tarde.

«Sinto-me muito mais confortável agora, não apenas fora de campo, mas em campo, com o que estou a fazer. Estou apenas a adorar a vida.»

As tarefas de Redmayne, ainda assim, não se remetem às quatro linhas. Aproveitando uma bolsa de educação da Associação Profissional de Jogadores, escolheu estudar para poder tornar-se professor quando terminar a carreira.

«É algo com o qual muitos jogadores de futebol se preocupam, mas não falam abertamente», disse Redmayne à Fox Sports, em 2018.

«Gosto muito de ver que não são apenas bolsas de educação oferecidas, mas também servem para preparar os atletas para a vida após o futebol. Há muitas doações distribuídas para os jogadores montarem negócios e desenvolverem outras habilidades para se prepararem para a vida depois», acrescentou o futebolista que gosta de estudar nas viagens «em aviões, comboios e nos hóteis».

Andrew Redmayne é, nestas últimas horas, visto como um herói na Austrália, mas nem sempre foi assim. Contudo, apesar das críticas e rejeições do passado, Graham Arnold, confiou no pupilo que já havia treinado enquanto treinador de clube e a aposta foi claramente ganha.

Aos 33 anos, o guardião australiano vive o momento mais alto da carreira, o que só foi possível graças ao melhor atributo que o acompanha desde muito novo: a perseverança. Essa também ganha jogos.

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