Quer saber quanto tempo vai viver o seu cão? Meça-lhe o focinho 

CNN , Amanda Schupak
13 fev, 16:00
Scampi corre atrás da bola enquanto mais de 100 dachshunds e os seus tutores, membros do Sausage Dog Club Bath, se reúnem em frente ao histórico Royal Crescent no Royal Victoria Park, a 2 de abril de 2017, em Bath, Inglaterra. Matt Cardy/Getty Images

Novo estudo mostra conclusões surpreendentes sobre o melhor amigo do homem

O seu cão é um macho pequeno com nariz comprido? Ou uma fêmea de porte médio com um focinho de proporções médias? Nesse caso, é mais provável que o seu companheiro peludo esteja ao seu lado durante muito tempo, de acordo com uma nova investigação. Mas se o seu cão tiver um focinho achatado, as perspectivas podem ser menos otimistas.

Um grande estudo publicado esta semana analisou dados de mais de 584.000 cães do Reino Unido e descobriu que o comprimento do focinho, juntamente com o tamanho do corpo e o sexo, pode influenciar a duração de vida de um cão.

"Um macho de tamanho médio e focinho achatado, como um buldogue, tem três vezes mais probabilidades de ter uma vida mais curta do que uma fêmea de tamanho pequeno e focinho comprido, como um Dachshund ou um Galgo italiano", disse Kirsten McMillan, investigadora de dados da Dogs Trust, a maior instituição de caridade para cães do Reino Unido, e principal autora do artigo publicado na revista Scientific Reports.

"Estes cães não estão bem"

Os autores do estudo examinaram dados de 155 raças e misturas. Enquanto um Labrador retriever ou um Border Collie tinham uma esperança média de vida de pouco mais de 13 anos, os investigadores descobriram que, em geral, os cães de focinho achatado ou braquicefálicos tinham uma esperança de vida mais baixa. Este grupo de cães com nariz mais curto incluía Mastins (9 anos), Buldogues Ingleses (9,3 anos) e Buldogues Franceses (9,8 anos).

"Este artigo mostra às pessoas que, a nível populacional, estes cães não estão bem", afirmou McMillan.

Um sobrevivente com focinho achatado destacou-se nos resultados: os Lhasa Apsos registaram uma das mais elevadas esperanças médias de vida: 14 anos. Este valor está próximo dos Shiba Inus (14,6), Papillons (14,5), Dachshunds miniatura e galgos italianos (14).

A maior parte dos resultados enquadra-se nos padrões esperados. As fêmeas viveram mais tempo do que os machos e os cães pequenos mais tempo do que os cães grandes. Os cães de pequeno e médio porte com um focinho pronunciado viveram, em média, mais de 12 anos, enquanto os cães de focinho achatado de todos os tamanhos ficaram aquém dessa marca.

Este panorama sombrio pode ou não ser uma surpresa para os tutores de Buldogues Franceses, a raça de cães mais popular nos EUA (no ano passado, destronaram os Labradores, que detinham o título há três décadas.). É bem sabido que estes adorados cães com orelhas de morcego estão predispostos a uma série de problemas de saúde, muitas vezes devido à sua forma de rosto achatada: problemas respiratórios, infeções cutâneas e problemas oculares, para citar alguns. Os Pugs e os Buldogues Ingleses também enfrentam estes problemas.

O Brachycephalic Working Group, um consórcio de organizações veterinárias, associações de criadores e organizações sem fins lucrativos do Reino Unido, declarou "uma crise de saúde e bem-estar" para as raças com focinho achatado.

"Esta nova pesquisa sublinha estes importantes problemas de saúde ao revelar que os cães de focinho achatado vivem 1,5 anos menos do que os cães típicos", observou em comunicado Dan O'Neill, professor associado no Royal Veterinary College em Londres e presidente do grupo de trabalho. "Pedimos a qualquer pessoa que esteja a pensar adquirir um cão de uma raça com focinho achatado que 'pare e pense' e garanta que adquire um cão com as melhores hipóteses de uma vida longa e feliz."

Esme Wheeler, especialista em bem-estar canino da Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals, concorda. "Compreendemos perfeitamente porque é que há tanto amor por estas raças, mas criar características corporais que comprometem a saúde e o bem-estar dos animais de estimação é errado", considerou. "A saúde e o bem-estar devem ser sempre a prioridade, não as modas ou as tendências estéticas."

Nem O'Neill nem Wheeler contribuíram para a investigação.

Embora limitados ao Reino Unido, os resultados seriam provavelmente semelhantes nos EUA, especialmente no que diz respeito aos cães de raça pura, uma vez que são bastante comuns em todo o mundo, antecipou o veterinário Silvan Urfer, especialista em longevidade canina da Universidade de Washington, que não esteve envolvido no estudo. No entanto, ele presume que pode haver mais diferenças entre as misturas no Reino Unido e nos EUA.

"É um excelente estudo que expõe muito bem a questão da criação de cães de focinho curto", defendeu Urfer. "Não me surpreende nada o facto de as raças braquicefálicas (de rosto achatado) não viverem tanto tempo."

O debate sobre cães de raça

Uma das conclusões mais surpreendentes do estudo foi o facto de os cães de raça pura viverem cerca de oito meses mais do que os cães de raça mista, conhecidos por rafeiros. Este resultado está em desacordo com a sabedoria convencional de que os cães de raça mista tendem a ser mais saudáveis e fortes do que os de raça pura. Mas o estudo atual pode não revelar o cenário completo, argumentou McMillan.

Os dados, recolhidos junto de veterinários, registos de raças, organizações de salvamento e companhias de seguros de animais de estimação, dividiram os cães em duas categorias: raça pura e raça mista. Dentro da categoria de raças mistas, os dados não distinguiam entre cães vadios geneticamente diversos e cruzamentos intencionais, ou "designer dogs", como o Cockapoo [cruzamento entre Poodle e Cocker Spaniel], o Labradoodle [Labrador retriever e um Poodle] e o Cavachon [Cavalier King Charles Spaniel e Bichon Frisé].

Não se trata de misturas aleatórias ou de produtos da seleção natural. "Estamos a falar de cães criados estrategicamente e isso mudou as regras do jogo", apontou McMillan. A Dogs Trust já está a trabalhar num novo estudo para determinar se estes cruzamentos populares têm uma esperança de vida mais longa ou mais curta do que as raças de que são derivados.

"Os designer dogs, cães de cruzamento de duas raças puras, são um fenómeno relativamente novo, pelo que a população é maioritariamente jovem", indicou Urfer. O estudo da população à medida que cresce e envelhece permitir-nos-á compreender melhor a saúde e a longevidade destas raças em expansão.

O estudo inclui milhões de pontos de dados, mas não representa necessariamente todo o espectro da vida dos cães de companhia, sublinhou McMillan. Por exemplo, nem toda a gente tem seguro para animais de estimação ou faz visitas regulares ao veterinário.

A investigação também não teve em conta a causa da morte, que normalmente é a eutanásia.

"As preocupações éticas e de bem-estar em torno da criação de cães tornaram-se uma das questões mais importantes - se não a mais importante - do bem-estar canino", afirmou McMillan.

Espero que este artigo seja um catalisador para que os decisores políticos, o governo, os veterinários, os tutores, todos se perguntem: "Porque é que estes cães estão a morrer?"

"Será muito difícil responder, mas sempre que respondemos, nem que seja a uma pequena parte, estamos a progredir no sentido de ter uma população canina muito mais saudável."

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