Apaixonaram-se nas férias, mas seguiram caminhos diferentes. Quatro anos depois, ela enviou-lhe um e-mail: "Lembras-te de mim?"

CNN , Francesca Street
11 fev, 19:00
Gabriella Vagnoli e Dan Watling conheceram-se na Escócia em 2002, mas perderam o contacto. Quatro anos depois, Gabriella contactou-o. Montagem CNN

Gabriella viajou para a Escócia com um grupo de amigos da universidade, Dan foi arrastado pelo irmão. O clique entre a italiana e o americano foi imediato, mas os dois estavam longe de imaginar que seria para a vida

Gabriella Vagnoli nunca esqueceu aquela viagem à Escócia.

Tentou não pensar nisso, para "eliminar completamente esse capítulo". Conhecia Dan Watling há apenas alguns dias. Ele vivia nos EUA e ela pensou que nunca mais o veria.

Mas quando o seu namoro de longa data em Itália começou a desvanecer-se, a mente de Gabriella regressou ao que sentiu ao caminhar ao longo do Loch Ness com Dan na primavera de 2002. Pensou nos olhos dele, "muito azuis, bonitos, impressionantes". Lembrou-se de como se tinham sentado juntos, no montanhoso Old Man of Storr, a olhar para a Ilha de Skye, a partilhar histórias sobre as suas vidas.

Estávamos em meados de 2006 quando Gabriella finalmente digitou o nome de Dan no Google. Nessa altura, as redes sociais eram muito recentes. Não tinha a certeza de que iria aparecer alguma coisa. Tinha-se convencido de que Dan já tinha seguido em frente há muito tempo. Já não tinham 22 anos.

"Eu pensei: 'Oh, vou ver, nesta altura ele já deve estar casado, os americanos casam-se cedo. Quem sabe o que ele está a fazer?", recorda Gabriella à CNN.

Para sua surpresa, Dan apareceu de imediato. Fotografias dele numa viagem de três meses pela Europa, alguns anos antes.

"Ele parecia diferente, mais robusto, mais experiente", diz Gabriella.

Continuava a ter os mesmos olhos bondosos. Para Gabriella, ele parecia "ainda mais bonito".

Gabriella decidiu enviar uma mensagem a Dan.

"Lembras-te de mim?", escreveu.

Uma aventura escocesa

Dan Watling e Gabriella Vagnoli fotografados quando se conheceram na Escócia em 2002. Bill Watling

Gabriella e Dan conheceram-se nas margens do Loch Ness, a grande massa de água nas Terras Altas do Norte da Escócia, conhecida como a casa do mítico Monstro do Loch Ness.

Na altura, Gabriella estava a meio do seu curso universitário em Itália e a terminar um ano de estudos no Reino Unido.

"Eu e um grupo de amigos de Itália, Alemanha e Portugal decidimos fazer esta viagem à Escócia juntos", conta Gabriella.

O grupo dirigiu-se a Edimburgo para apanhar um autocarro de turismo que viajava mais para norte. Foi uma viagem de três dias, com várias paragens para visitar os pontos altos das Highlands.

Dan estava na mesma excursão e diz que o seu irmão Bill o "obrigou" a participar na viagem à Escócia. Ele andava muito focado no seu trabalho como programador de software em Chicago. Nunca tinha viajado muito.

"Ele comprou-me o bilhete e ajudou-me a obter o passaporte e tudo o resto. Por isso, essencialmente, não tive outra hipótese senão ir", diz Dan à CNN.

O Bill planeou tudo. Foi ele que escolheu a excursão de mochila às costas e certificou-se de que entravam no autocarro.

Tudo isto era um pouco fora da zona de conforto de Dan, de 22 anos, mas ele estava entusiasmado por lá estar.

Havia cerca de 15 pessoas na excursão, incluindo a Gabriella e o seu grupo de amigos da faculdade. Quando o grupo entrou no autocarro, o guia sugeriu que os viajantes se apresentassem à vez.

A Gabriela foi uma das primeiras. Disse ao grupo que era de Pisa, em Itália. Falou da sua paixão pela música.

"Lembro-me de ter ficado 'impressionado' quando a Gabi se apresentou", recorda Dan. "Achei que ela era muito bonita e interessante."

Quando Dan se apresentou, nervoso, Gabriella também ficou impressionada.

"Reparei no Dan por causa dos seus olhos", lembra. Ele parecia tímido, um pouco envergonhado por estar a falar em frente a um grupo de estranhos. E Gabriella não conseguiu parar de olhar para ele.

A primeira paragem foi no Loch Ness. O guia e a maior parte do grupo desceram até à margem do lago, mas a Gabriella e o Dan não se juntaram logo a eles.

"Em vez disso, afastámo-nos e começámos a falar", diz Dan.

A primeira conversa foi um pouco estranha - no seu nervosismo, Dan perguntou a Gabriela como era viver em Roma. Ela assumiu que ele não tinha estado atento quando ela se apresentou e disse que partilhava uma casa com a famosa torre inclinada.

Depois disso, as coisas melhoraram. Gabriella e Dan continuaram a conversar enquanto admiravam, ao longe, a vasta extensão do Loch Ness e as imponentes ruínas do Castelo de Urquhart.

O clique em Skye

De volta ao autocarro, Gabriella e os seus amigos sentaram-se com Dan e o seu irmão Bill. O grupo começou a jogar Uno para passar o tempo. À medida que o autocarro se dirigia para noroeste, as estradas tornavam-se mais estreitas e a paisagem que se vislumbrava da janela do autocarro era ainda mais impressionante. Por fim, o autocarro atravessou a ponte para Skye, a famosa ilha escocesa conhecida pelas suas paisagens deslumbrantes - montanhas espetaculares, vales pitorescos e castelos antigos.

Gabriella não queria acreditar na vastidão da paisagem. Parecia um mundo longe da vida urbana a que estava habituada.

"Fiquei realmente impressionada e foi lindo", relembra.

Mas enquanto Dan se lembra de se ter apaixonado imediatamente "pelas rochas, pelas colinas, pelas cascatas, pelas nuvens e por tudo o resto", a sua principal recordação de Skye é a de se ter apaixonado por Gabriella.

"Lembro-me sobretudo de estar com ela", diz. 

Skye foi uma “momento chave”, concorda Gabriella.

O guia levou-os ao Old Man of Storr, uma formação rochosa que oferece uma vista incrível das colinas e falésias enevoadas de Skye, com o mar ao fundo. O grupo caminhou até ao cume.

Gabriella e Dan escalaram juntos o Old Man of Storr durante a sua estadia na Ilha de Skye. Crédito: 1111IESPDJ/E+/Getty Images

O irmão de Dan e os amigos de Gabriella iam à frente. Mas Gabriella e Dan foram devagar, mais concentrados um no outro do que nas vistas.

"Estávamos a caminhar e a fazer muitas perguntas um ao outro", diz Gabriella.

No final, Gabriella e Dan pararam antes de chegarem ao topo do cume e sentaram-se juntos num dos penhascos mais baixos, completamente absorvidos um pelo outro.

"Ir até ao Old Man of Storr foi, para mim, o momento em que senti realmente uma ligação", diz Dan.

Ele mal conhecia Gabriella, mas sentiu que podia ser ele próprio com ela. Nunca tinha vivido nada assim.

Gabriella gostou mesmo de Dan.

"Falámos muito", diz Gabriella. "Ele era muito querido."

Mas para Gabriella, a situação era mais complicada. Ela tinha um namorado em Itália. E enquanto Dan era um romântico, Gabriella era mais pragmática. Ela achava que a ligação deles não ia durar mais do que a estadia na Escócia.

"Fizemos esta viagem e foi muito romântico. Havia uma grande ligação, mas foi uma viagem curta", diz Gabriella. "Não nos iria levar a lado nenhum."

Perder o contacto

Quando a excursão chegou ao fim e o grupo regressou a Edimburgo, Gabriella e Dan despediram-se, sem saber exatamente em que pé estavam. Trocaram endereços de correio eletrónico.

"Lembro-me de lhe ter enviado um e-mail assim que cheguei a casa", conta Dan.

Dan e Gabriella "mantiveram o contacto durante algum tempo", indica Gabriella.

Mas pouco tempo depois, ela cortou a ligação.

"Pouco tempo depois, decidi que era melhor não manter o contacto", conta. "Queria concentrar-me na minha vida em Itália. Não tinha qualquer desejo de me mudar para os Estados Unidos. Tinha uma vida diferente e pensei: 'Sabes que isto não vai a lado nenhum. É melhor não continuarmos com isto'."

Para Gabriella, a sua vida em Itália parecia real e o tempo que passou com Dan na Escócia parecia um sonho. Tentou traçar um limite e seguir em frente. Para o tornar definitivo, bloqueou o email de Dan.

Quando Dan recebeu o e-mail de despedida de Gabriella, ficou "um pouco destroçado".

Tentou seguir em frente, mas não foi fácil.

"Estava sempre a pensar nela", reconhece. 

A viagem à Escócia também abriu o mundo de Dan e abriu-lhe o desejo de viajar. No ano seguinte, em 2003, regressou à Europa, e viajou, durante três meses,  de mochila às costas por várias cidades europeias.

Dan incluiu a cidade natal de Gabriella, Pisa, no itinerário - em parte para ver a Torre inclinada, mas sobretudo porque esperava, contra todas as probabilidades, encontrar a rapariga que tinha conhecido no verão anterior na Escócia.

Quando o comboio chegou à estação de Pisa, Dan não pôde deixar de olhar à sua volta, na esperança de encontrar Gabriella.

"Ela tinha-me dito que tinha trabalhado na estação de Pisa como empregada de mesa", conta. "Mas, claro, ela não estava lá."

De volta aos Estados Unidos, Dan namorou com algumas pessoas, mas nunca houve nada de sério.

"Não havia aquela ligação. Definitivamente não era a mesma coisa. E não era o que eu sentia com ela."

Criou um site com as fotografias da sua viagem de três meses pela Europa.

E, em 2006, o e-mail surpresa de Gabriella chegou à sua caixa de correio eletrónico.

Restabelecer o contacto

Quando Dan leu o e-mail de Gabriella, ficou incrédulo.

"Ela esteve sempre presente na minha mente", diz. "Sempre tive esperança de que nos pudéssemos voltar a encontrar de alguma forma. Por isso, claro, quando recebi o e-mail, fiquei muito contente."

Ele respondeu de imediato. Gabriella escreveu-lhe de volta. Os dois começaram a trocar e-mails regularmente, "conversavam muito", lembra Gabriella.

"É uma loucura que ele não se tenha esquecido de mim, porque, como eu disse, foi uma viagem curta. Mas ele estava a pensar em mim", diz.

Tentaram fazer videochamadas - um conceito relativamente novo em 2006. "Era difícil vermo-nos com as imagens granuladas da webcam. Mas ouvir a voz um do outro de novo foi especial. Falámos literalmente sobre tudo", conta Dan.

Por coincidência, quando Gabriella voltou a entrar na vida de Dan, ele estava a planear uma viagem à Oktoberfest em Munique, na Alemanha.

"Não estava nos meus planos ir a Itália quando comecei a planear a viagem. Mas depois, quando recebi o e-mail dela, decidi: 'Bem, vou para Itália, de certeza'", diz Dan.

Dan e Gabriella combinaram encontrar-se na cidade toscana de Siena, não muito longe de Pisa, em setembro de 2006.

No autocarro para Siena, Gabriella disse a si mesma: "Vamos só encontrar-nos e eu mostro-lhe a cidade." Embora Gabriella tivesse gostado de falar com Dan online, estava "ainda muito em negação" sobre o que poderia acontecer a seguir.

O momento em que Gabriella e Dan se voltaram a ver foi intenso.

"Quando a vi sair do autocarro, chorei", conta Dan. "Fiquei incrivelmente feliz por vê-la de novo."

"Não esperava que fosse tão emocionante quando o vi e que tivesse tanto impacto em mim", diz Gabriella. "Fiquei novamente impressionada com os seus olhos. Foi romântico. Não pensei que fosse tão marcante, mas foi. Havia qualquer coisa entre nós."

"Uma ligação", diz Dan.

"Algo muito, muito único", concorda Gabriella. "Desde o momento em que nos vimos. É difícil de explicar."

Gabriella e Dan dizem que a sua ligação foi "impressionante". Gabriella Vagnoli e Dan Watling

Passaram o dia a passear juntos por Siena. Não conseguiam parar de olhar um para o outro e de sorrir, quase tontos de excitação.

"Lembro-me de passear pela Piazza del Campo e de como estava feliz por estar ali com ela", diz Dan.

Quando se despediram, as coisas ainda ficaram "em aberto", diz Dan. Mas, ao contrário do que aconteceu quando se separaram na Escócia, parecia haver uma promessa de futuro.

"Creio que Siena foi o momento em que as rodas começaram a girar para ambos, no sentido de começarmos a pensar no que significaria ter uma verdadeira relação um com o outro", observa Dan.

Para Gabriella, os anos de separação, o reencontro inesperado e o facto de a ligação ainda existir deram-lhe a confiança necessária para aceitar os seus sentimentos por Dan.

"Acho que ambos precisámos desses anos de crescimento para nos encontrarmos verdadeiramente", diz Gabriella.

Longa distância

Depois de Dan ter visitado Gabriella em Itália, Gabriella visitou Dan nos Estados Unidos. Aqui, juntos no Bryce Canyon. Gabriella Vagnoli e Dan Watling

Alguns meses mais tarde, Gabriella planeou uma viagem aos Estados Unidos para visitar Dan em Chicago. Tencionava ficar quase um mês.

"Três, quatro semanas, algo do género, o que era uma loucura para fazer com um tipo que eu não conhecia bem", conta Gabriella.

Na primeira noite, Dan levou-a a jantar fora com o seu irmão Bill e a mulher, e também com a sua mãe.

"Foi um pouco difícil conhecer a mãe dele na primeira noite que lá cheguei", diz Gabriella.

Mas apesar do cansaço do voo, Gabriella sentiu-se imediatamente acolhida pela família de Dan. Foi ótimo voltar a ver o Bill. Era emocionante estar nos Estados Unidos. E Dan segurou-lhe a mão toda a noite.

O único contratempo durante a viagem de quatro semanas foi o facto de Gabriella ter descoberto os dotes culinários de Dan, ou a falta deles.

"Digo sempre que o salvei porque ele estava tão privado, comia tão mal", ri-se Gabriella. "Disse-me: 'Vou levar-te a tomar o melhor pequeno-almoço de sempre'. E levou-me ao McDonald's."

Como fã de comida italiana, Gabriella ficou ligeiramente horrorizada. Mas por outro lado também achou a situação cativante. E durante a viagem, ensinou Dan a cozinhar massa.

No ano seguinte, em 2007, Gabriella regressou aos Estados Unidos e tirou uma licença para ficar com Dan durante três meses. Lá, Gabriella aproveitou para estudar e obteve uma qualificação para ensinar italiano como língua estrangeira.

Nessa altura, Gabriella e Dan já falavam sobre o seu futuro e de como seria para ficarem juntos a longo prazo. Não queriam continuar a namorar à distância durante muito tempo. Falaram sobre a possibilidade de Dan se mudar para Itália ou de Gabriella para os Estados Unidos. 

O casal no topo da Torre inclinada de Pisa. Pisa é a cidade natal de Gabriella. Gabriella Vagnoli e Dan Watling  

"Foi muito rápido, mas, ao mesmo tempo, sabíamos que era sério", diz Gabriella.

Como Dan estava mais estável no seu emprego e tinha uma casa, Gabriella concluiu que a sua mudança para os Estados Unidos seria a escolha óbvia.

"Ele tinha uma vida mais estável", admite Gabriella.

Por isso, fez planos para se mudar e arranjou um emprego como professora de italiano numa escola de línguas na zona de Chicago. E em novembro de 2007, Dan pediu-a em casamento. O casal estava de férias na cidade histórica de Galena, no Illinois.

"Passámos uma noite agradável e romântica ", recorda Dan. "Senti que era o momento certo e pedi-a em casamento em italiano. E ela disse que sim."

Dan e Gabriella fizeram uma pequena cerimónia nos Estados Unidos em 2008 e depois uma grande festa de casamento em 2009 em Itália, numa "bela villa renascentista no campo, com frescos maravilhosos" chamada Villa di Corliano, na cidade toscana de San Giuliano.

Os amigos de faculdade da Gabriella, que estavam na Escócia quando ela conheceu Dan, vieram celebrar.

"Foi um reencontro divertido", diz Gabriella.

A celebração do casamento de Gabriella e Dan foi marcada por lágrimas de felicidade. 

"Quando entrei, estávamos os dois a chorar", diz Gabriella. "O Dan chorou quando me viu. Eu estava a chorar quando entrei. Por isso, foi muito querido."

Dan não sabia muito italiano - apesar dos seus esforços para aprender. Começou a chamar a Gabriella "mi amore" - o que, como Gabriela lhe disse, é "gramaticalmente incorreto ". Mas ela achava adorável.

"Gravei na minha aliança de casamento", diz ela. "E depois chamava-lhe 'docinho'. Por isso, ele tem 'docinho' dentro da aliança."

Embora Dan tivesse dificuldades com o italiano, queria que Gabriella ouvisse os votos de casamento na sua língua materna.

Por isso, escreveu o que queria dizer, traduziu as frases para italiano e memorizou-as.

"Foi muito, muito querido", diz Gabriella.

No casamento, Gabriella e Dan também partilharam outra feliz notícia com os seus convidados: Gabriella estava grávida.

"Foi giro anunciá-lo no casamento", recorda Gabriella.

Um grande passo 

Gabriella e Dan a celebrar o seu casamento em Itália, em 2009. Gabriella diz que foi neste momento que Dan recitou os seus votos em italiano. Cortesia de Walter Moretti

Recém-casados, Gabriella e Dan começaram um novo capítulo juntos nos EUA. Estavam entusiasmados por estarem juntos e com o nascimento iminente do seu filho.

Mas para Gabriella mudar-se para o estrangeiro foi difícil.

"Sei que muita gente sonha em mudar-se para os Estados Unidos, mas esse não era um dos meus sonhos", diz. "Foi muito difícil porque Chicago é um sítio muito frio."

Antes de se mudar, Gabriella tinha consciência de que ir para o outro lado do mundo era um grande passo. Queria estar com o Dan, mas sabia que ia ter saudades de Itália, da família e dos amigos.

Antes de tomar a decisão, Gabriella falou com a sua mãe, que pensou ser capaz de compreender as suas emoções contraditórias.

A mãe era brasileira e o pai italiano. Em meados da década de 1970, a mãe de Gabriella mudou-se do Brasil para Itália para estar com ele. O casal conheceu-se alguns anos antes, quando o pai de Gabriella visitou o Rio de Janeiro.

"Ela mostrou-lhe o Rio e ele disse que voltaria dentro de dois anos para casar com ela", conta Gabriella. "Dois anos depois, eles casaram-se. Claro que não sei todos os pormenores, mas em miúda achava que era a história mais romântica de sempre."

A história de amor dos seus pais fez com que Gabriella crescesse a pensar que "a ideia de alguém se mudar para longe para estar com outra pessoa" não era "completamente implausível". Mas também significava que Gabriella conhecia alguns dos desafios de deixar o seu país para trás.

A mãe de Gabriella aconselhou-a a ponderar a decisão cuidadosamente.

"Ela disse-me para pensar bem, porque era uma decisão importante.”

Mas a mãe de Gabriella também disse à filha para seguir o seu coração. O pai concordou.

"Ambos viram que o Dan era especial e muito empenhado; e sentia-se o amor", diz Gabriella. "Gostaram logo dele."

Quando Gabriella e Dan constituíram família nos Estados Unidos, dando as boas-vindas ao seu primeiro filho em 2009 e ao segundo alguns anos mais tarde, viajavam regularmente para Itália para os visitar sempre que podiam. Gabriella ensinou italiano aos seus filhos e educou-os sobre a sua herança brasileira.

E embora a adaptação ao frio de Chicago tenha sido difícil, Gabriella atribui à sua mudança para os Estados Unidos a descoberta de uma nova e inesperada carreira.

Sempre gostou de desenhar e rabiscar, mas até ir viver para os Estados Unidos nunca tinha pensado em transformar esse passatempo num emprego. Vivendo em Itália, associava a arte a "Miguel Ângelo".

"Para o bem e para o mal, há o peso da história italiana e de toda a arte que veio antes", diz Gabriella.

Em Itália, intitular-se como artista não lhe parecia correto. Mas nos Estados Unidos encontrou uma "mentalidade diferente". Para Gabriella, a arte e o design americanos pareciam "muito mais inovadores".

Por isso, quando os seus filhos eram pequenos, Gabriella voltou à escola para estudar ilustração de livros infantis. Agora desenha para ganhar a vida.

A vida atual

Atualmente, Gabriella e Dan vivem felizes em Seattle, Washington, com os seus dois filhos. Gabriella Vagnoli e Dan Watling

Atualmente, Gabriella e Dan vivem em Seattle com os seus dois filhos adolescentes. Mudaram-se para Seattle há alguns anos e descobriram que a paisagem lhes fazia lembrar um pouco a Escócia, o local onde se conheceram e se apaixonaram pela primeira vez.

"Fomos os dois atraídos para lá, porque há uma semelhança - não só o clima, um pouco chuvoso e cinzento - mas também o oceano, as rochas e a natureza selvagem", diz Gabriella.

Embora Gabriella e Dan ainda não tenham regressado à Escócia juntos, gostavam muito de o fazer. Desta vez, querem ir a Skye e subir ao topo do Old Man of Storr.

Entretanto, têm-se concentrado em explorar novos lugares juntos.

"Temos em comum o facto de gostarmos de viajar muito, de explorar coisas novas, sítios novos", conta Gabriella.

Embora estejam unidos pelo amor à aventura, Gabriella e Dan insistem que são bastante diferentes em muitos outros aspetos. Ele descreve-se como um “nerd” da programação informática. Ela é apaixonada por arte e música. Ele é um romântico. Ela é mais pragmática.

Mas "temos em comum algo mais profundo ", como diz Gabriella.

"Talvez a nossa perspetiva sobre o que é importante na vida", observa Gabriella. "Ambos pensamos que a nossa família está em primeiro lugar, que os nossos filhos estão em primeiro lugar, e não o trabalho."

Também se apoiam mutuamente nos momentos difíceis, como quando a mãe de Gabriella faleceu em 2022.

Hoje, após 15 anos de casamento, Gabriella gosta de chamar à sua relação com Dan um "namoro de férias que correu mal".

"Porque um namoro de férias é suposto acabar nas férias", ri-se. "Que loucura, ele é o tipo que conheci na Escócia nessa viagem e estamos casados, temos filhos e somos felizes."

Dan diz que se lhe tivessem dito, aos 22 anos, sentado no Old Man of Storr ao lado de Gabriella, que acabaria casado com esta desconhecida italiana, acreditaria piamente. Ele nunca ultrapassou aquele primeiro encontro.

"Senti imediatamente essa ligação", diz ele, acrescentando que reencontrar Gabriella e construir uma vida com ela foi como "ganhar a lotaria".

"Sinto-me incrivelmente sortudo por ter conhecido a Gabi em 2002 e incrivelmente sortudo por nos termos reencontrado anos mais tarde", diz Dan. "Não seria quem sou hoje sem a ter tido ao meu lado."

"Também acho que tivemos uma sorte incrível", acrescenta Gabriella. "Olho para os meus filhos e penso em todas as incríveis coincidências que tiveram de acontecer para eles estarem aqui agora, e fico maravilhada."

"Não consigo acreditar na sorte que tivemos, mas também acho que quando se sabe, sabe-se. Estou contente por ter seguido o meu coração."

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