Há 29 anos, a final da Taça dos Campeões Europeus ficou marcada pelo «hooliganismo». Morreram 39 pessoas. Houve 600 feridos
29 de maio de 1985Foram 39 as pessoas que morreram e os feridos chegaram às seis centenas. Esse foi o número de vítimas resultante da «tragédia do Heysel», em 29 de maio de 1985. Nesta quinta-feira, assinalam-se 29 anos sobre o que aconteceu.
É uma tragédia que nunca será esquecida, não só pelo mundo do futebol, mesmo que não tenha sido a maior, mesmo que não tenha sido a última. Aconteceu numa final da Taça dos Clubes Campeões Europeus – jogo que 29 anos depois se tem
Liverpool e Juventus foram jogar o título europeu de clubes ao Estádio do Heysel, em Bruxelas, na Bélgica. Um estádio velho. Adeptos dos dois clubes em setores vizinhos do estádio. Quando ainda havia lugares em pé. Quando o hooliganismo
Nem palco adequado, nem segurança à altura. Como nada se esperava do que veio a acontecer. Os adeptos ingleses invadiram o setor Z, onde estavam italianos e belgas. A carga dos ingleses implicou uma fuga que resultou numa catástrofe. Os fugitivos atropelaram-se, ficaram encurralados contra uma parede, que acabou por cair também em cima de mais pessoas.
A reportagem da «British Pathé» não foi exata na contagem do número de vítimas. Foram 39 mortos e 600 feridos (não 41 e 350, respetivamente). Mas as imagens relembram bem o horror que não precisa de recuperar o choque para não ser esquecido. Porque também foi visto em direto. Porque foi sucedido pelo jogo. Porque o futebol, também, nunca mais foi o mesmo.
O ambiente entre adeptos do Liverpool e da Juventus já estava em combustão desde o início desse ano. Em janeiro de 1985, os dois clubes defrontaram-se num jogo único para decidir entre os vencedores da Taça dos Campeões e da Taça das Taças de 1984 a atribuição da Supertaça Europeia.
Depois de ter vencido o FC Porto na Taça das Taças, a Juventus ainda herdeira dos campeões mundiais italianos de 1982 continuou a somar títulos europeus e venceu a equipa inglesa – acabada de vencer o tetra europeu de clubes em menos de uma década.
A explosão entre adeptos acabou por acontecer – como nunca se tinha visto em prime time
Apesar da batalha campal que se sucedeu aos acontecimentos mais trágicos de todos, aos muitos minutos seguidos de violência que continuaram (também em direto), o jogo também não deixou de se realizar. Argumentou-se que, se não houvesse partida, as coisas poderião ainda ser piores. E a Juventus ganhou: 1-0.
Os contornos com que tudo foi feito, desde a realização do jogo até à sua decisão – com um penálti assinalado pelo árbitro suíço André Daina a castigar um derrube de Gillespie sobre Boniek à chegada à meia-lua – mais não foram do que resultados da mancha indelével que ficou daquela noite de 29 de maio.
A roupagem
Houve mudanças que, além das óbvias e obrigatórias na segurança ou no controlo do hooliganismo
Um dos exemplos mais significativos foi a saída de Ian Rush do Liverpool em 1987. Porque o ponta de lança galês foi jogar a temporada 1987/88 na... Juventus.
As coisas foram mudando. Mas há umas que demoram mais do que outras. Em 2005, 20 anos depois da tragédia do Heysel, Juventus e Liverpool voltaram a encontrar-.se numa eliminatória de uma competição europeia. Jogaram-se ao quartos de final da Liga dos Campeões. Anfield Road preparou o reencontro com a Juve dedicando aos italianos uma mensagem de «amizade».
Muitos italianos não esquecem. Ou não querem deixar esquecer, como fizeram questão de responder em pleno estádio.
Ressentimento, mágoa à parte, o futebol já não é como há 29 anos. Mudou muito. De tal forma que, na Europa, é liderado pelo jogador que converteu o penálti que decidiu a vitória da final de 1985: Michel Platini. Em relação a tragédias como que a que aconteceu, conta-se no presente que seja impossível voltarem a acontecer. Do que aconteceu espera-se que o que permaneça seja a memória do que nunca pode voltar a acontecer.