Diogo Santos Coelho está em prisão domiciliária no Reino Unido desde 2022
Portugal decidiu pedir a extradição do jovem hacker português, Diogo Santos Coelho, que está em prisão domiciliária no Reino Unido e em risco de ser extraditado para os Estados Unidos, onde pode enfrentar uma pena de 57 anos de prisão.
Segundo adiantaram à CNN Portugal os advogados do jovem o Ministério Público português aceitou o pedido da defesa do hacker e "ordenou a emissão do mandado de detenção para efeitos de extradição do Diogo para Portugal".
A decisão passa agora para as mãos da justiça britânica, que terá de escolher entre o pedido de extradição português e norte-americano. No entanto, segundo a advogada do hacker, Inês Almeida e Costa, dada a nacionalidade e as ligações de Diogo Santos Coelho a Portugal, a equipa de advogados do jovem de Viseu acredita que o Reino Unido dará "primazia ao pedido português".
Numa entrevista exclusiva à CNN Portugal, o advogado britânico do jovem partilhou a mesma confiança de que, em caso de ter de escolher, a justiça do Reino Unido optaria por enviar Diogo Santos Coelho para Portugal. "Entre enviá-lo para os Estados Unidos ou para Portugal, seria uma decisão óbvia é enviá-lo de volta para a sua terra natal, para a sua família", afirmou Ben Cooper.
Apesar de o processo de extradição ser considerado urgente, não há prazos previstos para que ele aconteça.
Diogo é acusado nos Estados Unidos dos crimes de conspiração, fraude no acesso a dispositivos e roubo de identidade agravado, por ser o principal suspeito de criar e administrar o RaidForums, onde foram vendidos milhões de euros de dados de empresas americanas. No verão de 2023, a justiça britânica aceitou o pedido de extradição para os EUA, mas a defesa do hacker recorreu, alegando que o jovem foi diagnosticado com autismo e que corre o risco de pôr fim à sua própria vida caso seja enviado para cumprir sentença numa prisão americana.
Montou um império no submundo da net numa casa nos arredores de Viseu
Corria o dia 31 de janeiro de 2022, quando foi detido no aeroporto de Gatwick, Reino Unido. Estava a tentar entrar no país para visitar a mãe, que sofre da doença de Huntington, que causa a morte das células do cérebro. É acusado pelos Estados Unidos dos crimes de conspiração, fraude no acesso a dispositivos e roubo de identidade agravado, por ser o principal suspeito de criar e administrar o RaidForums. Prestes a fazer 24 anos, arrisca ficar atrás das grades até aos 76 anos.
“O Diogo é um rapaz que sempre teve alguma dificuldade em socializar e o sítio onde se encontrou melhor e mais confiante para socializar foi no mundo cibernético. Desde cedo resguardou-se no mundo cibernético sem qualquer supervisão parental. Isto tem consequências dramáticas num miúdo qualquer”, explica a advogada Inês Almeida e Costa.
De origens humildes, Diogo Santos Coelho admite que não cresceu rodeado de tecnologia. O primeiro contacto com um computador com acesso à internet chegou no primeiro ciclo do ensino básico e abriu logo “um outro mundo” para o jovem que viria a ser diagnosticado com autismo. “O meu primeiro portátil e o meu primeiro acesso a um computador foi ainda no ensino básico. Quando utilizei um portátil Magalhães foi um outro mundo para mim. Desde aí fiquei muito focado em computadores”, conta o jovem à CNN Portugal.
Com apenas nove anos, mudou-se para o Reino Unido com os pais, mas a integração não foi fácil. Não falava a língua e na escola “as outras crianças eram cruéis” e diz ter sido vítima de bullying. Ao mesmo tempo, a relação entre os pais deteriorava. Este cocktail, segundo jovem, levou a que Diogo se refugiasse cada vez mais no seu computador. “Como não tinha amizades, não saia de casa”, recorda.
Ataques aos gigantes das telecomunicações
Nos documentos com a investigação norte-americana, a que a CNN Portugal teve acesso, são relatadas algumas histórias das vítimas do hacker. Um dos casos é o alegado golpe ao gigante de telecomunicações T-Mobile, que sofreu um roubo de dados de 50 milhões de utilizadores que depois foram divulgados no fórum. A empresa terá aceitado pagar 252 mil euros em Bitcoin para reaver a informação.
As autoridades acreditam que Diogo Santos Coelho fez muito dinheiro com este sistema que ajudou a criar. Apesar de não ser acusado de estar envolvido em alguns dos maiores roubos de dados que foram colocados à venda na plataforma, os EUA acusam o jovem de criar um sistema de filiação, que obrigava os membros do fórum a comprar créditos no site, que eram utilizados para fazer as compras. Ao todo, as autoridades acreditam que os piratas fizeram mais de 400 milhões de euros com a venda de dados roubados no RaidForums.
Os investigadores americanos acreditam que Diogo obteve muito dinheiro com o serviço de mediação da venda de dados roubados com criptomoedas. O jovem hacker português oferecia-se para verificar a veracidade do conteúdo dos ficheiros roubados antes de o comprador enviar o dinheiro para os comprar. Assim que as duas partes estivessem satisfeitas, a transação era completa e Diogo recebia uma comissão pré-determinada.
Diogo Santos Coelho terá recebido comissões de muitas destas vendas. Usava nomes como “Omnipotent”, “Downloading”, “Shiza” ou “Kevin Maradona” e liderava o site pelo menos desde 2015.
A operação que levou à sua detenção, a "Operação Tourniquet", teve a colaboração da Polícia Judiciária portuguesa e das autoridades dos EUA, Reino Unido, Suécia e Roménia. Além de Diogo Santos Coelho, foram presos dois dos seus alegados cúmplices. São todos suspeitos de terem traficado ou mediado vendas e resgates de dados de importantes empresas norte-americanas.
Muitos destes alegados crimes, garante a investigação, foram “praticados com recurso a um servidor informático alojado em Portugal”. Perante a dimensão e complexidade do caso, o FBI chegou mesmo a pedir a intervenção dos serviços secretos dos EUA que se infiltraram na operação e nos negócios do fórum de Diogo Santos Coelho.