Ucrânia vai contra-atacar no sul? "Um milhão" de soldados estão a caminho? Especialista desconfia: "Quando se diz que se vai atacar a cabeça da serpente, vai-se atacar a cauda"

11 jul 2022, 12:10

Vários responsáveis ucranianos têm falado em eventuais avanços militares preparados para o sul, mas o coronel Mendes Dias diz que pode não ser bem assim

Ministro da Defesa, vice-primeira-ministra e até o chefe-adjunto da administração regional de Kherson. Todos falaram nas últimas horas, e todos disseram coisas semelhantes, antecipando aquilo que poderá ser uma tentativa da Ucrânia de retomar cidades no sul, começando pelo local estratégico de Kherson.

Na foz do rio Dniepre, e já não muito longe da região de Odessa (apenas Mykolaiv está pelo meio), Kherson poderá vir a ser o centro de todas as atenções nos próximos dias, antecipando-se o que poderá ser uma batalha importante entre ucranianos e russos. Mas será que é mesmo assim?

A vice-primeira-ministra ucraniana fez uma declaração na televisão onde pediu a todos os civis da cidade que saíssem com urgência: “É evidente que haverá combates, haverá bombardeamentos de artilharia… e por isso instamos [as pessoas] a sair urgentemente”, afirmou Iryna Vereshchuk, antecipando um contra-ataque que esta segunda-feira voltou a ser referido por um dos responsáveis ucranianos na região.

O chefe-adjunto da Administração Regional de Kherson garantiu que as tropas ucranianas estão perto da cidade, onde as condições de vida são “insuportáveis”, depois de os russos ali terem chegado há várias semanas com o objetivo de estabelecer o corredor entre o seu território e a Transnístria, na Moldova, passando pelos territórios ucranianos de Mariupol, Kherson, Mykolaiv e Odessa (ainda falta chegarem a estes dois últimos).

A coragem ucraniana ganhou força com as palavras do ministro da Defesa, que afirmou que um exército com a força de “um milhão” de soldados estava a caminho do sul, nomeadamente de Kherson. Oleksii Reznikov anunciou a mobilização pedida pelo presidente Volodymyr Zelensky em entrevista ao The Times, onde explicou que foi o chefe de Estado que “deu ordens para desenhar os planos”.

O objetivo é maior do que Kherson, e passa por reconquistar grande parte da costa do Mar Negro, mas é naquela cidade que tudo poderá começar.

Perante o coro de vozes ucranianas, o coronel Mendes Dias revela-se “desconfiado”, lembrando à CNN Portugal que toda a gente parece saber onde vai ser o contra-ataque, algo que não é normal: “Normalmente quando se diz que se vai atacar a cabeça da serpente, vai-se atacar a cauda".

Para o especialista militar, este anúncio de contra-ataque e os pedidos para que a população saia são de desconfiar, sendo que não acredita que a Rússia vá ceder forças nesse local.

Mendes Dias foca mesmo a atenção em Mykolaiv, cuja queda para o lado russo possibilitaria um avanço definitivo para Odessa: “Para mim a finalidade russa é a zona de Kharkiv, Dnipro, Zaporizhzhia, Kherson, Mykolaiv e Odessa”, diz, falando na “nova Rússia” que Vladimir Putin terá como “objetivo final”. Será, no fundo, uma divisão da Ucrânia ao meio, uma vez que além destas regiões ficariam ainda do lado russo Donetsk e Lugansk, no Donbass.

Entretanto, a Ucrânia anunciou, através do Facebook, que recuperou a vila de Ivanivka, a cerca de 45 quilómetros de Kherson, o que não possível confirmar por nenhuma agência independente.

Além de territorial, a luta por Kherson também se faz ao nível político e simbólico. É que ali os russos já instituíram várias regras, sendo que o rublo já é mesmo a moeda oficial local, existindo ainda a possibilidade para a realização de um referendo em que a população poderá vir a votar pela anexação da região na Rússia, algo similar ao que aconteceu com a vizinha região da Crimeia em 2014.

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