"Será feito um pedido [a Vladimir Putin] para integrar a região de Kherson como uma província de pleno direito da federação russa", afirmou o diretor-adjunto da administração militar-civil da Federação Russa, Kirill Stremoussov.
A hipótese de um referendo não está sequer em causa - Stremoussov descartou essa hipótese. O objetivo é a criação de uma república popular, à semelhança das autoproclamadas repúblicas de Lugansk e Donetsk, reconhecidas pela Rússia como estados independentes três dias antes do início da guerra na Ucrânia.
O responsável acrescentou também que, até ao final do ano, a região planeia "adotar por completo a legislação da Federação Russa". Stremousov já tinha anunciado, no final de abril, que Kherson, ocupada e controlada por tropas russas, iria começar a usar rublos em maio, afastando a possibilidade de a região voltar a ser controlada pela Ucrânia.
A visão do Kremlin
Sobre este caso, a presidência russa já reagiu-se: "São os habitantes da região de Kherson que devem decidir se haverá ou não um pedido [de entrada]" na Federação Russa, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, na sua conferência de imprensa diária.
O mesmo responsável indicou ainda que as autoridades pró-Rússia estão também a negociar a abertura de um banco russo com filial em Kherson já no final de maio.
Sublinhando que "são os habitantes de Kherson que devem decidir seu futuro", o Kremlin assegurou que o eventual pedido de admissão na Federação Russa deve ser avaliado "de forma exaustiva" por juristas.
"Estas decisões devem ter um fundo legal absolutamente claro e ser absolutamente legítimas, como foi o caso da Crimeia", onde foi realizado um referendo em 2014, disse o porta-voz do Kremlin.
Um "apocalipse zombie"
Uma residente da cidade de Kherson falou à CNN, referindo que o local "parece um apocalipse zombie" desde que as tropas russas ali chegaram. A mulher, que se identificou como Tanya, admitiu que a invasão está a ter elevados custos físicos e psicológicos.
"Vemos todas as prateleiras das lojas vazias, pessoas armadas em todo o lado a passarem ao teu lado. É aterrador, porque eles estão em todo o lado. É difícil", explicou.
De resto, sobre a hipótese da anexação, Tanya diz que não conhece ninguém que defenda a medida: "Não conheço ninguém que queira fazer o que a Crimeia fez. Não querem fazer parte da Federação Russa, já viram o que eles fizeram".
É por isso que Tanya quer tentar sair da cidade o quanto antes, tal como muitos dos seus amigos, mas a falta de corredores humanitários e de meios de transporte dificulta a saída. A estação de comboios, por exemplo, está inoperável desde que os russos chegaram.
A região de Kherson foi conquistada pelo exército russo durante a ofensiva lançada em fevereiro por Moscovo contra a Ucrânia.