Rússia não vai parar na Ucrânia mesmo que perca a guerra, alerta candidato à liderança da NATO

5 jan, 22:18
Tropas franceses em exercícios da NATO na Estónia (Getty)

Defende uma revolução na Defesa europeia e pede atenção para a nova estratégia da Rússia

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Letónia e candidato à liderança da NATO afirmou esta sexta-feira que o Ocidente tem de repensar na sua estratégia a longo prazo para lidar com Moscovo, independentemente do resultado do conflito na Ucrânia.

“A Rússia não é apenas um problema para a Ucrânia, mas um perigo para toda a Europa, mesmo depois da guerra na Ucrânia. Se a Ucrânia recuperar o seu território, a Rússia continuará a ser uma ameaça. Isso significa que precisamos ajustar nosso pensamento ao longo prazo”, alertou Krišjānis Kariņš, numa entrevista ao jornal norte-americano Financial Times.

O ministro defende que, mesmo que a Ucrânia vença a guerra e reconquiste todo o seu território, Moscovo vai continuar a representar uma ameaça para a aliança e para o continente, uma vez que mantém uma ideologia alimentada pelo imperialismo.

“A Rússia não vai parar, a Rússia só pode ser parada. Deter a Rússia na Ucrânia não significa que tudo acabou. Significa simplesmente que teremos de continuar. Isso é o que é importante para a NATO: teremos de trabalhar numa estratégia de longo prazo de contenção da Rússia”, defende.

Para Kariņš, ministro de um país do Báltico, a Rússia apresenta-se como uma ameaça existencial. Juntamente com a Estónia, Lituânia e Finlândia estes países fazem fronteira com a Rússia e já pertenceram à sua esfera de influência. Por esse motivo, estes países têm vindo a aumentar significativamente os seus orçamentos na área da Defesa. A Letónia pretende atingir os 3% do PIB para a Defesa no ano de 2027, um valor acima dos 2% sugeridos pela NATO.

Mas os problemas da Aliança Atlântica, defende o ministro, passam também por reorganizar a indústria da Defesa europeia, que tem demonstrado incapacidade em fazer frente às necessidades da guerra de alta intensidade que se vive na Ucrânia. Além da capacidade de produção, os países da NATO precisam de assegurar a “interoperabilidade” dos seus armamentos.

E esta é uma realidade que Kariņš diz que tem de ser abordada, independentemente do resultado da guerra. “Quando a guerra terminar, a máquina de guerra começará a reconstruir-se. Vão procurar provocar, criar dificuldades na sua fronteira. Nós sabemos disso. Temos de garantir, do lado da NATO, que a probabilidade de quaisquer incidentes seja simplesmente descartada, pela nossa determinação, pelos nossos investimentos na defesa”, reitera.

O ministro insiste que é tempo de estar atento à estratégia de Putin e não desistir da Ucrânia. Atualmente, Kariņš diz que o Kremlin quer desgastar a crença ocidental numa vitória da Ucrânia, ao semear a dúvida entre Estados, para que o apoio militar e financeiro seja cortado. “Putin está a tentar instigar a dúvida entre nós”, mas o candidato à liderança da NATO diz que isso não vai acontecer. Pelo contrário. “Putin conseguiu revigorar a NATO. Conseguimos convergir em todas as questões até agora relativas à Ucrânia”, destaca.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados