Kremlin admite um cenário em que a Rússia pode utilizar armas nucleares

22 mar 2022, 19:39

Em entrevista à CNN, o porta-voz do Kremlin falou sobre os objetivos (elencando três) e admite que Vladimir Putin está "zangado" com alguns ucranianos

Um dos grandes receios da invasão russa à Ucrânia é uma possível guerra mundial, nomeadamente a possibilidade de isso resultar num conflito nuclear, até porque a Rússia é uma potência com esse tipo de armamento. Segundo o porta-voz do Kremlin, existe apenas um cenário em que essa hipótese se coloca.

“Temos um conceito de segurança doméstica, é público. Se existir uma ameaça à existência do nosso país, podem ser utilizadas armas nucleares, de acordo com o nosso conceito. Não existem outras dimensões para a utilização das armas nucleares”, afirmou Dmitry Peskov, em entrevista exclusiva ao programa de Christiane Amanpour na CNN.

Em cerca de 30 minutos, o alto representante russo queixou-se da “guerra de informação”, acusando o Ocidente de ser mestre em notícias falsas, ao mesmo tempo que garante que a Rússia não tem alvos civis.

Um dos locais mais difíceis da guerra tem sido a cidade de Mariupol. Estratégica, porque fica entre a Crimeia e a região do Donbass, aquela localidade tem sido dizimada diariamente, tendo havido até um bombardeamento num teatro que albergava civis, e onde estava um aviso em letras garrafais que apontava para a existência de crianças no interior.

Dmitry Peskov assume que tomar aquela localidade é um objetivo, mas apenas porque a Rússia quer “limpar Mariupol dos nacionalistas, que estão escondidos e não deixam sair as pessoas da cidade”. É lá que continuam presas cerca de 350 mil pessoas, que mesmo com corredores humanitários têm dificuldades em sair.

“Estamos a receber muitos refugiados de lá e dizem-nos que foram usados como um escudo em bombardeamentos. Eles estavam a matar pessoas que queriam sair da cidade. O principal objetivo é vermo-nos livres dos ‘maus-da-fita’”, disse, referindo-se ao que a Rússia diz serem neo-nazis.

De resto, é com essas pessoas que Vladimir Putin está “zangado”. O porta-voz do Kremlin diz que há “ucranianos que querem colaborar, que querem evitar vítimas”, e garante que o exército russo nunca terá alvos civis: “Se não tentarem matar o nosso exército ninguém vai magoar-vos. Vamos magoar, mas vamos magoar os nacionalistas nazis, não civis ou pessoas normais: é proibido alvejar civis para o nosso exército”.

De resto, Dmitry Peskov insiste numa propaganda do Ocidente, de quem diz ser uma “boa escola”, referindo que é a Rússia que é um “mau aluno”.

“Ele não está zangado com os ucranianos, ninguém aqui está. Está zangado com aqueles que querem colocar armas nucleares norte-americanas na Ucrânia, com aqueles que não deixam os russos falar russo. Ele está zangado com essas pessoas na Ucrânia”, vinca, referindo-se a Vladimir Putin, com quem fala todos os dias, muitos deles pessoalmente.

Mas o que pensará o presidente russo da forma como tem estado a correr a “operação militar especial”? Segundo Dmitry Peskov, a Rússia “ainda não atingiu o que quer”, mas afirma que tudo está a correr como planeado, recusando a hipótese de que esta operação tivesse sido planeada para dias: “É uma operação séria com um propósito sério”.

A tal operação séria vai no 27.º dia, e continua em várias frentes, nomeadamente Mariupol, Kharkiv e Kiev, onde os ucranianos continuam a resistir. À margem decorrem negociações entre as partes, e o Kremlin reforça três objetivos da operação: “Vermo-nos livres do potencial militar da Ucrânia, assegurar que a Ucrânia se torna neutral e livrar a Ucrânia dos batalhões nacionalistas”.

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