Kara-Murza sobreviveu a dois envenenamentos e foi condenado a 25 anos de prisão na Rússia: "Mesmo na escuridão que nos rodeia, mesmo sentado nesta jaula, amo o meu país”

CNN , Rob Picheta e Vasco Cotovio
17 abr 2023, 11:54
Vladimir Kara-Murza (Associated Press)

Na audiência final do julgamento, crítico do regime de Putin afirmou que estava “orgulhoso” das suas opiniões políticas que o levaram à prisão.

Crítico do Kremlin sentenciado a 25 anos de prisão por ter condenado a guerra na Ucrânia

 

Vladimir Kara-Murza, um proeminente defensor dos direitos humanos russo e crítico do Kremlin, recebeu uma sentença de 25 anos de prisão depois de condenar publicamente a guerra de Moscovo na Ucrânia, informou esta a segunda-feira a agência noticiosa estatal russa TASS.

Kara-Murza foi inicialmente detido há um ano, horas após uma entrevista com a CNN na qual criticou o “regime de assassinos” do Presidente russo, Vladimir Putin.

O ativista foi julgado por delitos criminais incluindo traição, divulgação de notícias falsas sobre o exército russo, e facilitação de atividades de uma organização indesejável. A Rússia criminalizou as críticas aos militares após a sua invasão em larga escala da Ucrânia no ano passado. O tribunal disse que ele iria cumprir a sua sentença “numa colónia prisional de regime rigoroso”.

Kara-Murza vai recorrer da sentença, disse à CNN na segunda-feira o seu advogado, Vadim Prokhorov.

A detenção do ativista foi criticada por organizações internacionais de direitos humanos e levou a sanções por parte da administração Biden no mês passado.

A sentença de segunda-feira chama ainda mais a atenção para a brutal repressão de Putin contra a liberdade de expressão, que se intensificou desde que o Presidente da Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro do ano passado.

Kara-Murza há muito que é crítico de Putin - e sobreviveu a dois envenenamentos.

Em março de 2022, ele falou perante a Câmara dos Representantes do Arizona, nos EUA, contra a guerra; e numa entrevista à CNN em abril de 2022, o dissidente político condenou o regime de Putin perseguir os seus críticos. Foi preso pouco tempo depois por “não ter obedecido às ordens das forças da lei”, segundo disse a sua mulher.

A sentença irá provavelmente atrair mais condenações internacionais sobre Putin. Na semana passada, Hugh Williamson, diretor da organização Human Rights Watch para a Europa e Ásia Central, disse numa declaração que o dissidente enfrentava tempo de prisão por “não mais do que levantar a sua voz e elevar as vozes de outros na Rússia que discordam do Kremlin, da sua guerra na Ucrânia, e da sua escalada de repressão dentro da Rússia”.

O governo britânico criticou aquilo a que chamou de sentença com “motivações políticas”. “Vladimir Kara-Murza denunciou corajosamente a invasão russa da Ucrânia pelo aquilo que ela foi - uma flagrante violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas. A falta de empenho da Rússia em proteger os direitos humanos fundamentais, incluindo a liberdade de expressão, é alarmante”, disse o secretário dos Negócios Estrangeiros dos James Cleverly esta segunda-feira.

A acusação de traição foi alargada na Rússia em 2012, passando a incluir consultas ou qualquer outra assistência a um Estado estrangeiro ou organização internacional ou estrangeira. Foi utilizada contra Kara-Murza por ele ter condenado a invasão russa da Ucrânia.

Em março, os Estados Unidos impuseram sanções a vários indivíduos russos ligados àquilo que o Departamento do Tesouro dos EUA chamou de “detenção arbitrária” de Kara-Murza, e apelaram à sua “libertação imediata e incondicional”.

Na audiência final do seu julgamento na semana passada, Kara-Murza disse que estava “orgulhoso” das suas opiniões políticas.

“Estou na prisão pelas minhas opiniões políticas; por falar contra a guerra na Ucrânia, por muitos anos de luta contra a ditadura de Putin, por facilitar a adoção de sanções internacionais pessoais ao abrigo da Lei Magnitsky contra os violadores dos direitos humanos. Não só não me arrependo de nada disto, como me orgulho disso”, disse Kara-Murza.

A Lei Magnitsky original, assinada em dezembro de 2012, bloqueia a entrada nos EUA e congela os bens de certos funcionários do governo russo e homens de negócios acusados de violações dos direitos humanos. A lei foi subsequentemente alargada para dar um âmbito global à legislação centrada na Rússia.

Kara-Murza afirmou que se culpava por não ser capaz de convencer um número suficiente dos seus “compatriotas” e políticos de países democráticos quanto ao perigo que o atual regime do Kremlin representa para a Rússia e para o mundo. E manifestou também a esperança de “que chegue o dia em que a escuridão sobre o nosso país se dissipará”.

"Ainda hoje, mesmo na escuridão que nos rodeia, mesmo sentado nesta jaula, amo o meu país e acredito no nosso povo”, acrescentou. "Acredito que podemos percorrer este caminho".

 

 

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