Guerra eletrónica. Rússia está a testar arma secreta para atacar sistema Starlink na Ucrânia

26 abr 2023, 08:00
Terminal da Starlink. Créditos: Yasuyoshi Chiba/AFP/Getty Images

Documentos secretos divulgados mostram que Moscovo está a tentar transformar um sistema de defesa de satélites numa arma capaz de neutralizar satélites inimigos

Os serviços secretos norte-americanos acreditam que as Forças Armadas russas estão a testar uma tecnologia secreta para sabotar as capacidades do sistema Starlink na Ucrânia. A arma, um sistema chamado Tobol, estará a ser utilizado nos satélites russos para levar a cabo uma “guerra eletrónica” contra os vários sistemas que auxiliam as forças ucranianas a comunicar de forma encriptada no terreno de batalha.

A informação foi encontrada entre os mais de cem documentos do Pentágono tornados públicos por Jack Teixeira, técnico informático da Guarda Nacional do Massachussetts, num grupo da rede social Discord. De acordo com o The Washington Post, Moscovo está há vários meses a experimentar a tecnologia, na esperança de conseguir desestabilizar a capacidade ucraniana de coordenar as suas operações militares em segredo.

A informação em causa foi obtida no mês de março, mas não especifica se os testes obtiveram o resultado desejado. No entanto, os especialistas foram apanhados de surpresa, uma vez que esta arma, que o Kremlin testa, pelo menos, desde 2020, com o objetivo de defender a sua rede de satélites de comunicações, afinal, também poderá servir para atacar os satélites adversários.

A tecnologia em causa é conhecida como interferência uplink, porque acontece no espaço e consiste em emitir um sinal que se mistura com o sinal original dos satélites da Starlink, distorcendo a informação para todos os utilizadores que receberiam a mensagem. “Está em curso a experiência militar da Rússia para atingir o sistema de comunicações por satélite Starlink sobre a Ucrânia com o Tobol-1 da Rússia”, pode ler-se no documento.

A empresa SpaceX não comenta o caso, mas, no passado, Elon Musk admitiu publicamente no Twitter que os seus satélites estavam a ser alvo de tentativas de interferência eletrónica e de ataques informáticos, mas que estavam a demonstrar ser bastante resilientes contra os esforços russos.

Mais de 11 mil estações Starlink na Ucrânia

E os ucranianos não poupam elogios quando falam desta tecnologia. Com pequenos recetores montados nas trincheiras ou no exterior dos bunkers, os soldados de Kiev podem aceder à internet ou enviar e receber mensagens encriptadas, muitas vezes com planos ou informação sobre onde está o inimigo. “Temos mais de 11 mil estações Starlink e elas ajudam-nos na nossa luta diária em todas as frentes. Mesmo que não exista luz ou internet fixa, através dos geradores da Starlink, podemos restabelecer a conexão na Ucrânia”, afirmou o ministro ucraniano da Transição Digital Mykhailo Fedorov.

“Estes sistemas constituem uma importante camada dos sistemas de comunicação ucranianos”, admite o porta-voz do Departamento da Defesa norte-americano, Charlie Dietz, que não se pronunciou sobre o conteúdo divulgado.

Os terminais Starlink têm sido particularmente vitais porque a Rússia consegue, através de sistemas de guerra eletrónica, atrapalhar as operações ucranianas que envolvam sistemas tecnologicamente mais simples como rádios e telefones. Porém, não é garantido que o bilionário continue a fornecer este serviço à Ucrânia e, no passado, chegou mesmo a anunciar que iria deixar de o fornecer gratuitamente. A reação de dezenas de milhares de pessoas acabou por fazer com que voltasse atrás e continuasse a ajudar a causa ucraniana.

Porém, não se sabe se as falhas reportadas no passado estão relacionadas com qualquer tipo de sucesso da operação russa. No final de outubro, tropas ucranianas registaram disrupções no sistema Starlink, durante a contraofensiva que lhes permitiu reconquistar a região de Kharkiv e parte da região de Kherson.

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