Starlink: como os satélites de Elon Musk mudaram a guerra na Ucrânia (e como também podem ajudar o homem mais rico do mundo)

9 jun 2022, 20:22
Satélite destruído na Ucrânia (Evgeniy Maloletka/AP)

Da posição do adversário aos discursos diários de Volodymyr Zelensky, quase toda a comunicação depende de um complexo sistema que a Ucrânia recebeu em primeira mão

Foi a pedido que Elon Musk enviou para a Ucrânia o melhor e mais resistente serviço de Internet. O ministro ucraniano da Transição Digital pediu diretamente ao diretor-executivo da SpaceX que enviasse para o país estações Starlink, um conjunto de satélites que a SpaceX está a construir.

Poucas horas depois do pedido de Mykhailo Fedorov, Elon Musk disponibilizou o serviço para a Ucrânia, prometendo que novos terminais estariam a caminho.

O sistema, que ficou logo operacional, está a ser crucial na resistência ucraniana à invasão russa. Oleksiy e os seus companheiros de artilharia são disso testemunha.

A partir da linha da frente da cidade estratégica de Izyum, que fica no Donbass, estando maioritariamente ocupada pela Rússia, o grupo utiliza o sistema Starlink para preparar contra-ataques e operações militares. Ao Politico, Oleksiy, que não revela o apelido por razões de segurança, conta que, quando quer preparar uma operação de última hora, utiliza um aparelho que está escondido no poço de um jardim de uma casa abandonada.

É um recetor de satélite da Starlink, que está ligado a um gerador que funciona durante metade do dia.

Mas a importância do sistema vai para além da dimensão militar. No 93.º batalhão da brigada mecanizada há quem utilize o sistema para comunicar com família e amigos, enviando mensagens encriptadas através de um sistema que funciona durante o dia, e que veio substituir as linhas telefónicas danificadas pelas várias semanas de sucessivos bombardeamentos.

Placa recetora da Starlink instalada em Odessa (Getty Images)

Quando descansam, além de tentarem comunicar com família e amigos, Oleksiy e os seus companheiros utilizam o sistema para se manterem a par dos últimos desenvolvimentos da guerra no resto do país. Se o momento permitir alguma descontracção podem até jogar “Call of Duty” nos telefones, algo que fazem quando estão abrigados nos bunkers e aguardam por ordens ou pela hora de substituir outros soldados.

O grupo não tem dúvidas, a tecnologia Starlink é o que permite tudo isto. Por isso mesmo têm algumas palavras para o homem mais rico do mundo. “Obrigado Elon Musk”, diz Oleksiy, enquanto fica a saber que o presidente dos Estados Unidos vai enviar mais armas de longo alcance para o exército ucraniano.

Na resistência militar, mas também na opinião pública, o sistema, que funciona porque pequenos satélites operam diariamente bem acima da guerra, a 210 quilómetros, tornou-se essencial.

O exemplo de Oleksiy é apenas um de muitos: drones que largam bombas contra posições russas, pessoas que falam com familiares perdidos no Donbass ou até os discursos diários e as reuniões formais mantidas pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Tudo isto se deve ao Starlink.

“Temos mais de 11 mil estações Starlink e elas ajudam-nos na nossa luta diária em todas as frentes”, confessa Mykhailo Fedorov, que explica como o sistema faz a diferença. “Estamos sempre prontos. Mesmo que não exista luz ou Internet fixa, através dos geradores da Starlink, podemos restabelecer a conexão na Ucrânia.”

Quem também tem beneficiado do sistema é a 92.ª brigada mecanizada, que opera perto da fronteira com a Rússia na região de Kharkiv. A partir dali, Alisa Kovalenko e os seus companheiros utilizam um satélite para continuarem o combate.

A soldado garante ao Politico que “não existe comunicação com o mundo exterior sem o Starlink”, explicando que as ligações telefónicas foram afetadas nas últimas semanas. “É impossível ligar através de uma rede móvel”, acrescenta a militar, que vê o sistema como uma dádiva de Deus, ainda que não tenha chegado à sua companhia de forma direta.

É que o satélite utilizado por Kovalenko e pelos outros soldados da brigada foi oferecido por um grupo de voluntários que conseguiu arranjar dinheiro suficiente para o comprar. Infelizmente, nem tudo é tão fácil assim. “Se houver um bombardeamento e tivermos de nos preparar para fugir ainda demora a recolher tudo para o Starlink. Temos de ter cuidado. Não é apenas um monte de roupa que podemos atirar para dentro do carro.”

O brigadeiro-general Steve Butow, que dirige a Unidade de Inovação do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, afirma que este sistema funciona como uma arma contra a “campanha de desinformação” de Vladimir Putin. “Até hoje nunca conseguiu calar Zelensky”, refere o responsável.

Mas se a situação está a ser lucrativa para a Ucrânia, o mesmo se pode dizer para Elon Musk e para a SpaceX. É uma forma perfeita de testar o sistema, que ainda não chegou ao mercado de forma generalizada, o que deve acontecer nos próximos anos. Ainda assim, refira-se, já é possível adquirir sistemas da Starlink, incluindo em Portugal.

Outra situação é a disponibilização deste sistema a nível público, que Elon Musk disse que só acontecerá daqui a quatro ou cinco anos.

O objetivo da empresa passa por disponibilizar mais de 40 mil destes satélites nos próximos anos.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados