Esta aldeia ucraniana quer que os seus habitantes regressem, mas falta algo muito importante – vidro

21 ago 2023, 13:03
Edifício parcialmente destruído por artilharia russa na em Saltivka, na região de Kharkiv. 23 fevereiro 2023. Foto: Ihor Tkachov//AFP via Getty Images

Ucrânia precisa de 750 milhões de m2 de vidro para a reconstrução

Na aldeia de Shevchenkove, na região de Mykolaiv, vivem neste momento cerca de 2.200 pessoas, menos mil que as 3.200 que lá residiam antes da guerra. O autarca local, Oleg Pylypenko, libertado numa troca de prisioneiros, quer que todos os que saíram regressem. Mas há algo muito importante a dificultar o retorno – a falta de vidro.

De acordo com o jornal The Guardian, em Shevchenkove, localidade que esteve na linha da frente até os russos serem expulsos de Kherson, um em cada três edifícios está destruído e metade deles tem algum dano. É muito vidro para colocar e a aldeia está numa zona de guerra, o que quer dizer que, provavelmente, alguns desses vidros iriam ser destruídos outra vez.

O jornal britânico afirma que há uma conjugação de fatores que está a dificultar o fornecimento deste material, desde logo o grande aumento do custo dos materiais de construção, uma consequência da própria guerra. Outro fator é a fraca produção de vidro na Ucrânia – a sua última fábrica de vidro plano, em Lugansk, foi perdida para as tropas russas logo no início da ofensiva – e a elevada dependência da Rússia e da Bielorrússia para o fornecimento dos bens.

O terramoto que afetou o leste da Turquia e a Síria em fevereiro, que matou quase 60 mil pessoas e destruiu centenas de milhares de edifícios, e o subsequente esforço de reconstrução também são responsáveis por desviar da Ucrânia uma parte significativa da produção mundial.

Konstantin Saliy, presidente da Associação de Produtores de Materiais de Construção da Ucrânia, afirma que o país precisa de 750 milhões de metros quadrados de vidro para a reconstrução. Saliy diz que, antes da guerra, os construtores compravam vidro a 1,85 euros o metro quadrado para vender a 2,75 euros. Atualmente, compram a 3,67 para vender entre os 5,51 e os 6,42 euros.

“Mas muito vidro que está a chegar à Ucrânia, especialmente dos países da ex-União Soviética, tem qualidade pior que a dos padrões da União Soviética”, diz ao The Guardian.

Mas pode já haver uma solução: Harry Blakiston Houston, doutorando em Biotecnologia pela Universidade de Cambridge, criou uma janela que pode ser construída em 15 minutos e custa apenas 14 euros por metro quadrado. São feitas de polietileno, PVC, espuma de isolamento e fita-cola, criando quatro camadas de proteção.

“Conseguimos a maioria das coisas que se conseguem com uma janela normal. Um isolamento muito bom, uma proteção térmica muito boa. Recebemos luz para poder trabalhar dentro de casa durante o dia e, muito importante, eles não se estilhaçam quando uma bomba cai”, explica Houston ao jornal britânico.

Estas janelas, cuja primeira unidade foi instalada precisamente em Shevchenkove, não são permanentes, mas os seus materiais podem ser reciclados quando o seu ciclo de vida expirar.

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