Um evento com drones colocou Chernihiv na mira dos russos. Imprudência dos ucranianos tornou a cidade num alvo militar?

CNN Portugal , DCT, atualizado às 14:43
20 ago 2023, 13:41

Apesar de os organizadores da exposição de drones em Chernihiv apenas terem revelado a localização cerca de quatro horas antes do começo, o evento foi divulgado online. Russos não perderam oportunidade de atacar e os ucranianos estão a ser criticados por organizarem um evento de tecnologia potencialmente militar durante um conflito armado

A realização de um evento de drones numa cidade em plena guerra está a deixar as autoridades ucranianas sob fogo. A imprensa ucraniana não é clara sobre o tipo de iniciativa que estava a ser realizada: o Ukrinform, por exemplo, fala de uma exposição de drones com potencial uso de guerra, já o Ukrainska Pravka diz que no teatro atacado no sábado, em Chernihiv, estava a decorrer uma reunião de fabricantes de drones e escolas de treino de reconhecimento aéreo. Uma coisa é certa: o ataque é russo, mas as críticas estão a ser feitas também à Ucrânia. Morreram no ataque com um míssil russo sete civis e quase 150 ficaram feridos.

De bloguers de guerra a cidadãos ucranianos, multiplicam-se as críticas à realização de um evento que envolve armas de guerra em pleno conflito, sobretudo numa zona com parques infantis e igrejas por perto e num feriado religioso, ainda que não deixe de ser questionado se um encontro com drones pode constituir um legítimo alvo militar.

José Palmeira, professor e especialista em Relações Internacionais, diz mesmo que não foi uma decisão “muito prudente” por parte da Ucrânia, uma vez que “este tipo de iniciativa”, decorrendo numa cidade, pode tornar-se “de facto um alvo e sendo um alvo a população civil pode ser afetada”.

Da mesma opinião é o major-general Isidro Morais de Pereira. Sobre o “lamentável incidente” em Chernihiv, o comentador da CNN Portugal considera que “houve algum desleixo” por parte das autoridades ucranianas, “um facilitismo”. “De facto, deram à Rússia uma razão para atacar”, diz. Mesmo que a exposição tenha sido com drone de aplicação civil, o especialista diz que “muitos destes drones têm sido adaptados para missões militares, estando no campo de batalha”.

No evento, tal como explicou à CNN Portugal o major-general Agostinho Costa, estavam personalidades e empresas de vários países, alguns deles membros da NATO, e cujas identidades tinham sido partilhadas pela organização com as autoridades locais - o que, segundo o especialista em assuntos de segurança, fez com que a Rússia levasse a cabo um “ataque cirúrgico” - que, ainda assim, acabou por ter civis como alvo principal, de acordo com as informações divulgadas por Kiev.

Segundo o Ukinform, o evento com material com potencial uso de guerra foi mesmo acordado com as autoridades locais, mais concretamente com a administração militar-civil local, como menciona a CNN Internacional. E foi Maria Berlinska, a própria fundadora e chefe do Centro de Apoio ao Reconhecimento Aéreo e do projeto Batalhão Invisível, que organizou o evento, a anunciá-lo e a dizer que se tratou de “reunião fechada de engenheiros, militares e voluntários sobre o tema tecnologias militares”.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou a morte de sete civis, mas a verdade é que não se sabe quantas das pessoas que estavam no interior do teatro morreram - e se morreram. Logo que se deu o alerta para o ataque, os participantes no evento sobre drones foram encaminhados para um abrigo, mas, diz Berlinska, alguns quiseram sair do local, ficando por sua conta e risco.

Apesar de os organizadores da exposição apenas terem revelado a localização cerca de quatro horas antes do começo, o evento foi divulgado online e, segundo o Sérgio Furtado, enviado especial da CNN Portugal à Ucrânia, tal pode ter captado a atenção dos russos, assim como o mote do próprio evento. “Há a ideia de que alguém terá notificado as forças russas de que a exposição [de drones] iria acontecer naquele local”, diz o repórter. 

 

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