Controlo do Mar Negro tornou-se "uma armadilha" a que Putin não consegue escapar e isso pode ser o fim da sua frota

28 dez 2023, 19:52
Vladimir Putin visita um navio da Frota do Mar Negro em 2014 (Getty Images)

Um a um, os navios de uma das mais importantes frotas russas têm sido destruídos por um inimigo que não possui marinha. A situação é incomportável, mas há pouco que o Kremlin possa fazer

A imponente frota russa do Mar Negro está cada vez mais pequena e o naufrágio pode não ficar por aqui. Depois de ter sofrido pesadas perdas nos últimos quatro meses e da expectativa de que a guerra durará, pelo menos, cinco anos, a liderança russa tem de se preparar para poder ver o seu domínio marítimo na região altamente afetado, particularmente se vier a receber novas capacidades dos seus parceiros ocidentais.

“Nota-se que há uma incapacidade de defesa aérea [por parte da Rússia] na Crimeia. Assistimos a centenas de operações organizadas pela Ucrânia na área da Crimeia. A Rússia tem, desde o primeiro momento desta guerra, os seus navios sobre pressão. De facto, a Ucrânia é capaz de fazer este tipo de ações, e cada vez mais provavelmente o fará em função dos novos equipamentos que está a receber", explica o embaixador Francisco Seixas da Costa à CNN Portugal.

A pressão é de tal forma que o próprio ministro da Defesa Reino Unido, Grant Schapps, recorreu às redes sociais para fazer uma publicação onde alerta para o facto de cerca de 20% da frota russa no Mar Negro ter sido colocada fora de combate, apenas nos últimos quatro meses. Ao todo, a marinha russa na região detém perto de 44 navios de guerra de grandes dimensões. De acordo com o Oryx, um grupo de investigação open-source que documenta as perdas materiais na guerra da Ucrânia, a Rússia já perdeu 12 navios e teve sete danificados, desde 24 de fevereiro de 2022.

A situação apanhou diversos analistas desprevenidos, uma vez que a marinha ucraniana é praticamente inexistente. Mas uma estratégia inovadora e engenhosa tem permitido à Ucrânia devastar aos poucos a marinha inimiga, que, com o passar dos meses, tem permanecido atracada em diversos portos do Mar Negro. A marinha ucraniana tem utilizado um misto de drones aquáticos e aéreos, bem como mísseis navais de fabrico local Neptuno ou mísseis balísticos de precisão, como os Stormshadows.

Muitas vezes, as tácticas utilizadas por Kiev baseiam-se “na saturação” com o envio de mais munições do que as defesas são capazes de lidar. Mas nem sempre é assim, diversas vezes os militares ucranianos utilizaram apenas um par de drones navais para realizar ataques cirúrgicos. Noutros casos, drones aéreos são enviados numa primeira vaga com o propósito de serem destruídos pelas defesas antiaéreas e, de seguida, são disparados mísseis contra o alvo. Para a Ucrânia, a inovação tem sido a chave do sucesso.

Ao mesmo tempo, surgem informações de que a liderança russa acredita que a guerra terá de durar “pelo menos” cinco anos. De acordo com o jornal japonês Nikkei, Vladimir Putin terá falado com o presidente chinês, Xi Jinping, a quem admitiu que o conflito está para durar. No entanto, e com a frota russa do Mar Negro praticamente toda dispersa e atracada em vários portos da região, é provável que a Ucrânia continue a estratégia de isolar e destruir um a um estas embarcações.

E, ao contrário do apoio ocidental que continua por chegar, esta é uma das áreas da guerra onde o tempo joga claramente a favor de Kiev. Isto acontece porque Kiev conseguiu colocar uma “armadilha” para a frota do Mar Negro, à qual Vladimir Putin não consegue escapar, segundo diz Ivan Stupak, conselheiro de segurança para o parlamento ucraniano à Newsweek. No início do conflito, a Turquia fechou a entrada dos estreitos do Bósforo e dos Dardanelos a todos os navios militares. Isto coloca a marinha russa numa posição complicada: ao contrário do que acontece com os carros de combate, Moscovo não consegue substituir os navios perdidos.

“No início da guerra, o número de navios de guerra russos de diferentes classes e tipos – dos pequenos aos grandes – eram de cerca de 80 unidades. Mas agora, o número aproximado foi reduzido para 50 unidades. A Frota Marítima está destruída ou fortemente danificada", afirma Ivan Stupak. 

Além disso, a forma como o navio de transporte Novocherkassk foi destruído no passado dia 26 de dezembro também levanta algumas suspeições de que os F-16 possam já estar a operar nos céus ucranianos e a fazer mais estragos do que se pensa. Inicialmente a Rússia negou a destruição da embarcação, garantindo que este foi apenas danificado. Imagens de satélite publicadas um dia depois provam o contrário. Apesar de ter reduzido as movimentações navais na região, Moscovo mantém controlo dos céus do Mar Negro. Este é um cenário que pode vir a mudar com a chegada de novas capacidades vindas do ocidente.

Este cenário poderia ser catastrófico para as aspirações russas na região, que veria a península ocupada da Crimeia como um alvo cada vez mais provável para os ataques ucranianos. “A Ucrânia continua a persistir na sua guerra existencial face à invasão russa e não vai permitir o domínio e o controlo russo em posições e ações estratégicas como aquelas que ocorrem no Mar Negro”, sublinha a comentadora da CNN Portugal Sónia Sénica.

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