“A minha cidade está a ser bombardeada, mas a minha mãe na Rússia não acredita em mim”

5 mar 2022, 19:08
Guerra na Ucrânia. (AP Photo/Jae C. Hong)

Vivem na Ucrânia, estão no meio do conflito, mas a família diz que não há conflito. A BBC dá a conhecer a história de três pessoas que lutam pela credibilidade junto dos próprios familiares, que continuam a acreditar cegamente na imprensa russa

Oleksandra, de 25 anos, está fechada na casa de banho da sua casa, em Kharkiv. Os pais estão em Moscovo e nem mesmo os relatos por telefone e os vídeos da destruição os fazem acreditar que a filha está em perigo: “eles dizem que o exército russo nunca teria os civis como alvo”.

Num relato feito à BBC, a jovem conta como os pais desvalorizam o que está a acontecer na Ucrânia, ilibando os militares russos de quaisquer responsabilidades pela morte de cidadãos ucranianos. “Eu não queria assustar os meus pais, mas comecei a dizer-lhes diretamente que civis e crianças estão a morrer. (...) Mas mesmo que eles se preocupem comigo, eles ainda dizem que isto provavelmente acontece apenas por acidente, que o exército russo nunca teria os civis como alvo. Que são os ucranianos que estão a matar o seu próprio povo”.

Para a jovem, que se mantém em casa com os seus quatro cães, a incapacidade de os pais compreenderem o que se passa no país vizinho - que tem vindo a ser atacado pela Rússia nos últimos dez dias - deve-se, sobretudo, à desinformação que circula nos meios de comunicação russos, que continuam a fazer propaganda aos ideais de Vladimir Putin. 

Oleksandra confessa que ficou assustada quando a mãe “citou exatamente a televisão russa”, numa espécie de eco ao que tem vindo a ser dito e ao que não é noticiado, como alguns dos ataques feitos. Aliás, na Rússia, foi aprovada há dias uma nova lei que condena a 15 anos de prisão todos aqueles que fizerem circular informações falsas sobre as forças militares, isto é, informações que não estejam a ser emitidas pelos meios de comunicação russos. “Eles estão a fazer uma lavagem cerebral às pessoas. E as pessoas acreditam neles”, lamenta.

Mas a história de Oleksandra está longe de ser a única. Na mesma reportagem, a BBC dá conta da história de Mykhailo, que mora com a mulher e os filhos em Kiev e vê a sua família a duvidar da gravidade do conflito e até da existência do mesmo. “O meu próprio pai não acredita em mim, sabendo que estou aqui e que vejo tudo com os meus próprios olhos. E a minha mãe, ex-mulher dele, também está a passar por isso”, contou.

Anastasiya, que vive em Kiev há dez anos e tem a família também na Ucrânia, numa pequena vila a pouco mais de 20 quilómetros da República Popular de Donetsk, tem também tentado lutar contra a ‘visão russa’ da guerra, aquela que os pais apenas conhecem por apenas consumirem informação de meios de comunicação russos.

“Liguei para minha mãe novamente. Disse-lhe que estava com medo. ‘Não te preocupes’, disse, tranquilizadora. ‘Eles [Rússia] nunca vão bombardear Kiev’”, revelou.

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