Suecos alertam que Putin "tem os olhos" na Gotlândia. "O Mar Báltico não pode ser transformado no sítio onde Putin vai intimidar membros da NATO"

22 mai, 12:39
Micael Bydén (AP)

"Aquele que controla a ilha, controla o Mar Báltico...", dizem os suecos. Lituânia fala em "escalada" e pede resposta "firme"

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Suécia, Micael Bydén, fez um sério aviso: Vladimir Putin quer controlar o Mar Báltico e “tem os olhos na ilha de Gotlândia [território sueco]”, diz em entrevista ao jornal alemão RND.

“Acredito de que Putin tem os olhos na ilha de Gotlândia. O objetivo de Putin é ganhar controlo do Mar Báltico”, afirma Bydén. E acrescenta: “Aquele que controla a ilha de Gotland controla o Mar Báltico”.

A ilha de Gotlândia é a maior ilha da Suécia e está localizada a cerca de 330 quilómetros de Kaliningrado, onde se situa o quartel-general da frota russa no Mar Báltico. Em suma, é um ativo estratégico de alta importância para a defesa e controlo dos fluxos marítimos na região do Báltico.

A Gotlândia situa-se em linha reta entre a capital sueca, Estocolmo, e o enclave russo de Kaliningrado (Fonte: Google Maps)

Micael Bydén assegura a queda da Gotlândia em mãos russas “significaria o fim da paz e da estabilidade nas regiões nórdicas e do Báltico”. “Não podemos permitir isso”, sublinha, lembrando que o avanço marítimo russo nesta parte do globo teria “um enorme impacto nas vidas de todos aqueles que vivem na Suécia e em todos os países que têm o Mar Báltico como fronteira”.

Ao Ocidente, o representante-maior dos três ramos da armada sueca deixa um aviso em tom de conselho: “O Mar Báltico não pode ser transformado no recreio de Putin onde vai intimidar os membros da NATO”.

Momento em que a bandeira da Suécia foi hasteada pela primeira vez ao lado das bandeiras dos restantes membros da NATO. (AP)

A Suécia entrou para a Aliança do Tratado do Atlântico Norte a 7 de março, depois de ter efetuado um pedido de adesão conjunto com a Finlândia dois anos antes, na sequência da invasão russa na Ucrânia.

Durante 200 anos, a Suécia foi um país que assentava a sua política externa na neutralidade militar formal.

O que se passa no Mar Báltico e com as fronteiras marítimas russas?

O Ministério da Defesa Russo propôs a aprovação de uma lista de coordenadas geográficas que definem a largura da costa continental russa e das ilhas do Mar Báltico, algo que alterará a fronteira na região mais ocidental da Rússia, Kaliningrado, segundo um projeto de resolução reportado pela agência TASS.

"A aprovação da lista de coordenadas geográficas que definem as linhas base para medir a largura do mar territorial, da costa continental e das ilhas do Mar Báltico estabelecerá um sistema de linha base reta em falta na parte sul das ilhas russas no golfo oriental da Finlândia, perto de Baltiysk e Zelenogradsk, e permitirá que essas águas sejam utilizadas como internas", lê-se no documento, que explica ainda que "isto alterará a fronteira marítima estatal russa devido a uma mudança nos limites externos do mar territorial".

Já esta quarta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a expansão das fronteiras no Mar Báltico em torno do enclave de Kaliningrado “não é uma decisão política” e que se “prende com o nível de confrontação na região”.

O Kremlin revelou ainda que o aumento das tensões no Mar Báltico obrigou “agências relevantes” a dar passos extraordinários para garantir a segurança dos cidadãos russos na região.

Nas suas propostas de alteração, a Rússia também reconsiderou as áreas próximas às divisões do Cúronio e do Vístula e o Cabo Taran na fronteira com a Lituânia, segundo dá conta a agência TASS. 

"Escalada óbvia contra a NATO"

O primeiro país a reagir foi a Lituânia, já durante a manhã desta quarta-feira, através do seu  ministro dos Negócios Estrangeiros. Gabrielius Landsbergis acusou a Rússia de estar a delinear uma “operação híbrida” nas águas do Mar Báltico que visa escalar o conflito contra a União Europeia e a NATO. O responsável lituano, tal como o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Suécia, alertou o Ocidente: "Trata-se de uma escalada óbvia contra a NATO e a UE que deve ser enfrentada com uma resposta adequadamente firme".

“Está em curso mais uma operação híbrida russa, desta vez estão a tentar espalhar o medo, a incerteza e a dúvida sobre as suas intenções no Mar Báltico. Trata-se de uma escalada óbvia contra a NATO e a UE, que deve ser enfrentada com uma resposta adequadamente firme”, escreveu Gabrielius Landsbergis no X.

O primeiro-ministro da Finlândia também já reagiu ao anúncio russo sobre as fronteiras no Mar Báltico. Petteri Orpo assegura que Helsínquia vai acompanhar a situação de perto, mas garantiu: “Não estamos preocupados”.

"A Rússia não entrou em contacto com a Finlândia sobre este assunto. A Finlândia age como sempre: com calma e com base em factos", disse Orpo.

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